PODEMOS MELHORAR AS EMOÇÕES?
Numa época caracterizada por medos, incertezas, pensamentos acelerados, angústias e depressões, "treinar a emoção é desenvolver as funções mais importantes da inteligência tais como aprender a gerenciar os pensamentos, proteger a emoção dos focos de tensão, pensar antes de agir, se colocar no lugar dos outros, perseguir os sonhos, valorizar o espectáculo da vida" - escreve A. Cury no prefácio do livro "Treinando a Emoção para Ser Feliz".
Há, nesta obra, uma advertência muito curiosa e oportuna: "muitos livros de auto-ajuda vendem uma ideia inadequada do que é ser feliz" - escreve Cury. "A felicidade - diz ele - tem muitas filhas e filhos: o amor, a tranquilidade, a sabedoria, a alegria, a paciência, a tolerância, a solidariedade, o perdão, a perseverança, o domínio próprio, a bondade, a auto-estima. Nunca se viu uma família tão unida!".
E essa unidade aqui descrita através dos nomes dos seus vários membros (amor, alegria, perdão, etc.) não pode ser desfeita. "Se você maltratar alguns dos seus membros, tem grande chance de perder a família toda" - adverte Augusto Cury.
De forma que a melhor maneira de você cultivar a felicidade é "aprender a conhecer o mundo da emoção". Veja: a felicidade, diz o mestre, é amiga do tempo e nós precisamos de tempo para treinar a emoção. Mas, como treinar a emoção? Não são as emoções demasiado biológicas, arreigadas em nosso organismo e nossa psique, para poderem ser treinadas? Sim, as emoções são feitas de estruturas pesadas.
O medo, por exemplo. É uma emoção básica, essencial à vida. Em doses normais, o medo apenas aparece quando se justifica. Ajuda a nos proteger contra os perigos. Mas, quando incentivado por uma sociedade complexa como a nossa, o medo pode tornar-se num monstro horrível e aniquilar nossas potencialidades para sermos felizes (você sabia, por exemplo, que 1% das crianças têm medo de aprender assuntos novos?)
Parece estranho quando sabemos como as crianças são curiosas e gostam de aprender. Pois é. Mas há crianças que têm medo que as coisas novas que vão aprender na escola lhes tragam surpresas desagradáveis e abalem as suas crenças e como vêem o mundo. Preferem o "estado de ignorância". Infelizmente, muitos adultos também sofrem do mesmo problema e optam por manter-se incultos e analfabetos, recusando novos saberes que poderiam enriquecer suas vidas.
As emoções podem ser chamadas de "básicas" ou primitivas quando, como o medo ou a ira, vêm inscritas em nosso código genético como instrumentos de defesa e sobrevivência. Nascemos com elas. Outras, como a vergonha, são aprendidas. São emoções de 2º nível. Adquirimo-las ao longo do nosso crescimento através da interacção social com os outros. Veja como os outros podem então ser determinantes para a nossa vida emocional: podem fazer-nos sofrer ou fazer felizes. Podem ajudar-nos a sermos senhores de nossas emoções ou escravos delas (pais e professores tenham cuidado com o que dizem às crianças!).
Para que possamos viver mais felizes, Augusto Cury ofecere-nos algumas dicas precisosas. Veja:
- não faça o velório antes do tempo, não sofra por antecipação (os que sofrem por antecipação treinam ser infelizes, gastam uma energia vital, fazem de suas vidas um canteiro de preocupações e stress);
- não faça de sua vida enocional uma lata de lixo social; proteja-se dos focos de tensão, não permita que as perdas e as frustações invadam sua vida;
- não seja carrasco de si mesmo (não seja ambicioso ao ponto de colocar metas inatingíveis para si, não tenha medo de falhar e errar, proiba-se a si mesmo de sentimentos de culpa e nem cobre dos outros o que eles não podem dar!).
Nelson S. Lima
COMO UM ALUNO BRINCALHÃO SE TORNOU FAMOSO
1. Já todos viram ou ouviram falar da série televisiva
"Os Simpsons" (veja a ilustração). Ela teve início em 17 de Dezembro de 1989, nos Estados
Unidos e rapidamente alcançou o sucesso, sendo passada em muitos países. Foi
considerada a melhor série do século XX pela revista "Time" e tem
ganho inúmeros prémios.
2. Recuemos uns anos. Matt Groening era um aluno obscuro. Na
escola distraía-se a desenhar "bonecos". Mais tarde tornar-se-ia
cartoonista vivendo precariamente com o que lhe era encomendado.
3. Um dia, o canal de televisão Fox convidou-o para criar
uma curta animação. Ele pensou em algo que, de imediato, percebeu que não
condizia com aquilo que a empresa pedira. E o maior problema é que ele tinha
apenas uns minutos para encontrar uma solução. Estava na sala de espera da sede
da Fox.
4. Foi ali e naqueles momentos que teve a ideia de sugerir
um filme sobre uma família disfuncional. Mas faltava-lhe o título. Foi quando
lhe ocorreu dar-lhe o nome de alguns dos seus familiares: Simpsons!
5. A ideia foi aprovada e a primeira animação foi concluída
em Abril de 1987. Depois evoluiu para a conhecida série com o mesmo nome e que
deu também origem a livros e a brinquedos com todo o sucesso que lhe
conhecemos.
Esta breve história de vida de Matt Groening é idêntica a
muitas outras. Alunos que passam despercebidos acabam por superar mais tarde os
colegas de maior sucesso na escola.
Neste caso, o talento de Groening assentava sobretudo no seu
espírito brincalhão. Ele dizia que nunca deixara de ser criança e que isso
acelerava a sua criatividade.
Numerosos estudos atestam que o bom-humor e a brincadeira,
mesmo nos adultos, tem numerosos efeitos positivos, desde a saúde ao trabalho.
O caso que deu origem aos "Simpsons" é um dos mais interessantes.
Nelson S Lima
Os homens mentem mais, mas as mulheres...
Por muito que queiramos erradicar a mentira da sociedade,
ela acontece muitas mais vezes do que poderemos imaginar e veio para ficar. Há
mais população, mais complexidade, maior competição.....Ora então, isto são
condições ótimas para a proliferação da mentira.
Até ao momento, todos os estudos revelam que o ser humano
usa a mentira como instrumento social a fim de obter algum benefício. O
problema é que todos somos mentirosos e nem os "santos" escaparam.
Há mentirosos compulsivos mas todas as outras pessoas,
frequentemente, fogem à verdade, aos factos, mentindo. Numa simples entrevista
de emprego as pessoas mentem para valorizar a sua imagem. Por exemplo, todas as
pessoas entrevistadas dizem-se sociáveis e capazes de trabalhar em equipa.
Neste caso, cerca de 30% mentem pois são introvertidas, tímidas e não gostam de
trabalhar em grupo.
Há grandes mentiras e pequenas mentiras. Há mentiras
perigosas e mentiras inofensivas. Seja como for, elas fazem parte dos
relacionamentos humanos e muitas delas são apenas formas de fugir às
responsabilidades. É o caso da pessoa que chega atrasada a uma reunião matinal
e culpa o trânsito quando, na verdade, simplesmente se levantou tarde.
Não fiquemos surpreendidos. Outros primatas também usam da
trapaça para enganar os seus companheiros. Truques, engodos e fingimentos são
usados para arranjar parceira sexual ou para alcançar uma posição hierárquica
no grupo. A mentira tem uma origem animal, biológica.
A MENTIRA HUMANA É PERIGOSA
O problema com o ser humano é que ele pode levar a mentira
ao extremo e causar grandes danos, mesmo tendo consciência disso. Os
psicopatas, que não se compadecem com os outros, usam a mentira e a falsidade
com extrema habilidade.
Como para dizer uma mentira temos de reprimir uma verdade é
difícil, por vezes, sustentar o engano. E é isso que leva a que,
inadvertidamente, os mentirosos sejam desmascarados em muitas situações. Mas
muitas mentiras (algumas de grande impacto histórico) nunca chegam a ser
desmascaradas.
Há vários estudos científicos muito interessantes sobre esta
matéria. Um deles confirma que os homens mentem mais do que as mulheres. Um dos
momentos altos da mentira masculina é na sedução. Fiquem pois atentas, minhas
amigas. E, senhores, acautelem-se. Tenho aqui um outro estudo que diz que as
mulheres são boas detetoras de mentiras.
