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O VALOR RELATIVO DO DINHEIRO


Diz o povo na sua sabedoria milenar que “quem trabalha por gosto não cansa”. Significa isto que é o prazer da realização que deve motivar-nos. Movidos pela paixão acabamos por chegar mais próximo e até atingirmos a perfeição. O nosso valor será então reconhecido e em troca teremos não apenas o reconhecimento e a admiração dos outros. É que isso não deixa de valer dinheiro, por vezes mesmo muito dinheiro.

Se assim fizermos, se nos dedicarmos a algo socialmente útil, seremos recompensados. Pode ser um salário como podem ser muitas outras formas de distinção que, direta e indiretamente, se transforma facilmente em dinheiro. Dinheiro que depois deveremos saber gerir e não nos deixarmos enfeitiçar por ele. 

Será pois desejável que centremos as nossas energias na conquista do reconhecimento e da recompensa mais do que na focalização do dinheiro. Se trabalharmos “apenas” para ganhar dinheiro ficaremos escravos dele. Todas as nossas energias serão para ele canalizadas, muitas vezes até ao esgotamento total. 

A busca pelo dinheiro – seja de que forma for – desestrutura-nos a alma e pode transformar-nos em vilões, em pessoas “avarentas” e preocupadas funcionando como peões do xadrez capitalista.

O dinheiro - e as suas diferentes formas de representação - é, para já, insubstituível. Sem ele não poderemos viver numa sociedade de troca. Daí o desespero de quem não consegue ter um emprego pois é uma das formas honestas de o obter.

Mas ter um emprego é algo mais do que um meio para chegar ao dinheiro. O trabalho, sobretudo o trabalho produtivo, é que é o garante da sobrevivência mas também da fama que tantos procuram. Daqui resulta que, se quisermos ser livres, deveremos centrar-nos no auto-desenvolvimento e na melhoria dos nossos recursos, habilidades e conhecimentos. Não tanto no dinheiro. Ele deve ser uma consequência.

É isso que nos tornará ricos enquanto pessoas independentemente do pouco ou do muito dinheiro que consigamos obter em troca do que fizermos.

Todos os estudos apontam para o facto de que, em menos de um ano, as pessoas que se tornam milionárias nos jogos de lotaria não se sentem mais felizes do que antes. Em muitos casos as suas vidas tornaram-se até mais complicadas e atormentadas. O valor do dinheiro é pois limitado.

Nelson S. Lima 

QUANDO OS LIMITES NOS TRAVAM


Herry Worsley, herói de nosso tempo!
Estou a escrever sobre o inglês Herry Worsley, de 55 anos, com experiência de combate na Bósnia e no Afeganistão. Já retirado do exército, dedicou-se, entre outras atividades, às grandes aventuras como aquela que fez dele o primeiro homem a ir sozinho do Canadá ao Pólo Norte (em 2003) e realiando também várias travessias no continente antártico.

Acompanhei as notícias da última aventura dele. O objetivo era chegar ao Pólo Sul caminhando sozinho cerca de 1 500 kms pelo grande continente gelado da Antártida tal como já fora tentado por Ernest Shackleton (em 1915).

Desta vez, a natureza foi mais impiedosa e já quase no fim da longa jornada ele atingiu o limite das suas forças. Ficou dois dias sem se poder mexer após o que morreria por esgotamento já no hospital de Punta Arenas, no Chile. Seria a jornada da sua vida, algo com que havia sonhado desde criança.

Antes de desfalecer ainda teve tempo de transmitir uma mensagem já com uma voz quase impercetível: "A minha jornada chegou ao fim. Fiquei sem tempo e sem capacidade física - "I have shot my bolt". Tinha estado 71 dias a caminhar penosamente contra as forças da natureza. Tudo terminou no dia 24 de Janeiro de 2016.

A sua determinação não deixará, porém, de inspirar outros a chegarem àquele difícil destino. O ser humano é assim mesmo: o desbravar horizontes, o alcançar metas e progredir em busca dos seus sonhos mais profundos.

Neste exemplo que aqui vos deixo, só a morte impediu este explorador de, finalmente, se tornar no primeiro a percorrer a Antártida a pé e chegar ao Pólo Sul. Ficou apenas a 48 quilómetros do objetivo.

Nelson S Lima

A IDADE DO CÉREBRO É IGUAL À IDADE DA MENTE?


Em boa verdade, não. Por isso é que há muitos idosos com uma mente inegavelmente jovem e muita gente nova mentalmente envelhecida. Pode parecer um exagero, até mesmo uma impossibilidade, mas não é. Mais: não se trata de uma fantasia mas de uma constatação que os estudos científicos têm vindo a confirmar sucessivamente.

Isto é muito interessante porque a mente deve ser daquelas poucas coisas do Universo que, com o avançar do tempo, em vez de envelhecer revela capacidade para se manter jovem, parecendo contrariar as leis da Natureza e da Vida.

Sabemos que, com o avançar dos anos, o corpo – onde se inclui o cérebro – vai sentindo os efeitos da chamada entropia (uma importante lei da Física que tem a ver com o desgaste e a perda de energia causada pelo tempo e por outros fatores nocivos como certos estilos de vida). É o que acontece aos diferentes órgãos do nosso corpo que, cada um no seu ritmo e ao seu jeito, vão perdendo o vigor da juventude e envelhecendo. Aliás, é um processo que começa bem cedo na vida mas de que as pessoas só tomam consciência sobretudo a partir da meia-idade.

Voltando ao assunto da mente. Quer se queira quer não - e por muito que se pretenda acreditar que o cérebro e a mente são domínios distintos de uma mesma realidade - uma coisa é um neurónio ou uma rede de neurónios (observáveis, mensuráveis, etc.) e outra coisa, bem diferente, é um pensamento, uma ideia ou uma recordação. Os neurónios são células e fazem parte do cérebro; os pensamentos, as ideias e as recordações são já do domínio da psique, ainda que esta apenas seja possível graças à atividade do cérebro. O cérebro é um órgão mas a psique (ou mente) é um campo de energia e informação (produzido por aquele).

Aqui chegados já começamos a vislumbrar a natureza da mente. Esta é estruturada e dinamizada pela experiência, os estímulos e as aprendizagens obtidas em cada instante da vida. Assim, quanto mais anos de vida tiver a nossa mente, mais experiência e mais informações podemos acolher, gerir e acumular mesmo que o cérebro vá perdendo neurónios que não escapam à tal entropia (a qual conduz à chamada morte neuronal, ou seja, a morte gradual dos neurónios que pode atingir 10% dos 100 mil milhões que formam os cérebros adultos).

Levar uma vida saudável (ativa, estimulante e criativa) revigora a mente, abre as portas a novos saberes e garante a agilidade do pensamento. Mesmo que o cérebro tenha 70, 80 ou 90 anos de idade, a mente da pessoa idosa não tem que ficar prisioneira do calendário. Ela pode sempre escapar à perda de vitalidade orgânica através do aprofundamento da sabedoria e da utilização das diferentes aptidões e capacidades (novas aprendizagens, saudáveis relações sociais, novas paixões e interesses, atividades produtivas, etc.). É assim que se constrói o chamado “envelhecimento ótimo”.

As mais recentes investigações científicas garantem que uma vida ativa e mentalmente produtiva também aumenta a longevidade. E isso acontece porque o que fizermos com as nossas faculdades mentais tem influência direta no estado do organismo. É por isso que a idade cronológica (aquela que celebramos em cada aniversário) não tem de forçosamente corresponder à idade mental.

Nelson S Lima

Envelhecimento, Longevidade e Imortalidade


Lembro-me de, quando era criança, acreditar que iria viver muitos anos porque achava a vida um processo muito interessante, merecedor de tempo suficiente para ser apreciado. Penso que essa minha esperança se devia ao facto de sempre ter vivido com meus avós e ainda por constar na família que uma minha trisavó teria chegado aos 120 anos de idade.

Talvez por isso eu viria a interessar-me por todas as ciências que direta ou indiretamente estudam o processo do envelhecimento e da longevidade - temas que abordo com alguma frequência no facebook (nelson.s.lima).

TEMPO DE VIVER MAIS
Com a melhoria geral da qualidade de vida nos últimos 100 anos, a esperança de vida humana subiu para valores nunca antes conhecidos. O número de idosos centenários e até supercentenários (mais de 110 anos) está também a aumentar em alguns países.

Esta capacidade de se poder viver mais tempo ainda é um dado frágil se bem que também o número de idosos ativos e saudáveis esteja a crescer. Os "truques" são simples e não passam de 3 ou 4 os fatores-chave que podem ser controlados, sendo um deles uma alimentação adequada.