Nelson S Lima
EDUCAÇÃO SOCIAL
Sendo os humanos seres sociais, o seu cérebro possui
estruturas e padrões de funcionamento adaptados desde longa data para a
interação, a comunicação e a expressão emocional.
Mesmo durante a nossa vida, o cérebro, estando programado
para a socialização, pode ser ajustado para um melhor funcionamento nas
interações com os outros. A neuroplasticidade - que dá ao cérebro a
possibilidade de se adaptar, aprender e modificar-se - tem aqui um papel
crucial, sobretudo nos primeiros anos de vida e também durante toda a vida, com mais ou menos amplitude.
Alguns "defeitos" estruturais e funcionais levam a
que certas pessoas tenham comportamentos anti-sociais que não são diretamente
devidos a uma educação deficiente ou omissa.
Não obstante, o papel do ambiente social sobre o comportamento
e o cérebro não deve ser descurado. A educação pode, assim, ajudar a mudar o próprio cérebro
fazendo reajustes (mais ou menos limitados, naturalmente) para que ele se torne
mais "sociável" favorecendo boas relações humanas e contribuindo para
a saúde social e para o conforto emocional.
Nelson S Lima
PORQUE FICAMOS DOENTES?
É durante a infância que nos livramos de muitas doenças na vida adulta! |
Com o desenvolvimento da sociedade industrial e a ampliação do
tempo de atividade, os seres humanos passaram a andar, em geral, descoordenados
do seu relógio biológico. E então temos atualmente uma sociedade ensonada e
cansada na maior parte dos dias.
Viajamos de noite, divertimo-nos de noite, dormimos de
dia, trocamos as horas de comer e sofremos de "jet-lag" (que
significa uma descompensação horária originando uma extrema fadiga decorrente de
alterações no ritmo circadiano). Com isto estamos, muitas vezes, a submeter o
nosso organismo a um stress tal que pode fazer perigar a nossa vida.
Como já vimos, cada sistema do nosso
organismo tem o seu ritmo biológico. Num organismo saudável o conjunto de
ritmos estão coordenados, o que permite que o corpo responda com eficácia a
todas as variações ambientais. Uma boa noite de sono é reparadora e permite um
dia em que o desempenho é mais elevado do que num dia em que dormimos pouco.
Mesmo dormindo de dia a recuperação nunca é total porque o sono diurno é
diferente do sono noturno.
Os efeitos cognitivos do ritmo biológico são
também notáveis. Por exemplo, a eficácia da concentração e da memória não
dependem apenas da motivação e do empenho mas também das horas do dia. É depois das 10 da manhã que a aprendizagem é
mais fácil. À tarde funciona melhor a memória de longo prazo. Em alguns
sujeitos é por volta das 20 horas que o estudar é mais produtivo.
De facto, a concentração aumenta lentamente
ao longo do dia e diminui depois das 21 horas atingindo o seu ponto mais baixo
entre as 3 e as 5 horas da manhã - precisamente o período em que, comparativamente
ao que se passa de dia, há maior probabilidade de acidentes rodoviários.
Também sabemos que a concentração no
sangue de várias hormonas como o
cortisol, a testosterona, a adrenalina e a noradrenalina é menor precisamente
nos picos de fadiga.
Por sua vez, a ingestão de tranquilizantes ou
de estimulantes conforme a hora do dia vai também alterar o ritmo biológico do
cérebro e os efeitos dos químicos ingeridos. Há situações em que ficamos
próximos da toxidade máxima correndo perigo de vida sem darmos conta. Será
necessária uma educação médica sobre a matéria para que se consiga obter a
melhor conjugação entre a ingestão de alimentos e medicamentos e as horas de
receptividade ideal do organismo.
Concluindo, a toda a hora o nosso metabolismo
apresenta uma dinâmica de acordo com o relógio da vida. Não há ainda aparelhos
que permitam dizer-nos com exatidão quais as horas do dia, do mês e do ano em
que estamos mais aptos a lidar com os diferentes componentes da vida. Embora
saibamos que o Inverno "mata" mais do que o Verão ou que o álcool de
manhã é mais tóxico para o organismo do que de madrugada (embora de noite tenha
um efeito mais perigoso no cérebro reduzindo a capacidade de reflexos) o resto
é ainda uma grande incógnita tanto mais que cada pessoa tem caraterísticas
individuais únicas.
A minha sugestão é que adotemos tanto quanto
possível um estilo de vida que nos aproximem dos ritmos e dos ambientes
naturais. Somos seres vivos e não máquinas. Estamos sujeitos às leis da vida e
não às da morte mas frequentemente estamos mais perto da condenação à finitude
do que da energia que nos fornece vitalidade. Neste capítulo, o
auto-conhecimento é de uma importância vital!
Nelson
S Lima
VIVER ENTRE INSTINTOS E INTELIGÊNCIA
Existem muitas coisas na vida que, já estando registadas no
cérebro, não devemos interferir pois acabaremos por sabotá-las. Muitas outras
merecem que façamos uma reavaliação sob pena de nos deixarmos ultrapassar por
acontecimentos novos e, num instante, ficarmos confrontados com mais problemas.
Existem "forças" no cérebro que estão em
permanente confronto. As mais resistentes são as antigas, têm centenas de
milhões de anos de evolução e estão na base do cérebro (os instintos são um bom
exemplo). As mais frágeis estão no topo do cérebro, têm apenas algumas centenas
de milhares de anos, no máximo um milhão de anos, quando surgiram os primeiros
hominídeos de quem descendemos.
Quando enfrentamos problemas novos a razão (resultante do
cérebro superior) pode ditar-nos uma decisão mas os registos antigos (inscritos
nas zonas baixas do cérebro) podem tentar contrariar-nos. É por isso que a
publicidade é direcionada para as zonas antigas e inconscientes do cérebro pois
é mais suscetível de nos influenciar do que o pensamento crítico e racional. É
assim que acontecem as compras e as decisões impensadas, feitas por impulsos
inconscientes e destituídas do filtro da razão. Depois do neuromarketing surgiu agora o paleomarketing que ensina os vendedores a conhecerem os nossos desejos instintivos!
Se o cérebro trabalha assim, devemos então aprender a
desenvolver o juizo crítico, o pensamento elevado e a atenção concentrada. Mas
- e nestas coisas há sempre um "mas" - devemos ter também em
consideração os limites da nossa própria consciência. É que a consciência nem sempre
nos revela a realidade total mas apenas fragmentos ou, pior ainda, ilusões
cognitivas e erros de percepção (veja-se como os bons ilusionistas nos
conseguem "enganar").
Viver em sociedades complexas como as nossas está a exigir
cada vez mais capacidades das pessoas mas parece que estamos a claudicar, a
sermos incapazes de manter o equilíbrio ideal (vejam-se os comportamentos das
pessoas, cada vez mais stressadas, ansiosas, aceleradas, inseguras, viciadas
num série crescente de defesas).
Quem disse que a vida é fácil, enganou-se. Não é fácil. É um
permanente desafio à nossa resistência (física, emocional e cognitiva).
Nelson S Lima
O MUNDO NÃO EXISTE
Segundo o jovem filósofo Markus Gabriel
(considerado uma revelação e um menino-prodígio), esta coisa da vida é mais
complicada porque... O MUNDO NÃO EXISTE. Ou talvez exista mas não como o
pensamos.
Não nos inquietemos. No seu livro "Porque o mundo não
existe" (2014), o autor apazigua-nos de qualquer sobressalto e declara,
afinal, que "o nosso planeta existe, tal como existem os meus sonhos, a
evolução, os autoclismos, a queda de cabelo, a esperança, as partículas
elementares e até mesmo os unicórnios na Lua, só para citar algumas
coisas". Ou seja, "o princípio de que o mundo não existe significa
que TUDO ISTO EXISTE MAS DE MANEIRA DIFERENTE".
Sem entrar em detalhes nem análises sobre o livro, aquilo
que resultou da minha leitura, é que nós vivemos em muito mundos e não apenas
num (aquele que julgamos ser "o mundo" que nos ensinaram a
"ver").
Ora o mundo, por exemplo, não é o Universo. O Universo é apenas
uma parte do mundo tal como eu e você, ou uma bactéria, ou uma poeira, somos
parte de um mundo qualquer.
O mundo, segundo o princípio defendido por Markus Gabriel, é
TUDO onde também cabe o dito universo onde brilham as estrelas. Mas este TUDO
(conceito que se aproxima do de Ken Wilber com o seu "Kosmos") inclui
até os nossos pensamentos mesmo que ninguém os veja (os pensamentos realizam-se
no mundo mental e, por isso, afastados da nossa capacidade de os olhar de
frente ainda que possamos pensar sobre eles - já ouviu falar em "pensar
sobre o pensar"? - é isso, e chama-se metacognição).
Se existem muitos mundos que fazem um mundo enorme em qual
deles vivemos? Vivemos num só ou vivemos em vários? Temos o mundo das ideias, o
mundo das emoções e sentimentos, o mundo das crenças, o mundo das políticas, o
mundo das coisas materiais, o mundo das coisas imateriais e por aí adiante. São
muitos os mundos que cruzamos ao longo da vida e que fazem de nós pessoas
únicas pois cada um desses mundos é vivido de forma particular. Nós mesmos
somos um mundo.
Hoje vivemos tempos atribulados e excitantes, feitos de
incertezas e contradições, o que traz para primeiro plano uma crescente
sensação de desorientação que tem como resultado, por exemplo, o
desenvolvimento de doenças como a depressão (considerada já a doença mais
disseminada nas sociedades industrializadas e urbanizadas com 2/3 da população
já afetada).
Parece-me que, à medida que avançamos no tempo, mais
complicado ele se apresenta e quando isso acontece temos problemas de
orientação. Já não sabemos o que é verdade ou o que é real pois as fronteiras
entre a mentira, a ilusão e a alucinação começam a esbater-se cada vez mais.
Por isso é que anda por aí cada vez mais gente confusa e enganada, tomando
decisões com base em quase nada mais do que emoções desencontradas da
inteligência (aqui entendida como discernimento).
Naveguemos (na vida) com cautela.
Nelson S Lima
O QUE PODEMOS GANHAR COM A SERENIDADE?
Vivemos em constante agitação. Podemos pensar que estamos
isentos da sua influência mas é de todo impossível evitarmos que este mundo tão
turbulento e tão rápido na produção de novos acontecimentos (políticos,
sociais, tecnológicos e outros) não deixe as suas marcas na nossa vida.
Estive hoje a pesquisar sobre o stresse e há cada vez mais
consenso entre os diferentes investigadores que o stresse, nas suas diferentes
formas, pode ser extremamente perigoso. Ele não apenas sujeita o organismo a
uma pressão bem perceptível como também atua de uma maneira silenciosa, discreta
e sem que tenhamos percepção do problema. O seu antídoto é a serenidade
espiritual.
A serenidade é um estado do nosso ser que devemos praticar
para fugirmos ao sofrimento da angústia, da inquietude e da intranquilidade. A
serenidade é, em rigor, uma atitude perante a realidade da vida e que tem a vantagem
de nos permitir avaliar objetivamente o que nos rodeia e aquilo que nos
acontece. Ela também abre espaço a múltiplos valores e potencialidades que
poderão nunca se revelar sob o efeito do stresse, da ansiedade e da angústia.
Só serenamente poderemos aceder à perspicácia e até ao pleno
uso da inteligência. Assim, a serenidade é um recurso humano que, mais do que
nunca, deveremos exercitar. Ela é como o sol que rompe e vence o nevoeiro que
tantas vezes paralisa a nossa vida.
Nelson S Lima
MEU NOVO LIVRO EM CONSTRUÇÃO
Nosso cérebro: uma obra de engenharia biológica! |
1ª Parte O UNIVERSO DAS NEUROCÊNCIAS
Depois
da "década do cérebro", nos anos 90 do passado século, que permitiu
grandes avanços no conhecimento, estão agora a ser investidos bilhões de
dólares em grandes projetos envolvendo instituições internacionais como a União
Europeia, governos e instituições privadas. Destacam-se o Human Brain Project's financiado pela União Europeia, The BRAIN Initiative promovido pelo
Governo dos Estados Unidos da América, o Human
Connectome Project e o Allen Human
Brain Atlas, os quais reúnem milhares de cientistas de diversas áreas desde
a Antropologia à Biologia Evolutiva.
Os
novos conhecimentos obtidos sobre o sistema nervoso têm permitido a expansão da neurociência aplicada a novos campos do universo
humano como a neuroeducação, a neuroeconomia, o neuromarketing, a neuropolítica
além das mais variadas aplicações médicas.
2ª Parte A
MARAVILHA DO SISTEMA NERVOSO
Três
características do sistema nervoso se destacam dos demais sistemas orgânicos: a rapidez
de ação, a flexibilidade e a adaptabilidade.
O
cérebro desenvolve-se através de um processo dependente da experiência e da
estimulação. Ao longo da vida acumula um acervo formidável de conhecimentos que
são registados num complexo sistema de memórias.
O conhecimento das estruturas do sistemas
nervoso e de como interagem desde o interior das diferentes células neurais
até aos grande grupos (redes) de células nervosas (neurónios, neuroglias, etc.)
é imperativo para o avanço da ciência e da sua aplicação em diferentes áreas.
3º Parte NASCIMENTO E MORTE DO CÉREBRO HUMANO
O
sistema nervoso forma-se cedo, no início da gestação, e desenvolve-se em
diferentes ritmos conforme as várias etapas da vida revelando uma plasticidade
extraordinária e uma interação ativa e necessária com o ambiente.
As
funções do sistema nervoso são cruciais para a formação e desenvolvimento de
todo o organismo e para os posteriores confrontos com os diferentes desafios da
vida que ocorrem ao longo da infância, da adolescência, do amadurecimento
adulto e da terceira e quarta idades.
O "envelhecimento cerebral" poderá ser um período longo de mais de 30 anos com maior ou menor perda de capacidades devido ao aumento da esperança de vida. Nesta fase da vida, o sistema nervoso e em particular o cérebro estão sujeitos a numerosas anomalias e doenças.
O "envelhecimento cerebral" poderá ser um período longo de mais de 30 anos com maior ou menor perda de capacidades devido ao aumento da esperança de vida. Nesta fase da vida, o sistema nervoso e em particular o cérebro estão sujeitos a numerosas anomalias e doenças.
Nelson S Lima
O VALOR RELATIVO DO DINHEIRO
Diz o povo na sua sabedoria milenar que “quem trabalha por
gosto não cansa”. Significa isto que é o prazer da realização que deve
motivar-nos. Movidos pela paixão acabamos por chegar mais próximo e até
atingirmos a perfeição. O nosso valor será então reconhecido e em troca teremos
não apenas o reconhecimento e a admiração dos outros. É que isso não deixa de
valer dinheiro, por vezes mesmo muito dinheiro.
Se assim fizermos, se nos dedicarmos a algo socialmente
útil, seremos recompensados. Pode ser um salário como podem ser muitas outras
formas de distinção que, direta e indiretamente, se transforma facilmente em
dinheiro. Dinheiro que depois deveremos saber gerir e não nos deixarmos enfeitiçar por ele.
Será pois desejável que centremos as nossas energias na
conquista do reconhecimento e da recompensa mais do que na focalização do
dinheiro. Se trabalharmos “apenas” para ganhar dinheiro ficaremos escravos
dele. Todas as nossas energias serão para ele canalizadas, muitas vezes até ao
esgotamento total.
A busca pelo dinheiro – seja de que forma for –
desestrutura-nos a alma e pode transformar-nos em vilões, em pessoas
“avarentas” e preocupadas funcionando como peões do xadrez capitalista.
O dinheiro - e as suas diferentes formas de representação - é,
para já, insubstituível. Sem ele não poderemos viver numa sociedade de troca. Daí o desespero de quem
não consegue ter um emprego pois é uma das formas honestas de o obter.
Mas ter um emprego é algo mais do que um meio para chegar ao
dinheiro. O trabalho, sobretudo o trabalho produtivo, é que é o garante da
sobrevivência mas também da fama que tantos procuram. Daqui resulta que, se
quisermos ser livres, deveremos centrar-nos no auto-desenvolvimento e na
melhoria dos nossos recursos, habilidades e conhecimentos. Não tanto no dinheiro. Ele deve ser uma consequência.
É isso que nos
tornará ricos enquanto pessoas independentemente do pouco ou do muito dinheiro
que consigamos obter em troca do que fizermos.