Mas os cientistas já não se contentam com isso e muitos biólogos procuram entender os mecanismos do envelhecimento estudando não apenas os idosos excepcionais mas os animais que praticamente são imortais ou quase (pelo menos quando comparados connosco).

Atualmente são conhecidos alguns que vivem imensos anos, por vezes sem mostrarem sinais de envelhecimento, o que não deixa de surpreender.

O cardiologista e nutricionista francês Frédéric Saldmann, autor de vários livros sobre o assunto, revela alguns pequenos animais que se destacam pela sua resistência ao envelhecimento ou pela capacidade de viverem centenas de anos (existem outros animais, como algumas espécies de tartarugas, mas aqui são apenas considerados os “excecpionais”, uma classe à parte como poderão constatar).

São eles:
- o rato-toupeira africano que consegue viver 30 anos (o que equivale a 600 anos de vida humana) e que resiste a tumores malignos e a doenças cardíacas; 
- a rã "sylvatica" do extremo-norte do Canadá que é capaz de sobreviver completamente congelada por longos períodos (o seu corpo cria um tipo de gel natural que a protege); 
- alguns tipos de medusas que conseguem o extraordinário feito de rejuvenescer após cada reprodução mantendo-se imortais; 
- o molusco "arctica islandica" (foi encontrado um exemplar com 405 anos de idade) e, por fim...
- o minúsculo "urso de água" que consegue resistir a temperaturas extremas como 250 graus negativos ou 150 graus positivos e mesmo a fortes radiações (crê-se que este animal terá chegado à Terra num meteorito, o que abriu já uma nova linha de investigação sobre vida extraterrestre).

TEMPO DE VIVER MELHOR
O animal mais interessante para a compreensão do processo da longevidade e da imortalidade é o das medusas da espécie “turritopsis nutrícula” originárias dos mares das Caraíbas e que retomam a juventude após se reproduzirem. O que se passa com esse animal é ainda um mistério para a ciência. Como é que ele recupera de forma rápida a sua anterior juventude e assim se mantém imortal colonizando as águas profundas de todos os oceanos?

Existem várias teorias para além da curiosidade natural que este caso suscita. É óbvio que este molusco e os outros animais nada têm de semelhança com o ser humano e nada permite que da sua longa resistência e longevidade se possam tirar “lições” para o nosso próprio processo de envelhecimento. Seja como for, estes autênticos “fenómenos da natureza” abrem as portas para o estudo do envelhecimento, da longevidade e da imortalidade a vários níveis.

Relatos histórico-religiosos, embora não consistentes devido à falta de dados seguros, falam de alguns seres humanos que terão vivido centenas de anos. Abraão é um deles. Estaremos a entrar no campo da mitologia ou da pura especulação, mas há quem, na ciência, não ponha completamente de parte a hipótese da longevidade poder ter sido uma possibilidade em alguns redutos da humanidade em tempos recuados. O futuro talvez nos traga as respostas que faltam, incluindo a sua negação.

O médico Frédéric Saldmann que, como digo acima, faz investigação nesta área (e chamo a atenção que não é único) lembra, num artigo do número especial da Sciences et Avenir (Janeiro 2016), que em 1932, os mais respeitáveis cientistas garantiam que o homem nunca conseguiria chegar à Lua devido à força de gravidade da Terra. Todos sabemos como estavam longe da verdade.

NUNCA SE DIGA NUNCA
Ciência e descoberta andam de mãos dadas. A curiosidade e a motivação sempre foram os motores do desenvolvimento humano. E também se aplicam à longevidade.

As pessoas curiosas de saber e que perseguem propósitos bem definidos costumam envelhecer mais lentamente e com mais saúde, vencendo doenças e fragilidades que normalmente surgem com o avançar dos anos.

Há quem consiga, sem sombra de dúvida, retardar o processo do envelhecimento. Isso é um facto indesmentível pois os exemplos abundam e cada vez em maior número. Assim sendo, é lógico que se continue a investigar não apenas o envelhecimento humano como aquilo que se passa com outros seres vivos, incluindo aqueles que guardam o segredo da longa vida e até da imortalidade.

Nelson S. Lima

A EDUCAÇÃO QUE EU DEFENDO


Aprendi a ler na escola do Estado Novo (anos 50 e 60), acompanhei a escola de meus filhos mais velhos (anos 70 e 80), observei a escola de meus filhos mais novos (de 1997 até ao momento) e estive em mais 200 escolas onde dirigi workshops, seminários e sessões de esclarecimento para professores do ensino público e privado (a partir de 2002 e até muito recentemente).

Não vou criticar nada neste breve trecho. Venho aqui apenas defender uma educação para a Sociedade do Conhecimento, esta em que vivemos e que é dominada pelo "ciberespaço" de que faz parte a World Wide Web, essa imensa teia de ligações executadas na internet - o maior conglomerado de redes de comunicações à escala mundial. Ciberespaço significa o espaço virtual para a comunicação por meio de tecnologias de informação.

Temos pois o espaço físico onde nos movimentamos (o mundo das pessoas, dos objetos, das ruas, das cidades e das nações) e o espaço virtual (feito de vivências e comunicações não presenciais e não tácteis como acontece na internet).

Nós já estamos (agora mesmo aqui na internet) nesse mundo de transição mas as crianças e os adolescentes de hoje vão ter de viver num universo muito mais multidisciplinar, multifocal, de intensas e constantes comunicações, em que as ligações virtuais ocuparão um lugar de destaque. 

Aliás, este é um dos motivos porque o mercado de trabalho está também em ruptura com o passado e gera desemprego. Os computadores estão por todo o lado, incluindo nos nossos carros; há profissões em queda irreversível e há novos modos de produzir como acontece com o teletrabalho (é o meu caso).

Numa sociedade que tende para a diversidade (e não para a uniformização como muitos acusam) e a complexidade levanta-se uma pergunta: COMO DEVE SER A EDUCAÇÃO perante estes novos cenários de mundivivências?

Não me digam que aquilo que é preciso é "saber vários idiomas" pois não é por aí que se resolve a educação. O mundo é agora feito de outros problemas que a globalização criou (globalização que começou há muitos milhares de anos).

Depois da invenção do fogo, dos transportes, da escrita, da revolução industrial e do computador (que representaram outras tantas mudanças de paradigma) eis-nos perante novos desafios intelectuais, sociais, económicos, antropológicos, filosóficos e psicológicos.

A sociedade está finalmente unida em torno de um elo comum e que começa a fazer sentido: o factor "humanidade global", feita de gente planetária (como diz o filósofo P. Lévy), independentemente das linguas faladas e das grandes diferenças culturais e que cada vez mais está à distância do teclado de um computador ou de um telemóvel (celular) para se comunicar e trocar ideias, saberes e afetos.

PRECISAMOS de uma educação que compreenda que a sociedade, nesse capítulo, está mais adiantada do que nos parece. E a educação - cujos efeitos se fazem sentir anos depois e não tanto no imediato - deverá SER REVISTA para revelar aos nossos filhos o futuro (que já está aqui) e as suas múltiplas possibilidades.

Mantê-los aprisionados num sistema que tem mais de tradicional e conservador do que futurista é condená-los ao atraso face a outras sociedades onde os alunos têm do mundo uma visão mais completa e realista.

O assunto fica em aberto....

Nelson S Lima

PSICOLOGIA EXTREMA DA PERSUASÃO


Chama-se "túnel" ao processo de adesão incondicional a uma causa de tal forma que passamos a fazer parte de um mundo fechado e por vezes isolado com as suas regras, princípios, normas e obrigações e com as quais nos identificamos.

A entrada num desses "túneis" obriga-nos a despir o nosso ego e até perder um pouco da nossa identidade. Passamos a ter um número, uma alcunha ou qualquer outra identificação e a fazer parte de um grupo, uma seita, uma elite ou algo parecido. Entramos numa missão e tornamos-nos numa simples célula de um tecido maior onde as leis são muito próprias e inquestionáveis para manter a coesão do "grupo".

Nesta fase, entram em cena os rituais, hinos, cânticos, bandeiras e outros símbolos, obrigações e muito especialmente uma dedicação leal, indiscutível e insuspeita à causa. O transe hipnótico está muitas vezes presente.

A característica central do efeito de "túnel" é que ele separa os seus membros do mundo "exterior", libertando-os das amarras sociais em que estavam inseridos (familiares, amigos, etc.) e colocando-os numa posição de abnegação e subserviência aos ideais do grupo. As "deserções" são muitas vezes punidas, nos casos de grupos extremistas, com a morte.