Todos os estudos apontam para o facto de que, em menos de um
ano, as pessoas que se tornam milionárias nos jogos de lotaria não se sentem
mais felizes do que antes. Em muitos casos as suas vidas tornaram-se até mais
complicadas e atormentadas. O valor do dinheiro é pois limitado.
Nelson S. Lima
QUANDO OS LIMITES NOS TRAVAM
Herry Worsley, herói de nosso tempo! |
Estou a escrever sobre o inglês Herry Worsley, de 55 anos,
com experiência de combate na Bósnia e no Afeganistão. Já retirado do exército,
dedicou-se, entre outras atividades, às grandes aventuras como aquela que fez
dele o primeiro homem a ir sozinho do Canadá ao Pólo Norte (em 2003) e realiando também várias
travessias no continente antártico.
Acompanhei as notícias da última aventura dele. O objetivo era chegar ao Pólo Sul caminhando sozinho cerca de 1 500 kms pelo grande continente gelado da Antártida tal como já fora tentado por Ernest Shackleton (em 1915).
Desta vez, a natureza foi mais impiedosa e já quase no fim
da longa jornada ele atingiu o limite das suas forças. Ficou dois dias sem se
poder mexer após o que morreria por esgotamento já no hospital de Punta Arenas,
no Chile. Seria a jornada da sua vida, algo com que havia sonhado desde
criança.
Antes de desfalecer ainda teve tempo de transmitir uma
mensagem já com uma voz quase impercetível: "A minha jornada chegou ao
fim. Fiquei sem tempo e sem capacidade física - "I have shot my
bolt". Tinha estado 71 dias a caminhar penosamente contra as forças da
natureza. Tudo terminou no dia 24 de Janeiro de 2016.
A sua determinação não deixará, porém, de inspirar outros a
chegarem àquele difícil destino. O ser humano é assim mesmo: o desbravar
horizontes, o alcançar metas e progredir em busca dos seus sonhos mais
profundos.
Neste exemplo que aqui vos deixo, só a morte impediu este
explorador de, finalmente, se tornar no primeiro a percorrer a Antártida a pé e
chegar ao Pólo Sul. Ficou apenas a 48 quilómetros do objetivo.
Nelson S Lima
A IDADE DO CÉREBRO É IGUAL À IDADE DA MENTE?
Em boa verdade, não. Por isso é que há muitos idosos com uma
mente inegavelmente jovem e muita gente nova mentalmente envelhecida. Pode
parecer um exagero, até mesmo uma impossibilidade, mas não é. Mais: não se
trata de uma fantasia mas de uma constatação que os estudos científicos têm
vindo a confirmar sucessivamente.
Isto é muito interessante porque a mente deve ser daquelas
poucas coisas do Universo que, com o avançar do tempo, em vez de envelhecer
revela capacidade para se manter jovem, parecendo contrariar as leis da
Natureza e da Vida.
Sabemos que, com o avançar dos anos, o corpo – onde se
inclui o cérebro – vai sentindo os efeitos da chamada entropia (uma importante
lei da Física que tem a ver com o desgaste e a perda de energia causada pelo
tempo e por outros fatores nocivos como certos estilos de vida). É o que
acontece aos diferentes órgãos do nosso corpo que, cada um no seu ritmo e ao
seu jeito, vão perdendo o vigor da juventude e envelhecendo. Aliás, é um
processo que começa bem cedo na vida mas de que as pessoas só tomam consciência
sobretudo a partir da meia-idade.
Voltando ao assunto da mente. Quer se queira quer não - e
por muito que se pretenda acreditar que o cérebro e a mente são domínios
distintos de uma mesma realidade - uma coisa é um neurónio ou uma rede de
neurónios (observáveis, mensuráveis, etc.) e outra coisa, bem diferente, é um
pensamento, uma ideia ou uma recordação. Os neurónios são células e fazem parte
do cérebro; os pensamentos, as ideias e as recordações são já do domínio da
psique, ainda que esta apenas seja possível graças à atividade do cérebro. O
cérebro é um órgão mas a psique (ou mente) é um campo de energia e informação
(produzido por aquele).
Aqui chegados já começamos a vislumbrar a natureza da mente.
Esta é estruturada e dinamizada pela experiência, os estímulos e as
aprendizagens obtidas em cada instante da vida. Assim, quanto mais anos de vida
tiver a nossa mente, mais experiência e mais informações podemos acolher, gerir
e acumular mesmo que o cérebro vá perdendo neurónios que não escapam à tal
entropia (a qual conduz à chamada morte neuronal, ou seja, a morte gradual dos
neurónios que pode atingir 10% dos 100 mil milhões que formam os cérebros
adultos).
Levar uma vida saudável (ativa, estimulante e criativa)
revigora a mente, abre as portas a novos saberes e garante a agilidade do
pensamento. Mesmo que o cérebro tenha 70, 80 ou 90 anos de idade, a mente da
pessoa idosa não tem que ficar prisioneira do calendário. Ela pode sempre
escapar à perda de vitalidade orgânica através do aprofundamento da sabedoria e
da utilização das diferentes aptidões e capacidades (novas aprendizagens,
saudáveis relações sociais, novas paixões e interesses, atividades produtivas,
etc.). É assim que se constrói o chamado “envelhecimento ótimo”.
As mais recentes investigações científicas garantem que uma
vida ativa e mentalmente produtiva também aumenta a longevidade. E isso
acontece porque o que fizermos com as nossas faculdades mentais tem influência
direta no estado do organismo. É por isso que a idade cronológica (aquela que
celebramos em cada aniversário) não tem de forçosamente corresponder à idade
mental.
Nelson S Lima
Envelhecimento, Longevidade e Imortalidade
Lembro-me de, quando era criança, acreditar que iria viver
muitos anos porque achava a vida um processo muito interessante, merecedor de
tempo suficiente para ser apreciado. Penso que essa minha esperança se devia ao
facto de sempre ter vivido com meus avós e ainda por constar na família que uma
minha trisavó teria chegado aos 120 anos de idade.
Talvez por isso eu viria a interessar-me por todas as
ciências que direta ou indiretamente estudam o processo do envelhecimento e da
longevidade - temas que abordo com alguma frequência no facebook
(nelson.s.lima).
TEMPO DE VIVER MAIS
Com a melhoria geral da qualidade de vida nos últimos 100
anos, a esperança de vida humana subiu para valores nunca antes conhecidos. O
número de idosos centenários e até supercentenários (mais de 110 anos) está
também a aumentar em alguns países.
Esta capacidade de se poder viver mais tempo ainda é um dado
frágil se bem que também o número de idosos ativos e saudáveis esteja a
crescer. Os "truques" são simples e não passam de 3 ou 4 os
fatores-chave que podem ser controlados, sendo um deles uma alimentação
adequada.
Mas os cientistas já não se contentam com isso e muitos
biólogos procuram entender os mecanismos do envelhecimento estudando não apenas
os idosos excepcionais mas os animais que praticamente são imortais ou quase
(pelo menos quando comparados connosco).
Atualmente são conhecidos alguns que vivem imensos anos, por
vezes sem mostrarem sinais de envelhecimento, o que não deixa de surpreender.
O cardiologista e nutricionista francês Frédéric Saldmann,
autor de vários livros sobre o assunto, revela alguns pequenos animais que se
destacam pela sua resistência ao envelhecimento ou pela capacidade de viverem
centenas de anos (existem outros animais, como algumas espécies de tartarugas,
mas aqui são apenas considerados os “excecpionais”, uma classe à parte como
poderão constatar).
São eles:
- o rato-toupeira africano que consegue viver 30 anos
(o que equivale a 600 anos de vida humana) e que resiste a tumores malignos e a
doenças cardíacas;
- a rã "sylvatica" do extremo-norte do Canadá que é
capaz de sobreviver completamente congelada por longos períodos (o seu corpo
cria um tipo de gel natural que a protege);
- alguns tipos de medusas que
conseguem o extraordinário feito de rejuvenescer após cada reprodução
mantendo-se imortais;
- o molusco "arctica islandica" (foi encontrado
um exemplar com 405 anos de idade) e, por fim...
- o minúsculo "urso de
água" que consegue resistir a temperaturas extremas como 250 graus
negativos ou 150 graus positivos e mesmo a fortes radiações (crê-se que este
animal terá chegado à Terra num meteorito, o que abriu já uma nova linha de
investigação sobre vida extraterrestre).