Ao longo da história humana sempre existiu este efeito de "túnel" porque desde cedo se formaram organizações em torno das mais diversas causas. Esse tipo de organizações continua a proliferar, por vezes de forma secreta. O recrutamento faz-se hoje de forma mais direta e a internet é, por exemplo, um meio de captação. Muitos jovens aderem a "grupos" sem saberem que aquilo que buscam vai empurrá-los para um "túnel" que os engolirá como um "buraco negro".

Se há pessoas que sabem perfeitamente a que grupo ou causa estão a aderir, muitas outras, à procura de um abrigo para as suas carências e o seu isolamento social, acabam por ser apanhadas na rede como peixe indefeso. Entrarão no "túnel" e lá ficarão por tempo indeterminado. Uns sentir-se-ão felizes e integrados na disciplina e no espírito de missão a que aderiram. Outros talvez descubram, tarde demais, que o "túnel" é escorregadio e não permite voltar atrás. E que estavam (ou foram) enganados!

Nelson S Lima

NÃO PRECISAMOS DE MILAGRES!

SOMOS UM TODO INTEGRADO NUM TODO MAIOR

Sob o atual paradigma holístico (isto é, na perspectiva de que o mundo e a vida são um todo da qual tudo faz parte, tudo está integrado e tudo se processa em interdependência e inter relação), a psique não mais se pode apresentar como algo inseparável do corpo, do ambiente, da cultura, do lugar, da época e de muitos outros elementos e processos.

Como o nosso corpo/organismo é o resultado da atividade de vários sistemas interligados e interdependentes, convém perceber que a ideia de separação corpo-mente está visivelmente ultrapassada (chama-se a essa visão "dualista").

O nosso organismo não pode ser visto como independente das faculdades e processos mentais nem estas separadas do organismo. Tudo é energia e informação, ou seja, diferentes formas de energia e diferentes conteúdos de informação.

Matéria, vida e psique são, elas próprias, energias subtis que se manifestam de modo próprio. Servem-se de sistemas em atividade e mutação constante. Podemos dizer que são acontecimentos transitórios em que PROGRAMAÇÃO, INFORMAÇÃO, CONSCIÊNCIA e CONHECIMENTO se apresentam como seus principais constituintes.

Os eventos mentais - de que se ocupa a Psicologia - não estão isolados nem do resto do organismo nem do resto do mundo. A mente humana (à escala individual) não tem fronteiras e não está aprisionada no crânio. Ela faz parte do que hoje é conhecido como "consciência cósmica" (já referido por William James há muitos anos).

Principais aspectos a considerar:
- mente/organismo são inseparáveis (por isso todas as doenças são psicossomáticas e/ou somatopsíquicas, isto é, estão relacionadas: corpo>>mente e/ou mente>>corpo); não há separação;
- tudo é subjetivo;
- a mente é feita (processa-se) de acontecimentos (eventos);
- a mente individual - que se exprime através da linguagem, dos comportamentos, etc. - está ligada às outras mentes individuais;
- existem diferentes estados de consciência (e a realidade objetiva em que nos sentimos viver é função do estado de consciência em que nos encontramos);
- a psicologia não se confina às três dimensões do espaço/tempo;
- a mente (ou os eventos mentais) vive num campo de múltiplas possibilidades (quase infinitas);
- toda a nossa evolução pessoal não está confinada ao intelecto e ao emocional mas também ao instintivo, ao intuitivo, ao transpessoal e ao parapsicológico (fatores PSI e subfatores PES e PK de Rhine);
- possibilidade de vivências de realidades extra-sensoriais que explicam determinados acontecimentos até agora tidos como "milagres" (não há milagres mas transformações que resultam do campo aberto e ilimitado em que a mente atua);
- abertura da medicina corpo-mente a terapias não convencionais como a psicossíntese, a bioenergética, as terapias de transe, a hipnoterapia, a filosofia clínica, a terapia transpessoal, a síntese transacional, o yoga, o tai-chi, etc.);
- estudos sobre a cosmopsicologia (antiga astrologia) tornam-se cada vez mais aceites pela ciência do novo paradigma holístico como um campo de pesquisa a considerar.

Tudo isto reflete algo mais importante e revolucionário que se está a verificar para bem de nós todos: a ciência vive, finalmente, um mudança de paradigma, isto é, uma mudança dos princípios e axiomas básicos que a tem sustentado. Hoje, os médicos (e os psicólogos) devem orientar-se pelo princípio de que é mais fácil prevenir do que curar e também pela máxima de que, mais importante do que a doença, é o doente!

Por isso, é o doente como um todo que deve ser tratado e não apenas a sua doença, pois esta está relacionada até com a sua personalidade e muitos outros fatores pessoais, ambientais, estilo de vida, visão do mundo, etc.

Nelson S. Lima

O RETOMAR DA ESPERANÇA: A NOVA "NEW AGE"


Nos finais dos anos 70, a jornalista Marilyn Ferguson fez uma extensa investigação sobre as transformações pessoais e sociais que se estavam a operar no mundo. Recolheu imensos depoimentos e convenceu-se de que estávamos na alvorada de um salto para uma humanidade mais baseada no amor e na paz do que na competição e no materialismo reducionista.

A tecnologia progredia rapidamente e as pesquisas sobre o cérebro, a mente e a consciência estavam a romper com o desconhecido, abrindo portas para novos saberes até então tímidos e pouco consistentes. Muitos pensadores clamavam por uma nova sociedade, uma nova cultura, uma nova educação.

Parecia que, dispersos um pouco por todo o mundo, havia muita gente que estava tomar consciência da necessidade de uma mudança urgente do rumo que a humanidade estava a tomar (vivia-se o tempo da Guerra Fria, do Vietname e a sociedade mostrava algum cansaço).

Por essa época, Alvin Tofler já havia lançado o livro O CHOQUE DO FUTURO e preparava-se para publicar um outro, A 3ª VAGA (no Brasil, é A 3ª ONDA), em 1980 - obras também fruto de muita pesquisa e que traçavam o perfil de um novo tempo feito de muitas mudanças, que se aproximava a passos largos.

Marilyn lançou então o livro A CONSPIRAÇÃO AQUARIANA inspirada em pensadores como Thomas Kuhn, Ilya Prigogine (Prémio Nobel 1977, convicto, então, de que a humanidade se encontrava "num momento empolgante da história, talvez um momento decisivo"), Pierre Teilhard de Chardin e em muitos inconformistas e ativistas que queriam um mundo novo, mais democrático, mais aberto às novas possibilidades de expansão da consciência e do conhecimento.

Apesar do seu título um tanto esotérico, o livro de Marilyn reúne todo um conjunto dos inúmeros sinais de mudança em todos os setores da sociedade nos anos 80 - da ciência à política, da educação à transformação pessoal.

Quando comprei o livro ele já ia na 11ª edição no Brasil. Continua a ser para mim um livro de referência, altamente inspirador, tal com foram os livros de Alvin Tofler e de muitos outros pensadores.

Infelizmente, o entusiasmo e as esperanças de Marilyn mostraram-se excessivas pois as grandes transformações pessoais e sociais que ela previa foram-se esbatendo. Acontecimentos políticos (como a derrocada do socialismo e o desmantelamento da URSS) e mudanças em outros setores levaram outros autores como Francis Fukuyama (1989) a profetizarem a estagnação da sociedade e "o fim da história humana".

Depois disso, porém, outros pensadores como Ken Wilber, Amit Goswami, Bruce Lipton, Dalai Lama e Deepak Chopra entraram em cena retomando, em parte, as ideias contidas no livro de Marilyn Ferguson (que, entretanto, faleceu em 2008).

Atualmente, as consecutivas ondas de choque que assolam a humanidade têm vindo a gerar um sentimento de mudança urgente.

Relendo A CONSPIRAÇÃO AQUARIANA, pese o tempo já passado desde a sua publicação, tem-se a impressão que é preciso, sem dúvida, dar continuidade ao seu trabalho.

É tempo de um novo despertar, de um salto em frente. Cientistas e humanistas sabem disso (menos os políticos). A aceleração da história e dos próprios acontecimentos ao nível mais pessoal fazem crer que Marilyn tinha razão: a "transformação, a inovação e a evolução são as respostas naturais às crises". E, como escreveu John Naisbitt, autor de "Megatendências", Marilyn, apesar de ter sido considerada excessivamente otimista, estava muito à frente do seu tempo quando escreveu A CONSPIRAÇÃO AQUARIANA. O seu livro faz agora todo o sentido. Está mais atual do que nunca!

Não perder a esperança e lutar por um mundo diferente e melhor é o dever de cada um de nós. Recuperar o tempo perdido não é perda de tempo. E quanto aos pessimistas - que sempre os há - retomo John Naisbitt: "não são de utilidade nenhuma".