TEMPO DE VIVER MELHOR
O animal mais interessante para a compreensão do processo da
longevidade e da imortalidade é o das medusas da espécie “turritopsis
nutrícula” originárias dos mares das Caraíbas e que retomam a juventude após se
reproduzirem. O que se passa com esse animal é ainda um mistério para a
ciência. Como é que ele recupera de forma rápida a sua anterior juventude e
assim se mantém imortal colonizando as águas profundas de todos os oceanos?
Existem várias teorias para além da curiosidade natural que
este caso suscita. É óbvio que este molusco e os outros animais nada têm de
semelhança com o ser humano e nada permite que da sua longa resistência e
longevidade se possam tirar “lições” para o nosso próprio processo de
envelhecimento. Seja como for, estes autênticos “fenómenos da natureza” abrem
as portas para o estudo do envelhecimento, da longevidade e da imortalidade a
vários níveis.
Relatos histórico-religiosos, embora não consistentes devido
à falta de dados seguros, falam de alguns seres humanos que terão vivido
centenas de anos. Abraão é um deles. Estaremos a entrar no campo da mitologia
ou da pura especulação, mas há quem, na ciência, não ponha completamente de parte
a hipótese da longevidade poder ter sido uma possibilidade em alguns redutos da
humanidade em tempos recuados. O futuro talvez nos traga as respostas que
faltam, incluindo a sua negação.
O médico Frédéric Saldmann que, como digo acima, faz
investigação nesta área (e chamo a atenção que não é único) lembra, num artigo
do número especial da Sciences et Avenir (Janeiro 2016), que em 1932, os mais
respeitáveis cientistas garantiam que o homem nunca conseguiria chegar à Lua
devido à força de gravidade da Terra. Todos sabemos como estavam longe da
verdade.
NUNCA SE DIGA NUNCA
Ciência e descoberta andam de mãos dadas. A curiosidade e a
motivação sempre foram os motores do desenvolvimento humano. E também se
aplicam à longevidade.
As pessoas curiosas de saber e que perseguem propósitos bem
definidos costumam envelhecer mais lentamente e com mais saúde, vencendo
doenças e fragilidades que normalmente surgem com o avançar dos anos.
Há quem consiga, sem sombra de dúvida, retardar o processo
do envelhecimento. Isso é um facto indesmentível pois os exemplos abundam e
cada vez em maior número. Assim sendo, é lógico que se continue a investigar
não apenas o envelhecimento humano como aquilo que se passa com outros seres
vivos, incluindo aqueles que guardam o segredo da longa vida e até da
imortalidade.
Nelson S. Lima
A EDUCAÇÃO QUE EU DEFENDO
Aprendi a ler na escola do Estado Novo (anos 50 e 60),
acompanhei a escola de meus filhos mais velhos (anos 70 e 80), observei a
escola de meus filhos mais novos (de 1997 até ao momento) e estive em mais 200
escolas onde dirigi workshops, seminários e sessões de esclarecimento para
professores do ensino público e privado (a partir de 2002 e até muito
recentemente).
Não vou criticar nada neste breve trecho. Venho aqui apenas
defender uma educação para a Sociedade do Conhecimento, esta em que vivemos e
que é dominada pelo "ciberespaço" de que faz parte a World Wide Web,
essa imensa teia de ligações executadas na internet - o maior conglomerado de
redes de comunicações à escala mundial. Ciberespaço significa o espaço virtual
para a comunicação por meio de tecnologias de informação.
Temos pois o espaço físico onde nos movimentamos (o mundo
das pessoas, dos objetos, das ruas, das cidades e das nações) e o espaço
virtual (feito de vivências e comunicações não presenciais e não tácteis como
acontece na internet).
Nós já estamos (agora mesmo aqui na internet) nesse mundo de
transição mas as crianças e os adolescentes de hoje vão ter de viver num
universo muito mais multidisciplinar, multifocal, de intensas e constantes
comunicações, em que as ligações virtuais ocuparão um lugar de destaque.
Aliás,
este é um dos motivos porque o mercado de trabalho está também em ruptura com o
passado e gera desemprego. Os computadores estão por todo o lado, incluindo nos
nossos carros; há profissões em queda irreversível e há novos modos de produzir
como acontece com o teletrabalho (é o meu caso).
Numa sociedade que tende para a diversidade (e não para a
uniformização como muitos acusam) e a complexidade levanta-se uma pergunta: COMO
DEVE SER A EDUCAÇÃO perante estes novos cenários de mundivivências?
Não me digam que aquilo que é preciso é "saber vários
idiomas" pois não é por aí que se resolve a educação. O mundo é agora
feito de outros problemas que a globalização criou (globalização que começou há
muitos milhares de anos).
Depois da invenção do fogo, dos transportes, da escrita, da
revolução industrial e do computador (que representaram outras tantas mudanças
de paradigma) eis-nos perante novos desafios intelectuais, sociais, económicos,
antropológicos, filosóficos e psicológicos.
A sociedade está finalmente unida em torno de um elo comum e
que começa a fazer sentido: o factor "humanidade global", feita de
gente planetária (como diz o filósofo P. Lévy), independentemente das linguas
faladas e das grandes diferenças culturais e que cada vez mais está à distância
do teclado de um computador ou de um telemóvel (celular) para se comunicar e
trocar ideias, saberes e afetos.
PRECISAMOS de uma educação que compreenda que a sociedade,
nesse capítulo, está mais adiantada do que nos parece. E a educação - cujos
efeitos se fazem sentir anos depois e não tanto no imediato - deverá SER
REVISTA para revelar aos nossos filhos o futuro (que já está aqui) e as suas
múltiplas possibilidades.
Mantê-los aprisionados num sistema que tem mais de
tradicional e conservador do que futurista é condená-los ao atraso face a
outras sociedades onde os alunos têm do mundo uma visão mais completa e
realista.
O assunto fica em aberto....
Nelson S Lima
PSICOLOGIA EXTREMA DA PERSUASÃO
Chama-se "túnel" ao processo de adesão
incondicional a uma causa de tal forma que passamos a fazer parte de um mundo
fechado e por vezes isolado com as suas regras, princípios, normas e obrigações
e com as quais nos identificamos.
A entrada num desses "túneis" obriga-nos a despir
o nosso ego e até perder um pouco da nossa identidade. Passamos a ter um
número, uma alcunha ou qualquer outra identificação e a fazer parte de um
grupo, uma seita, uma elite ou algo parecido. Entramos numa missão e
tornamos-nos numa simples célula de um tecido maior onde as leis são muito
próprias e inquestionáveis para manter a coesão do "grupo".
Nesta fase, entram em cena os rituais, hinos, cânticos,
bandeiras e outros símbolos, obrigações e muito especialmente uma dedicação
leal, indiscutível e insuspeita à causa. O transe hipnótico está muitas vezes
presente.
A característica central do efeito de "túnel" é
que ele separa os seus membros do mundo "exterior", libertando-os das
amarras sociais em que estavam inseridos (familiares, amigos, etc.) e
colocando-os numa posição de abnegação e subserviência aos ideais do grupo. As
"deserções" são muitas vezes punidas, nos casos de grupos
extremistas, com a morte.
Ao longo da história humana sempre existiu este efeito de
"túnel" porque desde cedo se formaram organizações em torno das mais
diversas causas. Esse tipo de organizações continua a proliferar, por vezes de
forma secreta. O recrutamento faz-se hoje de forma mais direta e a internet é,
por exemplo, um meio de captação. Muitos jovens aderem a "grupos" sem
saberem que aquilo que buscam vai empurrá-los para um "túnel" que os
engolirá como um "buraco negro".
Se há pessoas que sabem perfeitamente a que grupo ou causa
estão a aderir, muitas outras, à procura de um abrigo para as suas carências e
o seu isolamento social, acabam por ser apanhadas na rede como peixe indefeso.
Entrarão no "túnel" e lá ficarão por tempo indeterminado. Uns
sentir-se-ão felizes e integrados na disciplina e no espírito de missão a que
aderiram. Outros talvez descubram, tarde demais, que o "túnel" é
escorregadio e não permite voltar atrás. E que estavam (ou foram) enganados!
Nelson S Lima
NÃO PRECISAMOS DE MILAGRES!