Nelson S Lima

SOBRE A LIBERDADE

A liberdade pode ter múltiplas interpretações e aplicações. Em nome dela muita agitação humana aconteceu ao longo dos tempos: guerras, revoluções, levantamentos populares, manifestações de protesto, leis garantindo liberdades e direitos, fugas (de casa, das escolas, das prisões), etc.

Não obstante, a liberdade que julgamos alcançar é causa de muitas frustrações. Porque o sujeito que é livre plenamente assume a responsabilidade pelos seus atos. E isso nem todos são capazes de assumir pelo que preferem a dependência de poderes superiores que os protejam e até ajudem a fazer escolhas. Há quem se dependure em Deus ou numa outra autoridade moral.

Sobre isso, o escritor norte-anericano Eric Hoffler, foi peremptório e disse: "a liberdade de escolha põe toda a culpa do fracasso nos ombros dos indivíduos".

Muitos de nós preferem viver numa aparente liberdade (convencidos da sua autenticidade) que lhes permita algum espaço de manobra em sociedade. Enfim, toda a liberdade é relativa.

Nelson S Lima

O Poder do Corpo


Assiste-se atualmente a um paradoxo: quanto mais avançamos no conhecimento e nos saberes sobre "qualidade de vida" mais se assiste à proliferação de muitas doenças que estão matando milhões de pessoas em todo o mundo (doenças oncológicas, cardiovasculares, etc.). São as chamadas "doenças da civilização" ou, para ser mais exato, "doenças de incompatibilidade" (onde também se incluem novas alergias).

Por que isso acontece? Há os que dizem que se deve ao facto de vivermos mais tempo e, sendo assim, ficamos mais expostos ao desgaste. Mas eu não concordo. Isso não é uma resposta que me satisfaça.

O que nós estamos fazendo é viver de forma anti-natural (80% do que nos alimenta é fabricado e manipulado para se conservar longo tempo, por vezes anos em embalagens duvidosas), seguindo estilos de vida marcados por alta pressão nervosa, dormindo pouco e a fora de horas, vivendo rodeados de poluição, ou seja, expondo-nos a situações que são incompatíveis com a natureza biológica do nosso organismo.

Não confiemos em que apenas o Poder da Mente vai proteger-nos contra todos os malefícios e resolver todos os problemas do corpo e da vida. Grave engano.

O verdadeiro Poder da Mente sobre o organismo está em sabermos introduzir mudanças de hábitos e padrões de comportamento que protejam nossas células, nossos órgãos e nossa vida. Ele existe, ele pode ser poderoso, ele pode ajudar, mas não descuremos a realidade: somos seres vivos e nosso corpo segue as leis da natureza e não as leis dos homens (que são leis de natureza cultural).

Nunca se esqueça do Poder do Corpo para poder ter uma vida saudável, longa e equilibrada. Pense nisso.

Nelson S Lima

Como desenvolver a vontade!


A concretização da vontade - que a psicologia associa à motivação - não é coisa fácil, por vezes. Ter vontade é uma dimensão mais complexa do que parece. Filósofos como Schopenhauer, Kant e Nietzsche dedicaram-lhe muita atenção.

No essencial, a vontade é uma energia mental direcionada para algo. Às vezes é instintiva. Outras vezes, intencional e consciente. A instintiva está frequentemente ligada às estratégias de sobrevivência (a vontade de comer, por exemplo). A intencional pertence aos domínios do desejo e da necessidade.

A vontade só se cumpre através de estratégias. Ela exige processos cognitivos como analisar, optar e decidir. Mas isso é apenas o começo pois a vontade pode morrer antes mesmo de se cumprir.

A pessoa pode ter "vontade de" mas falta-lhe algo mais: podem ser recursos, falta de oportunidade e também energia emocional suficiente para dar o passo seguinte. E as coisas também não terminam aqui pois a vontade está relacionada com valores, hábitos, crenças, princípios e até normas socioculturais da pessoa.

Embora a "força de vontade" tenha algo de biopsicológico (o temperamento tem aqui uma palavra a dizer pois o temperamento é a estrutura biológica da personalidade) e, por isso, esteja dependente da nossa natureza emocional (o indivíduo apático, por exemplo, tem quase ausente essa tal "força de vontade" enquanto o impulsivo perde-se com sucessivas "vontades de" que vai abandonando por perda de motivação) é algo que também pode ser aprendido se a desenvolvermos como um hábito.

Nos primeiros anos de educação podemos (como pais ou como professores) ajudar as crianças a desenvolverem a capacidade de lidar com "desejos", "motivações" e "escolhas".

As nossas crianças têm hoje em dia quase tudo aquilo que querem. Isso é errado. Não desenvolve nelas a "vontade". Elas querem e elas recebem. Deveriam aprender a assumir suas vontades (brincar, estudar, etc.) e aprender a não desistir à mínima contrariedade.

Se isso não acontecer poderão tornar-se adultos sem grande força de vontade para superarem metas e objetivos. Deixarão de desenvolver a capacidade de iniciativa e de empreendedorismo, tão necessárias no mundo atual e futuro.

Os pais têm, nesse capítulo, um papel decisivo. Uma vida familiar organizada, com objetivos, uma disciplina flexível, planos e projetos pelos quais todos lutem irmanados num espírito de entreajuda é uma forma acessível de desenvolver a "força de vontade" e também o carácter.

Nelson S Lima
Texto do meu livro "Evolução e Mudança"

INTELIGÊNCIA E EMOÇÕES NAS EMPRESAS


Documento integral da minha entrevista dada à jornalista Amanda Gomes (www.tematica-rs.com.br), Brasil.

O que significa ser inteligente no ramo empresarial?
Nelson S Lima: A complexidade das organizações empresariais exige faculdades pessoais e competências profissionais que assegurem uma elevada performance. Os mercados mostram-se crescentemente exigentes devido a fenômenos como a globalização, a vertigem da mudança de paradigma nos negócios, a eclosão de uma diversidade enorme de nichos de mercado, as flutuações e incertezas próprias de uma economia fragilizada por sucessivas crises, tudo isto obriga os profissionais a terem um preparo psicológico de alto rendimento e resistência (física, emocional e intelectual).

- A inteligência está ligada ao sucesso? Por quê?
NSL:Neste cenário de complexidade, a inteligência se perfila como uma faculdade que deve ser levada em consideração e trabalhada. Três tipos de inteligência são requeridas no mundo dos negócios: a analítica, a executiva e a inteligência de risco as quais, no seu conjunto, podem ser consideradas como essenciais para o sucesso. Esta inteligência integral focalizada em três grandes áreas não dispensa, naturalmente, habilidades como a regulação emocional para uma boa gestão da ansiedade, do stress, dos relacionamentos humanos e do equilíbrio corpo/mente. Na inteligência se destaca também a necessidade de aprimorar o senso crítico e  uma boa organização mental que permita elaborar um eficaz mapeamento das múltiplas tarefas e etapas de todos os processos empresariais e negociais.

- No momento de fechar um negócio, que ponderações são consideradas inteligentes?
NSL: A ponderação é a mãe da boa tomada de decisões, sobretudo tendo em consideração que no mundo dos negócios existe também muita subjectividade. Essa subjectividade resulta de problemas vários que estão sempre presentes nas atividades humanas como o acaso, a surpresa, a falibilidade e o imprevisto. Assim sendo, a ponderação apela a nossa capacidade de "juízo crítico" (competência intelectual para fazer boas avaliações das situações), a reunião de informação considerada essencial, o foco nos pontos críticos e decisivos e o distanciamento emocional (para evitar decisões precipitadas e forçadas por emoções indesejáveis). Por fim, é necessário assegurar uma outra aptidão que tem sido descurada: trabalhar dentro de um horizonte de tempo que permita agir mentalmente num futuro não-improvável. Que significa isto? O horizonte de tempo é a capacidade que nos permite trabalhar com indicadores que nos forneçam elementos sobre o "amanhã". Um bom exemplo de um indicador é a análise de tendências. Outro é o "ciclo de vida" dos mercados em que trabalhamos (em que ponto eles estão e qual a "esperança de vida" deles).
Esta atenção cuidada pode evitar ser-se apanhado de surpresa, por exemplo, por um mercado em "fim de vida" apesar dos bons desempenhos que ainda reflitam vitalidade, mas que dispensam novos investimentos avultados. Uma boa "varredura" que ajude à elaboração regular de análises estratégicas a mercados, produtos e outros elementos é também uma ferramenta indispensável do decisor inteligente.