SOMOS UM TODO INTEGRADO NUM TODO MAIOR
Sob o atual paradigma holístico (isto é, na perspectiva de
que o mundo e a vida são um todo da qual tudo faz parte, tudo está integrado e
tudo se processa em interdependência e inter relação), a psique não mais se
pode apresentar como algo inseparável do corpo, do ambiente, da cultura, do
lugar, da época e de muitos outros elementos e processos.
Como o nosso corpo/organismo é o resultado da atividade de
vários sistemas interligados e interdependentes, convém perceber que a ideia de
separação corpo-mente está visivelmente ultrapassada (chama-se a essa visão
"dualista").
O nosso organismo não pode ser visto como independente das
faculdades e processos mentais nem estas separadas do organismo. Tudo é energia
e informação, ou seja, diferentes formas de energia e diferentes conteúdos de
informação.
Matéria, vida e psique são, elas próprias, energias subtis
que se manifestam de modo próprio. Servem-se de sistemas em atividade e mutação
constante. Podemos dizer que são acontecimentos transitórios em que
PROGRAMAÇÃO, INFORMAÇÃO, CONSCIÊNCIA e CONHECIMENTO se apresentam como seus
principais constituintes.
Os eventos mentais - de que se ocupa a Psicologia - não
estão isolados nem do resto do organismo nem do resto do mundo. A mente humana
(à escala individual) não tem fronteiras e não está aprisionada no crânio. Ela
faz parte do que hoje é conhecido como "consciência cósmica" (já
referido por William James há muitos anos).
Principais aspectos a considerar:
- mente/organismo são inseparáveis (por isso todas as
doenças são psicossomáticas e/ou somatopsíquicas, isto é, estão relacionadas:
corpo>>mente e/ou mente>>corpo); não há separação;
- tudo é subjetivo;
- a mente é feita (processa-se) de acontecimentos (eventos);
- a mente individual - que se exprime através da linguagem,
dos comportamentos, etc. - está ligada às outras mentes individuais;
- existem diferentes estados de consciência (e a realidade
objetiva em que nos sentimos viver é função do estado de consciência em que nos
encontramos);
- a psicologia não se confina às três dimensões do
espaço/tempo;
- a mente (ou os eventos mentais) vive num campo de
múltiplas possibilidades (quase infinitas);
- toda a nossa evolução pessoal não está confinada ao
intelecto e ao emocional mas também ao instintivo, ao intuitivo, ao
transpessoal e ao parapsicológico (fatores PSI e subfatores PES e PK de Rhine);
- possibilidade de vivências de realidades extra-sensoriais
que explicam determinados acontecimentos até agora tidos como
"milagres" (não há milagres mas transformações que resultam do campo
aberto e ilimitado em que a mente atua);
- abertura da medicina corpo-mente a terapias não
convencionais como a psicossíntese, a bioenergética, as terapias de transe, a
hipnoterapia, a filosofia clínica, a terapia transpessoal, a síntese
transacional, o yoga, o tai-chi, etc.);
- estudos sobre a cosmopsicologia (antiga astrologia)
tornam-se cada vez mais aceites pela ciência do novo paradigma holístico como
um campo de pesquisa a considerar.
Tudo isto reflete algo mais importante e revolucionário que
se está a verificar para bem de nós todos: a ciência vive, finalmente, um
mudança de paradigma, isto é, uma mudança dos princípios e axiomas básicos que
a tem sustentado. Hoje, os médicos (e os psicólogos) devem orientar-se pelo
princípio de que é mais fácil prevenir do que curar e também pela máxima de
que, mais importante do que a doença, é o doente!
Por isso, é o doente como um todo que deve ser tratado e não
apenas a sua doença, pois esta está relacionada até com a sua personalidade e
muitos outros fatores pessoais, ambientais, estilo de vida, visão do mundo,
etc.
Nelson S. Lima
O RETOMAR DA ESPERANÇA: A NOVA "NEW AGE"
Nos finais dos anos 70, a jornalista Marilyn Ferguson fez
uma extensa investigação sobre as transformações pessoais e sociais que se
estavam a operar no mundo. Recolheu imensos depoimentos e convenceu-se de que
estávamos na alvorada de um salto para uma humanidade mais baseada no amor e na
paz do que na competição e no materialismo reducionista.
A tecnologia progredia rapidamente e as pesquisas sobre o
cérebro, a mente e a consciência estavam a romper com o desconhecido, abrindo
portas para novos saberes até então tímidos e pouco consistentes.
Muitos pensadores clamavam por uma nova sociedade, uma nova cultura, uma nova
educação.
Parecia que, dispersos um pouco por todo o mundo, havia
muita gente que estava tomar consciência da necessidade de uma mudança urgente
do rumo que a humanidade estava a tomar (vivia-se o tempo da Guerra Fria, do
Vietname e a sociedade mostrava algum cansaço).
Por essa época, Alvin Tofler já havia lançado o livro O CHOQUE
DO FUTURO e preparava-se para publicar um outro, A 3ª VAGA (no Brasil, é A 3ª
ONDA), em 1980 - obras também fruto de muita pesquisa e que traçavam o perfil
de um novo tempo feito de muitas mudanças, que se aproximava a passos largos.
Marilyn lançou então o livro A CONSPIRAÇÃO
AQUARIANA inspirada em pensadores como Thomas Kuhn, Ilya Prigogine (Prémio
Nobel 1977, convicto, então, de que a humanidade se encontrava "num
momento empolgante da história, talvez um momento decisivo"), Pierre Teilhard
de Chardin e em muitos inconformistas e ativistas que queriam um mundo novo,
mais democrático, mais aberto às novas possibilidades de expansão da
consciência e do conhecimento.
Apesar do seu título um tanto esotérico, o livro de Marilyn
reúne todo um conjunto dos inúmeros sinais de mudança em todos os setores da
sociedade nos anos 80 - da ciência à política, da educação à transformação
pessoal.
Quando comprei o livro ele já ia na 11ª edição no Brasil.
Continua a ser para mim um livro de referência, altamente inspirador, tal com
foram os livros de Alvin Tofler e de muitos outros pensadores.
Infelizmente, o entusiasmo e as esperanças de Marilyn
mostraram-se excessivas pois as grandes transformações pessoais e sociais que
ela previa foram-se esbatendo. Acontecimentos políticos (como a derrocada do
socialismo e o desmantelamento da URSS) e mudanças em outros setores levaram
outros autores como Francis Fukuyama (1989) a profetizarem a estagnação da
sociedade e "o fim da história humana".
Depois disso, porém, outros pensadores como Ken Wilber, Amit
Goswami, Bruce Lipton, Dalai Lama e Deepak Chopra entraram em cena retomando,
em parte, as ideias contidas no livro de Marilyn Ferguson (que, entretanto,
faleceu em 2008).
Atualmente, as consecutivas ondas de choque que assolam a
humanidade têm vindo a gerar um sentimento de mudança urgente.
Relendo A CONSPIRAÇÃO AQUARIANA, pese o tempo já passado
desde a sua publicação, tem-se a impressão que é preciso, sem dúvida, dar
continuidade ao seu trabalho.
É tempo de um novo despertar, de um salto em frente.
Cientistas e humanistas sabem disso (menos os políticos). A aceleração da
história e dos próprios acontecimentos ao nível mais pessoal fazem crer que
Marilyn tinha razão: a "transformação, a inovação e a evolução são as
respostas naturais às crises". E, como escreveu John Naisbitt, autor de
"Megatendências", Marilyn, apesar de ter sido considerada
excessivamente otimista, estava muito à frente do seu tempo quando escreveu A
CONSPIRAÇÃO AQUARIANA. O seu livro faz agora todo o sentido. Está mais atual do
que nunca!
Não perder a esperança e lutar por um mundo diferente e
melhor é o dever de cada um de nós. Recuperar o tempo perdido não é perda de
tempo. E quanto aos pessimistas - que sempre os há - retomo John Naisbitt:
"não são de utilidade nenhuma".
Nelson S Lima
SOBRE A LIBERDADE
A liberdade pode ter múltiplas interpretações e aplicações. Em nome
dela muita agitação humana aconteceu ao longo dos tempos: guerras, revoluções,
levantamentos populares, manifestações de protesto, leis garantindo liberdades
e direitos, fugas (de casa, das escolas, das prisões), etc.