- Em momentos decisivos, que importância tem a inteligência?
NSL: É nos momentos decisivos que a inteligência (que é muito mais do que a habilidade para resolver problemas) se mostra de crucial importância. A pessoa menos dotada será mais lenta e indecisa em situações críticas. Uma boa destreza e flexibilidade mental, uma abertura para o novo (exigindo pensamento criativo) e uma capacidade de se focar no essencial combinados com boa formação cívica e profissional, experiência significativa e personalidade empreendedora fazem da inteligência um instrumento de sucesso. Ou seja, a inteligência, pese embora a sua importância, deve ser sempre acompanhada de mais atributos para um alto desempenho.

- As emoções podem atrapalhar a inteligência?
NSL: No capítulo das emoções, o ponto ideal é o equilíbrio. Emoções extremas (positivas ou negativas) podem, sim, atrapalhar a afirmação de comportamentos inteligentes, nomeadamente as tomadas de decisão.
O estado atual do universo dos negócios exige pessoas qualificadas e com um perfil psicológico adequado às funções (analíticas, executivas ou estratégicas) que lhes sejam atribuídas. Uma boa administração do tempo, da saúde (com especial relevo para uma alimentação nutritiva) e das relações humanos ajudam também a uma maior dinâmica profissional. 
Todo o profissional deve pugnar por uma boa saúde emocional, sendo preferível afastar-se do seu trabalho até se sentir capaz quando está sofrendo de problemas que o tornem agitado, inseguro, ansioso ou desmotivado. Pessoas carregando estresse crónico ou vivenciando sentimentos depressivos podem tomar decisões erradas, por vezes com grandes perdas para a empresa e gerando, depois, sentimentos de culpa e outras consequências mais ou menos graves para elas.

Nelson S Lima

O que influencia nossa personalidade?


O que faz alguém de índole calma ter uma explosão de violência? Como surge a homossexualidade? Por que algumas pessoas se tornam líderes enquanto outras, igualmente inteligentes, têm um destino medíocre?

Explicar o comportamento humano em seus diversos aspectos - no círculo de amizades, no trabalho, no amor, na fé religiosa - sempre foi um desafio para psicólogos e cientistas. Até hoje, as pesquisas sobre o tema produziram duas correntes antagónicas, que contrapõem a natureza e o ambiente social. De um lado estão os defensores da tese de que todos nascem iguais e a personalidade é formada pela aprendizagem e pelas experiências pessoais. Do outro lado, crê-se que os traços da personalidade são definidos pela herança genética, assim como a cor dos olhos.

Uma série de descobertas recentes terminou com essa discussão. A ideia de que só o ambiente ou só o DNA forma a personalidade foi substituída por outra mais flexível. Todo comportamento tem um componente genético, mas a sua manifestação depende de factores ambientais/sociais. Sob essa visão, genética e sociedade interagem para moldar o jeito de ser de cada pessoa.

AS TRÊS FONTES DA PERSONALIDADE

A revolução nos conceitos da chamada genética do comportamento, nome dado à ciência que estuda a influência dos genes na personalidade, ocorreu por causa dos avanços na engenharia genética e na biologia molecular. Os cientistas são capazes de fazer uma busca minuciosa em todo o genoma e encontrar regiões com genes capazes de influenciar o comportamento humano.

Essas regiões podem ser identificadas em análises de amostras de sangue de irmãos ou familiares com os mesmos traços psicológicos. Já foram encontrados genes e regiões genómicas que tornam as pessoas mais vulneráveis a adoptar comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também já foram detectados genes relacionados com a orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo.

Os pesquisadores advertem que possuir esses genes não significa que a pessoa necessariamente desenvolva o comportamento ligado a ele. Não existe total determinismo genético, apenas predisposição. Os genes podem se expressar ou não. Alguns são ligados ou desligados pela própria dinâmica do genoma. Outros, pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em que a pessoa vive.

Um estudo do Instituto de Psiquiatria do King's College de Londres encontrou dois genes que actuam na libertação de neurotransmissores no cérebro. Esses genes são responsáveis pela depressão e pelas atitudes anti-sociais, mas só se manifestam em pessoas expostas a situações de grande stress, como perda de emprego ou morte de familiares.

Conclusão: ter predisposição genética à depressão não leva ninguém a ficar deprimido. O mesmo acontece com os distúrbios alimentares. Cientistas da Universidade da Carolina do Norte identificaram regiões genéticas similares em amostras de sangue de mais de 400 pacientes com anorexia ou bulimia. Os mesmos marcadores apareceram em pessoas sem os distúrbios, o que comprova a acção do ambiente.

Recentemente, investigadores do Instituto de Psiquiatria de Londres encontraram regiões do genoma que podem influenciar a inteligência. Um gene chamado LIMK1 produz uma proteína que ajuda a desenvolver a cognição espacial. As pessoas que têm esses genes levemente alterados também são inteligentes, mas não têm habilidades para desenho, por exemplo. Outro gene, o IGF2R, está associado à alta inteligência - a sua existência acarreta 4 pontos a mais no QI do portador.

A tendência para o suicídio também já foi identificada no genoma. Cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, descobriram que pacientes portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina, o neurotransmissor que causa sensação de bem-estar, apresentavam duas vezes mais risco de cometer suicídio.

A descoberta de genes que influenciam aspectos específicos da vida é o que há de mais novo na genética do comportamento. Grande parte das características humanas, porém, é produto de muitos genes - e não de apenas um, como ocorre com a maioria dos traços físicos e doenças.

O fator biológico determina a "personalidade recebida". Dela fazem parte os elementos principais e duradouros como são as funções intelectuais básicas e o temperamento. 

A psicóloga americana Judith Rich Harris foi uma das primeiras pesquisadoras a tentar medir a importância da genética, da família, do círculo de amizades e das experiências pessoais na formação da personalidade.

No seu livro No Two Alike (Não Há Dois Iguais) a Dra. Judith diz que os nossos genes serão responsáveis por cerca de 40% do que somos. Em segundo lugar vêm os amigos, a maior influência que recebemos. E, por último, a família. No caso dos pais, façam o que fizerem, eles não são capazes, sozinhos, de evitar (ou de os proteger) de outras influências muito poderosas e que vêm das comunidades em que os filhos estejam inseridos (localidade, escola, círculo de amigos, etc.).

Por exemplo, a maneira como somos vistos por nossos amigos faz com que passemos a investir em determinados comportamentos. Se o grupo costuma rir das brincadeiras de uma criança, ela se percebe como uma pessoa divertida e tenta repetir esse jeito de ser, incorporando-o para o resto da vida.

Mas nem todos os traços de personalidade, porém, sofrem influência tão marcante das experiências pessoais. Já se comprovou que o desenvolvimento da inteligência depende em grande parte de um ambiente familiar que a estimule. Os geneticistas estimam que, em breve, será possível rastrear regiões genómicas em quantidade suficiente para conseguir mais do que pistas sobre a influência dos genes no comportamento. Graças à associação da psicologia e da genética, está aberto o caminho para elucidar a anatomia da personalidade.

EM CONCLUSÃO

Todos os nossos comportamentos são pois ditados por diversos fatores, desde os biológicos aos sociais. O social é um fator a considerar. Praticamente tudo o que somos, fazemos e como fazemos acontece no que se designa "campo social". Vivemos numa densa rede de influências e, como refere o filósofo espanhol J.A Marina, assim como as recebemos, também nós exercemos "influências educativas, boas ou más, por ação ou por omissão".  Um velho provérbio africano diz isso mesmo: "Para educar uma criança é preciso a tribo inteira".

Tudo isso resulta na "personalidade aprendida" onde se incluem os traços mais estáveis e duradouros, e que se adquirem mais fortemente até ao fim da adolescência.

Por fim, genes e aprendizagens, contribuindo para a personalidade, deixam ainda espaço para o que Marina designa por "personalidade escolhida" - aquilo que, juntando hábitos, carácter e comportamento, desenha o nosso perfil final (mas não finito nem inflexível pois estaremos sempre mudando ao longo da vida tendo como base ou ponto de partida as nossas estruturas biológicas e genéticas).

Nelson S Lima 
in "Evolução e Mudança", de Nelson S Lima, Ed. Ômega, Lisboa, 2016

"EVOLUÇÃO E MUDANÇA" (meu novo livro)


Foi lançado em Junho de 2016, meu novo livro. Seu título é "EVOLUÇÃO E MUDANÇA", da Editora Ômega, Lisboa.
Este livro reúne, em 300 páginas, 60 artigos escritos em diversos suportes (blogues, revistas, jornais, etc.) nos últimos três anos e pretende ser o ponto de partida para meu PROJECTO EVOLUÇÃO E MUDANÇA: actividades de autoconhecimento e promoção do desenvolvimento pessoal que se concretizará através de workshops, palestras motivacionais e outros meios, especialmente no Brasil, aproveitando minha ligação à Unifuturo - Faculdade de Ensino Superior do Nordeste (Paraíba).

A EUFORIA DO EMPREENDEDORISMO


Tem havido uma verdadeira euforia no que respeita ao tema "empreendedorismo". É um dos temas da atualidade que, sobretudo nas áreas dos "novos negócios", tem merecido grande destaque na imprensa e em programas de TV.

Na generalidade, a ideia é fomentar iniciativas que visem a criação de empresas de "grande potencial". Os jovens têm sido aliciados a entrar na onda quer através de algumas organizações que nasceram para isso mesmo quer através dos Governos que desejam apostar em ideias empreendedoras que agitem a economia (e façam baixar o desemprego).

O entusiasmo vai ao ponto de muitos jovens apostarem as suas carreiras (abandonando empregos seguros ou desviando-se dos seus cursos universitários) em negócios de todo o género e feitio, por vezes excessivamente irrealistas e visivelmente utópicos.

Sabe-se há muito tempo que a probabilidade de sucesso de novos negócios é muito baixa. E quando eles têm como ponto de partida ideias que pouco ou nenhum aproveitamento garantem aos seus promotores (exceto na cabeça deles) a fracasso é muito mais viável do que o desejado êxito.

GARANTIA DE SUCESSO? UMA INCÓGNITA

Felizmente, um dia destes um jornal português divulgou uma iniciativa muito útil e oportuna: a de uma organização que coloca frente-a-frente casos de "insucesso" e em que os intervenientes contam as suas desventuras. E não são poucos, como seria de esperar.

É uma "chamada à realidade" para os mais jovens que acreditam que basta ter uma boa ideia e capital para se lançarem na aventura do empreendedorismo. Nada de mais errado. Lamentável é existirem organizações que se aproveitam da ingenuidade de muitos para serem elas a ganharem dinheiro.

Os jovens que se cuidem porque o mercado, o mundo e a época não permitem escorregadelas, algumas de consequências bem melindrosas. E não se deixem levar por tentações fáceis sem estarem devidamente preparados e informados.

Lembro, a título de exemplo, que mais de 90% das "startups" (empreendimentos inovadores) tecnológicas fracassam nos primeiros anos de funcionamento.

Muitos dos sonhos que ficam pelo caminho deixam marcas dolorosas nos envolvidos (e nos bolsos dos investidores).

Sejam empreendedores, sim, mas com realismo quanto baste e com a devida preparação e lucidez (que é coisa rara). Nos negócios não há milagres. Há mais do que isso.

A ARTE DE BEM JULGAR

O saber fazer juizos é uma capacidade inerente à inteligência. Significa julgar, formar opiniões, chegar a conclusões. 

A todo o momento produzimos juizos, isto é, apreciações seguidas de conclusões. Com essa capacidade aprofundamos a nossa relação com o mundo. Todavia, como muitos outros, é um processo mental muito subjetivo. 

Existem dois tipos principais de juizos: juizos de valor (que fazem a distinção de uma qualidade de outra qualidade de algo ou de alguém) e juizos de existência (sobre a realidade objectiva ou subjectiva que nos é dada observar e perceber).

Podemos falar ainda de "juizo crítico" como um processo de avaliação e elaboração de algo ou situação particular comparando os valores relativos dos diferentes aspectos envolvidos. Exige uma boa dose de informação e de conhecimento a respeito do que ajuizamos (julgamos) e um bom trabalho de gestão desses recursos.

A nossa capacidade julgar é afetada pela natureza da nossa personalidade, das nossas capacidades intelectuais, dos estados emocionais, de factores culturais e sociais, etc.

Mas aprofundemos mais o tema. Para se ter uma boa capacidade de tecer juizos é necessário que, previamente, a pessoa tenha uma outra aptidão intacta: é o chamado "insight" - capacidade de estar consciente de si mesmo e do mundo externo. Inclui por conseguinte o auto-conhecimento e envolve os sentidos, a perceção, o pensamento, as emoções, etc.  O "insight" não é uma função psíquica única sendo modelado pelos mecanismos de defesa, a personalidade, as circunstâncias sociais, a educação, o estado de saúde, etc. (com efeito, um bom "insight" pressupõe a integridade das funções cognitivas).

Uma pessoa com um bom "insight" utiliza o conhecimento, integra-o e interpreta-o pelo que faz uso do chamado "pensamento conceptual de alto nível". Sem um bom "insight" não formulamos bons juizos, equilibrados e sensatos.

Num mundo cada vez mais complexo e em que a informação se renova e amplia a todo o instante, a capacidade de tecer juizos e opiniões é igualmente cada vez mais solicitada. Isso aumenta a nossa responsabilidade por tudo aquilo que pensarmos e dissermos acerca das pessoas e dos acontecimentos.

Infelizmente, essa capacidade não está distribuida de forma equilibrada na população. E num mundo em que toda a gente opina sobre tudo e mais alguma coisa (veja-se o que se passa, por exemplo, na atividade política) convém estarmos preparados para sermos bons "juizes".

Nelson S Lima 

O PARADOXO DA INTELIGÊNCIA


Poderá parecer exagero dizer-se que existem centenas de formas para se ser bem sucedido, nomeadamente na resolução de problemas. Todos nós temos várias aptidões que poderão ajudar-nos nesse desafio.

Um dos problemas mais comuns é que as pessoas tendem a usar apenas duas ou três dessas capacidades e, devido a certos hábitos mentais, costumam aplicar a mesma fórmula para problemas diferentes. Ora, se pensarmos bem, descobrimos que cada problema exige abordagens, estratégias e esquemas de raciocínio diferentes.

A questão principal centra-se naquilo que entendemos por inteligência. Um estudo da psicóloga Carol S. Dweek levou-a à conclusão de que não é a inteligência propriamente dita que ajuda a resolver os problemas MAS a maneira como nós escolhemos o tipo de inteligência e aptidões que interessam em cada caso.

É por isso que nem sempre as pessoas com alto nível de inteligência resolvem melhor os problemas. Costumam confiar em demasia em si mesmas. Aliás, por vezes, não se convencem dos seus erros pelo que faz com que insistam neles.

Já as pessoas com um desenvolvimento cognitivo dentro do que se poderá classificar de "médio" são muitas vezes melhor sucedidas na vida porque são mais flexíveis, mais práticas, mais experimentadas, mais criativas e mais ousadas. E não pensam muito na inteligência. Limitam-se a usarem-na sem preconceitos nem excessos de confiança.

O filósofo Jacob Pétry chamou a este cenário cognitivo de "paradoxo da inteligência" já que contradiz a crença de que as pessoas altamente inteligentes são melhores a resolver problemas e a terem mais sucesso na vida. 

Ora a prática revela que a inteligência é de grande utilidade mas não é infalível até porque cada problema envolve muitos fatores e uma ginástica mental apropriada.

Convém sublinhar que a inteligência - que assume diversos tipos e envolve muitas aptidões mentais - pode ser treinada para se tornar melhor e mais eficiente. O lugar privilegiado para o fazer é na escola.

As crianças deveriam ser ensinadas a descobrir os seus talentos intelectuais e serem encorajadas a explorar as múltiplas potencialidades com que nasceram (infelizmente, a educação, por vezes, exerce um efeito contrário bloqueando essas mesmas potencialidades).

Nelson S Lima

ESTAR OU SER CONSCIENTE DE SI?

EU sou EU? Descobri esta pergunta num texto de Nicholas Humphrey, psicólogo, doutorado em Fisiologia, autor de vários livros sendo um deles "A História da Mente" (1992) a quem o conhecido e controverso filósofo Daniel C. Dennett "acusa" de ser um "cientista romântico".

Voltemos ao tema da pergunta desta nota. E regressamos com outra pergunta de Nicholas: "Como podem um corpo e um cérebro humanos serem também uma mente humana?".

Para dar uma resposta convincente, Nicholas estudou vários anos. Repito: estudou vários anos. Estas coisas que nos parecem do senso comum são, porém, bastantes complexas e não podem ser resolvidas com uma resposta intuitiva que nada diz sob o ponto de vista da verdadeira Ciência.

A pergunta poderia ser respondida por filósofos, especialmente os que se dedicam ao estudo da mente. Mas, Nicholas é psicólogo e investigador. Desenvolveu uma teoria que chamou de "consciência reflexiva". Quando escreveu os livros Consciousness Regained (1983) e The Inner Eye (1986) o famoso biólogo evolucionista Richard Dawkins declarou, entusiasmado: "Acho que ele acertou em cheio! Temos por fim a resposta para uma grande questão: como evoluiu a consciência humana!".