Não obstante, a liberdade que julgamos alcançar é causa de muitas
frustrações. Porque o sujeito que é livre plenamente assume a responsabilidade
pelos seus atos. E isso nem todos são capazes de assumir pelo que preferem a
dependência de poderes superiores que os protejam e até ajudem a fazer
escolhas. Há quem se dependure em Deus ou numa outra autoridade moral.
Sobre isso, o escritor norte-anericano Eric Hoffler, foi peremptório e
disse: "a liberdade de escolha põe toda a culpa do fracasso nos ombros dos
indivíduos".
Muitos de nós preferem viver numa aparente liberdade (convencidos da
sua autenticidade) que lhes permita algum espaço de manobra em sociedade.
Enfim, toda a liberdade é relativa.
Nelson S Lima
O Poder do Corpo
Assiste-se atualmente a um paradoxo: quanto mais avançamos
no conhecimento e nos saberes sobre "qualidade de vida" mais se
assiste à proliferação de muitas doenças que estão matando milhões de pessoas
em todo o mundo (doenças oncológicas, cardiovasculares, etc.). São as chamadas
"doenças da civilização" ou, para ser mais exato, "doenças de
incompatibilidade" (onde também se incluem novas alergias).
Por que isso acontece? Há os que dizem que se deve ao facto
de vivermos mais tempo e, sendo assim, ficamos mais expostos ao desgaste. Mas
eu não concordo. Isso não é uma resposta que me satisfaça.
O que nós estamos fazendo é viver de forma anti-natural (80%
do que nos alimenta é fabricado e manipulado para se conservar longo tempo, por
vezes anos em embalagens duvidosas), seguindo estilos de vida marcados por alta
pressão nervosa, dormindo pouco e a fora de horas, vivendo rodeados de
poluição, ou seja, expondo-nos a situações que são incompatíveis com a natureza
biológica do nosso organismo.
Não confiemos em que apenas o Poder da Mente vai proteger-nos
contra todos os malefícios e resolver todos os problemas do corpo e da vida.
Grave engano.
O verdadeiro Poder da Mente sobre o organismo está em sabermos introduzir
mudanças de hábitos e padrões de comportamento que protejam nossas células,
nossos órgãos e nossa vida. Ele existe, ele pode ser poderoso, ele pode ajudar,
mas não descuremos a realidade: somos seres vivos e nosso corpo segue as leis
da natureza e não as leis dos homens (que são leis de natureza cultural).
Nunca se esqueça do Poder do Corpo para poder ter uma vida
saudável, longa e equilibrada. Pense nisso.
Nelson S Lima
Como desenvolver a vontade!
A concretização da vontade - que a psicologia associa à
motivação - não é coisa fácil, por vezes. Ter vontade é uma dimensão mais
complexa do que parece. Filósofos como Schopenhauer, Kant e Nietzsche
dedicaram-lhe muita atenção.
No essencial, a vontade é uma energia mental direcionada
para algo. Às vezes é instintiva. Outras vezes, intencional e consciente. A
instintiva está frequentemente ligada às estratégias de sobrevivência (a
vontade de comer, por exemplo). A intencional pertence aos domínios do desejo e
da necessidade.
A vontade só se cumpre através de estratégias. Ela exige
processos cognitivos como analisar, optar e decidir. Mas isso é apenas o começo
pois a vontade pode morrer antes mesmo de se cumprir.
A pessoa pode ter "vontade de" mas falta-lhe algo
mais: podem ser recursos, falta de oportunidade e também energia emocional
suficiente para dar o passo seguinte. E as coisas também não terminam aqui pois
a vontade está relacionada com valores, hábitos, crenças, princípios e até
normas socioculturais da pessoa.
Embora a "força de vontade" tenha algo de
biopsicológico (o temperamento tem aqui uma palavra a dizer pois o temperamento
é a estrutura biológica da personalidade) e, por isso, esteja dependente da
nossa natureza emocional (o indivíduo apático, por exemplo, tem quase ausente
essa tal "força de vontade" enquanto o impulsivo perde-se com
sucessivas "vontades de" que vai abandonando por perda de motivação)
é algo que também pode ser aprendido se a desenvolvermos como um hábito.
Nos primeiros anos de educação podemos (como pais ou como
professores) ajudar as crianças a desenvolverem a capacidade de lidar com
"desejos", "motivações" e "escolhas".
As nossas crianças têm hoje em dia quase tudo aquilo que
querem. Isso é errado. Não desenvolve nelas a "vontade". Elas querem
e elas recebem. Deveriam aprender a assumir suas vontades (brincar, estudar,
etc.) e aprender a não desistir à mínima contrariedade.
Se isso não acontecer poderão tornar-se adultos sem grande
força de vontade para superarem metas e objetivos. Deixarão de desenvolver a
capacidade de iniciativa e de empreendedorismo, tão necessárias no mundo atual
e futuro.
Os pais têm, nesse capítulo, um papel decisivo. Uma vida
familiar organizada, com objetivos, uma disciplina flexível, planos e projetos
pelos quais todos lutem irmanados num espírito de entreajuda é uma forma
acessível de desenvolver a "força de vontade" e também o carácter.
Nelson S Lima
Texto do meu livro "Evolução e Mudança"
INTELIGÊNCIA E EMOÇÕES NAS EMPRESAS
Documento integral da minha entrevista dada à jornalista Amanda Gomes (www.tematica-rs.com.br), Brasil.
O que significa ser inteligente no ramo empresarial?
Nelson S Lima: A complexidade das organizações empresariais exige
faculdades pessoais e competências profissionais que assegurem uma elevada
performance. Os mercados mostram-se crescentemente exigentes devido a fenômenos
como a globalização, a vertigem da mudança de paradigma nos negócios, a eclosão
de uma diversidade enorme de nichos de mercado, as flutuações e incertezas
próprias de uma economia fragilizada por sucessivas crises, tudo isto obriga os
profissionais a terem um preparo psicológico de alto rendimento e resistência
(física, emocional e intelectual).
- A inteligência está ligada ao sucesso? Por quê?
NSL:Neste cenário de complexidade, a inteligência se perfila
como uma faculdade que deve ser levada em consideração e trabalhada. Três tipos
de inteligência são requeridas no mundo dos negócios: a analítica, a executiva
e a inteligência de risco as quais, no seu conjunto, podem ser consideradas
como essenciais para o sucesso. Esta inteligência integral focalizada em três
grandes áreas não dispensa, naturalmente, habilidades como a regulação
emocional para uma boa gestão da ansiedade, do stress, dos relacionamentos
humanos e do equilíbrio corpo/mente. Na inteligência se destaca também a
necessidade de aprimorar o senso crítico e
uma boa organização mental que permita elaborar um eficaz mapeamento das
múltiplas tarefas e etapas de todos os processos empresariais e negociais.
- No momento de fechar um negócio, que ponderações são
consideradas inteligentes?
NSL: A ponderação é a mãe da boa tomada de decisões, sobretudo
tendo em consideração que no mundo dos negócios existe também muita
subjectividade. Essa subjectividade resulta de problemas vários que estão
sempre presentes nas atividades humanas como o acaso, a surpresa, a
falibilidade e o imprevisto. Assim sendo, a ponderação apela a nossa capacidade
de "juízo crítico" (competência intelectual para fazer boas
avaliações das situações), a reunião de informação considerada essencial, o
foco nos pontos críticos e decisivos e o distanciamento emocional (para evitar
decisões precipitadas e forçadas por emoções indesejáveis). Por fim, é
necessário assegurar uma outra aptidão que tem sido descurada: trabalhar dentro
de um horizonte de tempo que permita agir mentalmente num futuro
não-improvável. Que significa isto? O horizonte de tempo é a capacidade que nos
permite trabalhar com indicadores que nos forneçam elementos sobre o
"amanhã". Um bom exemplo de um indicador é a análise de tendências.
Outro é o "ciclo de vida" dos mercados em que trabalhamos (em que
ponto eles estão e qual a "esperança de vida" deles).
Esta atenção cuidada pode evitar ser-se apanhado de
surpresa, por exemplo, por um mercado em "fim de vida" apesar dos
bons desempenhos que ainda reflitam vitalidade, mas que dispensam novos
investimentos avultados. Uma boa "varredura" que ajude à elaboração
regular de análises estratégicas a mercados, produtos e outros elementos é
também uma ferramenta indispensável do decisor inteligente.