Afinal, o próprio Nicholas verificou que estava ainda tudo por resolver. Diz ele que a consciência pode existir a níveis muito baixos, sem existir reflexão, como uma experiência do ser em bruto, a sensação do tempo presente e sensações primitivas como as proporcionadas pelos sentidos. Ou seja, pode-se ser consciente com um mínimo de informações sensoriais. Ele chama a isso o "momento espesso" da consciência. É o que acontece quando uma pessoa se sente viva e viva no momento presente sentindo o mundo à sua volta.

A questão que ele levanta é o da qualidade das sensações recebidas. São essas que permitem a sensação consciente. O seu trabalho em laboratório deu-lhe pistas. Estudou a preferência estética dos animais. Descobriu, por exemplo, que os macacos gostam do azul/verde forte, não apreciam o amarelo, o laranja e o vermelho e o azul acalma-os. Percebeu que os macacos são muito mais sensíeis às cores do que os seres humanos e que, por outro lado, são insensíveis aos sons musicais preferindo o silêncio.

Mais tarde propôs que os constituintes básicos da consciência são os sentimentos e as sensações em bruto (aproximando-se do que António Damásio defende). Para Nicholas a consciência é "a reação imediata do corpo aos estímulos". Já para o seu colega Daniel Dennett esses constituintes são as ideias, os juizos e as predisposições pelo que a consciência só ocorre depois da mente ter construído uma história e "ter feito um relatório".

Diz Nicholas: "Eis o meu modelo de realidade: eu sou eu. Estou a viver uma existência corporizada, no momento espesso do presente consciente" e cita um poema de E.E.Cummings:

"Como o sentir está primeiro
quem presta atenção
à sintaxe das coisas
nunca beijará inteiramente".

O biólogo Francisco Varela (já falecido) não achou a explicação de Nicholas muito convincente. Mas concordou que a ideia de usar a experiência direta - as sensações - para descrever os processos cerebrais da consciência foi muito esclarecedora. Para Varela o "sentido do Eu existe porque nos dá uma interface com o mundo". Embora a consciência do EU não exista como substância, ele acontece como resultado das permanentes interações com o mundo.

Quando perdemos a consciência o que acontece? Deixamos de interagir com o mundo. Quando esta interação reaparece, a consciência apodera-se de nós. Voltamos a estar conscientes. Tal como aconteceria com qualquer outro animal. Só que nós vamos mais longe do que os outros seres vivos: como temos uma autoconsciência (que Augusto Ciury chama de "consciência existencial") sabemos quem somos.

Mas ainda subsistem muitas dúvidas nesta matéria. Sabemos o que é a consciência e o que é a autoconsciência. Não temos, porém, ainda respostas para perguntas como as que o professor de biologia cognitiva e comportamental Christof Koch, do California Institute of Technology, lançou recentemente na revista Scientific American.

Diz ele que, apesar dos cientistas estarem a revelar a base material da mente consciente (usando recursos como a ciência da informação e a matemática!) falta ter certezas sobre questões como:

- um paciente gravemente doente pode estar consciente?
- um feto não tem ainda consciência?
- quando é que um recém-nascido adquire consciência?
- um cachorro tem autoconsciência como "ser pensante"?
- e quanto à internet, com seus milhões de milhões (bilhões) de computadores conetados, poderá um dia adquirir consciência?

Um dos atrativos da Ciência é levantar questões e lançar dúvidas mesmo sobre matérias dadas como adquiridas. As respostas sucedem-se umas às outras. Quanto mais forem, mais próximos ficamos da verdade. Mesmo sabendo que, pelo caminho, se cometem muitos erros. Mas vale mais isso do que mantermo-nos na ignorância, defendendo, por vezes, ideias absurdas e obscuras.

Nelson S Lima

Imaturidade Humana


A lista das nossas fraquezas é enorme e elas ocorrem todos os dias, em todos os lugares do mundo e nos mais diversos contextos. É verdade. Somos uma espécie animal estranha porque é a única capaz de maltratar, enganar, roubar, escravizar e matar os seus próximos. Molestamos crianças, elas que são a garantia da nossa continuidade. Desprezamos e abandonamos idosos e incapacitados. Tivemos 5 mil guerras em 3 mil anos, duas das quais de âmbito mundial. Isto é assustador.

E, no entanto, também somos perfeitamente capazes de comportamentos altruístas, compaixão, solidariedade, empatia, amizade e amor além de exercermos tantas aptidões artísticas, tecnológicas e científicas que chegámos ao século XXI usufruindo de uma série de benefícios que se repercutem positivamente na qualidade de vida de um número crescente de pessoas!

Este comportamento contraditório e ambivalente tem levantado inúmeras suspeitas sobre a verdadeira natureza humana. Quem somos, afinal? Qual parte de nós é que é verdadeira? Em que parte do caminho, ao longo da história, falhámos? Somos um erro da natureza?

SOMOS SERES VIVOS NO PRINCÍPIO DA SUA HISTÓRIA
Sobre isto muito se tem pensado e escapam as respostas que nos satisfaçam. Admitimos, na pior das hipóteses, que temos as duas facetas: que somos capazes do melhor e do pior. Que é sorte quando tudo corre bem. Que é azar quando as coisas correm mal.

Alguns, mais benevolentes, apontam o dedo à educação. Que é na educação que está a resposta. Outros, que é na boa religião. Não creio que seja em qualquer delas. Até porque quer a educação quer a religião já produziram monstruosidades em todos os tempos.

Penso nisto há muito, talvez desde a minha adolescência. E procuro a resposta. Porque tem de haver uma resposta.

A mais óbvia e cientificamente correta é que somos seres com uma curtíssima história. Os nossos antepassados mais remotos apareceram apenas há 2 milhões de anos e mantiveram-se num estado primitivo quase todo esse tempo (para os menos habituados a estes números lembro que só aparecemos na Terra mais de 66 milhões de anos depois da extinção dos dinossauros).

A nossa espécie despontou há apenas 200 mil anos e com características que ainda possuímos. Fomos povoando a Terra lentamente enquanto íamos aprendendo a viver nas mais diversas condições. Foi somente há 5 mil anos que erguemos a primeira povoação digna de se chamar cidade (Jericó, na atual Palestina). Cristo só apareceria três mil anos mais tarde.

Ainda há 100 anos, apesar da expansão industrial, a maior parte do mundo vivía em plena Era Agrícola, em condições deploráveis, com uma esperança de vida baixíssima e uma elevada mortalidade infantil. As doenças contagiosas eram a principal causa de morte (só a peste pneumónica de 1918-1919 matou mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo).

Ou seja, a nossa própria história, tão cheia de acontecimentos, é muito curta no tempo. Biologicamente falando, somos uma espécie muito recente que ainda está em desenvolvimento (geneticamente lento mas mental e culturalmente rápido e muito diversificado levando ao que se tem chamado de "choque de civilizações" ou "conflitos culturais").

ENTRE EXTREMOS
Somos maus e somos bons. Somos estúpidos e somos inteligentes. Campos aparentemente contraditórios devido ao emaranhado de instintos e emoções que nos obrigam a comportamentos egoístas mas também colaborativos porque somos uma espécie que vive em sociedade, com uma tendência tribal, e que se serve da inteligência para melhor chegar aos seus fins (individuais ou coletivos).

Um dos mais notáveis biólogos e naturalistas do mundo, Edward O. Wilson, autor de mais de 20 livros como "A Diversidade da Vida" ou "A Conquista da Terra", diz que temos de ser assim mesmo porque "os nossos instintos continuam a não estar preparados para a civilização". Concordo. Vejo isso todos os dias.

Também não sabemos nada sobre o nosso futuro mas Wilson explica que teremos de viver num equilíbrio instável, talvez sem chegarmos ao extremo de formarmos bandos de egoístas dependentes de interesses pessoais e tribais nem ao limite de nos comportarmos como formigas totalmente controladas pelas regras inflexíveis da sua colónia, sem espaço para a liberdade e a criação.

Dependeremos cada vez mais do sabermos equilibrar instintos, emoções e inteligência na certeza de que a nossa evolução como humanos é um esforço tanto pessoal como coletivo.

Os genes mantêm-nos humanos iguais aos nossos ancestrais de há 100 ou 50 mil anos se bem que, algures no tempo, nos tivéssemos libertado do determinismo biológico e adquirido a capacidade de escolher o nosso caminho (o livre-arbítrio). Todavia, cada dia verificamos que temos necessidade de aprender a fazermos cada vez mais BOAS ESCOLHAS que sirvam a cada vez mais ampla e complexa sociedade humana.

A nossa estrutura mental ainda continua em desenvolvimento. Estamos longe do patamar seguinte, seja ele qual for. Somos, enfim, uma espécie muito jovem, ainda em busca de respostas, tateando e aprendendo num mundo cada vez mais complexo e incerto. A evolução cultural é que poderá livrar-nos da extinção (se exceptuarmos qualquer catástrofe natural de dimensões extraordinárias).

Viver tornou-se num enorme desafio à nossa inteligência individual e coletiva.

Nelson S Lima

Você conhece os seus limites?


O perigo maior no mundo de hoje tem origem quer no excesso de estimulação quer nos problemas adaptativos relacionados com a mudança (uma característica da vida). Nosso organismo tem uma margem de segurança ampla e por isso nós até somos capazes de nos surpreender com as suas possibilidades de resistência quando enfrentamos algum desafio insuperável para outras pessoas.

Nós vivemos num ambiente sobrestimulado no capítulo sensorial, especialmente estímulos visuais e auditivos. Esta sobrecarga em todo o mundo urbanizado e industrializado está afectando milhões e milhões de pessoas, incluindo nossos filhos. Vivemos numa sociedade cheia de luz, brilho, sons e movimento. Da sociedade pacata dos tempos antigos passámos para uma sociedade que chega a ser desconfortável pelo excesso de estímulos díspares e caóticos.

PENSAR RÁPIDO. AGIR DEPRESSA.
Em nossa época, o bombardeamento dos sentidos não está sozinho. Temos também de enfrentar a aceleração do pensamento e a necessidade de tomarmos decisões rápidas. A aceleração do pensamento é forçada pela quantidade de informações que recebemos e que nosso cérebro tem de processar. A tomada de decisões urgentes resulta do estilo de vida (e de trabalho) que levamos. Ou seja, temos de perceber, pensar e agir rápido sobre um número enorme de questões que exigem resposta.

Nelson S Lima

CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

A propósito deste tema, Harold S. Kushner, autor do livro best-seller "Quando Acontecem Coisas Más às Pessoas Boas" escreveu, num outro livro, mais recente, "Saber Viver Num Mundo Incerto", o seguinte: "o desaparecimento dos seres humanos do nosso planeta implicaria o desaparecimento de Deus" (pág.104). Kushner é um rabino, um famoso homem da Igreja.

Também a propósito de um outro livro fantástico, de Alan Weisman, "O Mundo Sem Nós" (2007), Kushner diz que "num certo sentido, a questão não é se Deus salvará os seres humanos da extinção, mas se os seres humanos salvarão Deus de desaparecer em resultado da sua autodestruição (pág.105).

Finalmente, Kushner, que foi premiado pela Igreja Católica, afirma: "Se retirarmos os seres humanos do planeta, também retiramos Deus" e "um mundo sem pessoas seria um mundo sem Deus".

Como é óbvio, Kushner fala do Deus criado pelo Homem, aquele em que as pessoas crêem porque precisam de acreditar para se sentirem mais seguras. É o resultado da nossa pequenez perante os grandes medos da Humanidade como a doença e a morte (ver nota que escrevi sobre o assunto) que levaram os antigos a procurar deuses e depois um Deus Superior e único.

Eu creio que as pessoas estão de boa fé ao acreditarem e seguirem o "seu" Deus. Mas penso (reparem que não digo "acredito") que o "Deus" de que os crentes falam é uma outra instância que está para além de tudo quanto possamos imaginar, para além da minha compreensão.

Autores como Deepak Chopra defendem um conceito de Deus que é mais próximo do meu. Para aquele autor, Deus é algo mais do que o Deus popular que as pessoas adoram com alguma idolatria ingênua pelo meio. Deus é a inteligência que está por todo o Universo, por todo o mundo conhecido e desconhecido. É a essência da Vida. É imaterial. É pura energia e informação.

Atrevo-me a dizer que quando os estudiosos observam as estrelas mais afastadas do Universo ou quando investigam os processos que ocorrem em cada célula dos organismos vivos eles estão muito mais próximos de "ver Deus" do que aqueles que a ele rezam todos os dias.

Por isso é que cada vez mais pessoas dizem, sem complexos, que a Ciência e a Espiritualidade andam de mãos dadas (ainda que os seus agentes teimem em dizer que não).

Ora, a meu ver, não há oposição. A VIDA, como eu a entendo, tem os dois "campos de ação" entrelaçados: o espiritual (imaterial) e o científico (material). É por isso que há, muitas vezes, "milagres" e outros eventos que não entendemos ainda. E muitas mais horizontes que desconhecemos por enquanto.

Ver as coisas deste modo, obriga-nos a ter uma mente aberta. Sejamos crentes, ateus ou agnósticos.

Nelson S Lima

Com a verdade me enganas?


Este é um tema complexo embora lidemos todos os dias com ele: o da "verdade". De forma simples e imediata nós entendemos como verdade aquilo que se pode provar. A verdade é algo factual, que pertence ao mundo do objetivo, do concreto, do específico. Aliás, antigos filósofos, como os estóicos, diziam que a verdade é do domínio da ciência, do conhecimento. Pode ser contestada mas não perde a sua essência: a verdade é sempre verdade. Se assim não fosse pertenceria ao domínio do "falso", da "mentira" ou do "engano".

Lidar com a verdade é um exercício complexo. É que, para muitas pessoas, a verdade está colada a alguma forma de crença. Se uma pessoa acredita que algo corresponde à verdade é difícil, por vezes, fazê-la crer que pode estar enganada. Só que o problema é mesmo complexo porque quem nega uma verdade que outro defende pode estar enganado. E então quem tem razão? O que deve prevalecer perante duas verdades em que, hipoteticamente, uma delas não é verdade?

ESTAMOS SEMPRE SUJEITOS AO EFEITO PLACEBO

Um exemplo muito corrente é o das testemunhas de acidentes. Cada uma delas tem a sua verdade e está disposta a jurar por ela. Quando alguém diz falar a verdade quando todos os outros dizem ter verdades que são distintas da sua gera-se a confusão. É por isso que os tribunais se enganam muitas vezes nos seus juízos. E os jornais também. E todos nós.

Durante séculos prevaleceram "verdades" reconhecidas por autoridades que se assumiam "donos do saber", como foi o caso da igreja católica. A inquisição - polícia religiosa - não tinha problemas em perseguir e aniquilar quem tentasse ou teimasse afirmar que o que era propagado como verdade não passava, afinal, de um erro e era, por conseguinte, "falso". Na ciência também ocorre muitas vezes.

Nas relações humanas, a verdade anda sempre de mãos dadas com a crença (do género "eu acredito que é verdade"), os erros de percepção (o nosso cérebro engana-nos frequentemente e os mágicos sabem muito bem como trocar as voltas à nossa visão fazendo-nos acreditar em algo que não passa de um truque). Aliás, o nosso cérebro, na ânsia de encontrar referências, chega a construir modelos mentais que não passam de ilusões de ótica. E em casos patológicos, temos as alucinações.

A verdade também pode ser compreendida na ótica do observador. Eu posso estar perante uma verdade com força científica que ulteriores observações vão pôr em causa. É assim que muitas vezes o conhecimento avança.

O perigo da verdade é agarrarmos-nos de forma definitiva ao que os nossos sentidos e o nosso entendimento nos fazem crer. Há muitos estudos científicos que demonstram como é fácil as pessoas terem como verdade apenas aquilo em que acreditam e nada mais.

O efeito placedo (usado em testes médicos e também em marketing) é uma das provas mais fiáveis de fazer acreditar em algo que não passa de um embuste. O hipotético medicamento a quem o investigador atribui efeitos curativos leva o sujeito testado a sentir melhoras que são geradas pela mente e não pelo falso remédio. A verdade é que muitas vezes o efeito placebo funciona. É assim também que a publicidade funciona. Onde está a verdade? Ou há mais do que uma verdade num mesmo facto?

VIVER COM CERTEZAS

No dia a dia é importante vivermos com certezas. Seria impossível vivermos num mundo em que tudo nos causasse dúvida por falta de garantias quanto à verdade com que precisamos de lidar. Mas, de facto, o tempo acaba por nos abrir os olhos e verificar que nem sempre o que nos pareceu verdade numa determinada altura não passou de uma não-verdade (talvez uma outra verdade mas não a esperada).

Não gosto muito das pessoas que estão cheias de certezas. Eu também tenho certezas e uma delas é que posso estar enganado! E isso faz toda a diferença  pois estou sempre disponível para rever as minhas anteriores "verdades" e certezas.

Nelson S Lima