- Em momentos decisivos, que importância tem a inteligência?
NSL: É nos momentos decisivos que a inteligência (que é muito
mais do que a habilidade para resolver problemas) se mostra de crucial
importância. A pessoa menos dotada será mais lenta e indecisa em situações
críticas. Uma boa destreza e flexibilidade mental, uma abertura para o novo
(exigindo pensamento criativo) e uma capacidade de se focar no essencial
combinados com boa formação cívica e profissional, experiência significativa e
personalidade empreendedora fazem da inteligência um instrumento de sucesso. Ou
seja, a inteligência, pese embora a sua importância, deve ser sempre
acompanhada de mais atributos para um alto desempenho.
- As emoções podem atrapalhar a inteligência?
NSL: No capítulo das emoções, o ponto ideal é o equilíbrio.
Emoções extremas (positivas ou negativas) podem, sim, atrapalhar a afirmação de
comportamentos inteligentes, nomeadamente as tomadas de decisão.
O estado atual do universo dos negócios exige pessoas
qualificadas e com um perfil psicológico adequado às funções (analíticas,
executivas ou estratégicas) que lhes sejam atribuídas. Uma boa administração do
tempo, da saúde (com especial relevo para uma alimentação nutritiva) e das
relações humanos ajudam também a uma maior dinâmica profissional.
Todo o profissional deve pugnar por uma boa saúde emocional,
sendo preferível afastar-se do seu trabalho até se sentir capaz quando está
sofrendo de problemas que o tornem agitado, inseguro, ansioso ou desmotivado.
Pessoas carregando estresse crónico ou vivenciando sentimentos depressivos
podem tomar decisões erradas, por vezes com grandes perdas para a empresa e
gerando, depois, sentimentos de culpa e outras consequências mais ou menos
graves para elas.
Nelson S Lima
O que influencia nossa personalidade?
O que faz alguém de índole calma ter uma explosão de
violência? Como surge a homossexualidade? Por que algumas pessoas se tornam
líderes enquanto outras, igualmente inteligentes, têm um destino medíocre?
Explicar o comportamento humano em seus diversos aspectos -
no círculo de amizades, no trabalho, no amor, na fé religiosa - sempre foi um
desafio para psicólogos e cientistas. Até hoje, as pesquisas sobre o tema
produziram duas correntes antagónicas, que contrapõem a natureza e o ambiente social.
De um lado estão os defensores da tese de que todos nascem iguais e a
personalidade é formada pela aprendizagem e pelas experiências pessoais. Do
outro lado, crê-se que os traços da personalidade são definidos pela
herança genética, assim como a cor dos olhos.
Uma série de descobertas recentes terminou com essa
discussão. A ideia de que só o ambiente ou só o DNA forma a personalidade foi
substituída por outra mais flexível. Todo comportamento tem um componente
genético, mas a sua manifestação depende de factores ambientais/sociais. Sob essa visão,
genética e sociedade interagem para moldar o jeito de ser de cada pessoa.
AS TRÊS FONTES DA PERSONALIDADE
A revolução nos conceitos da chamada genética do comportamento, nome dado à ciência que estuda a influência dos genes na personalidade, ocorreu por causa dos avanços na engenharia genética e na biologia molecular. Os cientistas são capazes de fazer uma busca minuciosa em todo o genoma e encontrar regiões com genes capazes de influenciar o comportamento humano.
AS TRÊS FONTES DA PERSONALIDADE
A revolução nos conceitos da chamada genética do comportamento, nome dado à ciência que estuda a influência dos genes na personalidade, ocorreu por causa dos avanços na engenharia genética e na biologia molecular. Os cientistas são capazes de fazer uma busca minuciosa em todo o genoma e encontrar regiões com genes capazes de influenciar o comportamento humano.
Essas regiões podem ser identificadas em análises de
amostras de sangue de irmãos ou familiares com os mesmos traços psicológicos.
Já foram encontrados genes e regiões genómicas que tornam as pessoas mais
vulneráveis a adoptar comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos.
Também já foram detectados genes relacionados com a orientação sexual e a
vícios como alcoolismo e tabagismo.
Os pesquisadores advertem que possuir esses genes não
significa que a pessoa necessariamente desenvolva o comportamento ligado a ele.
Não existe total determinismo genético, apenas predisposição. Os genes podem se
expressar ou não. Alguns são ligados ou desligados pela própria dinâmica do
genoma. Outros, pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em que
a pessoa vive.
Um estudo do Instituto de Psiquiatria do King's College de
Londres encontrou dois genes que actuam na libertação de neurotransmissores no
cérebro. Esses genes são responsáveis pela depressão e pelas atitudes
anti-sociais, mas só se manifestam em pessoas expostas a situações de grande
stress, como perda de emprego ou morte de familiares.
Conclusão: ter predisposição genética à depressão não leva
ninguém a ficar deprimido. O mesmo acontece com os distúrbios alimentares.
Cientistas da Universidade da Carolina do Norte identificaram regiões genéticas
similares em amostras de sangue de mais de 400 pacientes com anorexia ou
bulimia. Os mesmos marcadores apareceram em pessoas sem os distúrbios, o que
comprova a acção do ambiente.
Recentemente, investigadores do Instituto de Psiquiatria de
Londres encontraram regiões do genoma que podem influenciar a inteligência. Um
gene chamado LIMK1 produz uma proteína que ajuda a desenvolver a cognição
espacial. As pessoas que têm esses genes levemente alterados também são
inteligentes, mas não têm habilidades para desenho, por exemplo. Outro gene, o
IGF2R, está associado à alta inteligência - a sua existência acarreta 4 pontos
a mais no QI do portador.
A tendência para o suicídio também já foi identificada no
genoma. Cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, descobriram que
pacientes portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores
da serotonina, o neurotransmissor que causa sensação de bem-estar, apresentavam
duas vezes mais risco de cometer suicídio.
A descoberta de genes que influenciam aspectos específicos
da vida é o que há de mais novo na genética do comportamento. Grande parte das
características humanas, porém, é produto de muitos genes - e não de apenas um,
como ocorre com a maioria dos traços físicos e doenças.
O fator biológico determina a "personalidade recebida". Dela fazem parte os elementos principais e duradouros como são as funções intelectuais básicas e o temperamento.
O fator biológico determina a "personalidade recebida". Dela fazem parte os elementos principais e duradouros como são as funções intelectuais básicas e o temperamento.
A psicóloga americana Judith Rich Harris foi uma das
primeiras pesquisadoras a tentar medir a importância da genética, da família,
do círculo de amizades e das experiências pessoais na formação da
personalidade.
No seu livro No Two Alike (Não Há Dois Iguais) a Dra. Judith diz que os nossos genes serão responsáveis por cerca de 40% do que somos. Em segundo lugar vêm os amigos, a maior influência que recebemos. E, por último, a família. No caso dos pais, façam o que fizerem, eles não são capazes, sozinhos, de evitar (ou de os proteger) de outras influências muito poderosas e que vêm das comunidades em que os filhos estejam inseridos (localidade, escola, círculo de amigos, etc.).
Por exemplo, a maneira como somos vistos por nossos amigos faz com que passemos a investir em determinados comportamentos. Se o grupo costuma rir das brincadeiras de uma criança, ela se percebe como uma pessoa divertida e tenta repetir esse jeito de ser, incorporando-o para o resto da vida.
No seu livro No Two Alike (Não Há Dois Iguais) a Dra. Judith diz que os nossos genes serão responsáveis por cerca de 40% do que somos. Em segundo lugar vêm os amigos, a maior influência que recebemos. E, por último, a família. No caso dos pais, façam o que fizerem, eles não são capazes, sozinhos, de evitar (ou de os proteger) de outras influências muito poderosas e que vêm das comunidades em que os filhos estejam inseridos (localidade, escola, círculo de amigos, etc.).
Por exemplo, a maneira como somos vistos por nossos amigos faz com que passemos a investir em determinados comportamentos. Se o grupo costuma rir das brincadeiras de uma criança, ela se percebe como uma pessoa divertida e tenta repetir esse jeito de ser, incorporando-o para o resto da vida.
Mas nem todos os traços de personalidade, porém, sofrem
influência tão marcante das experiências pessoais. Já se comprovou que o
desenvolvimento da inteligência depende em grande parte de um ambiente familiar
que a estimule. Os geneticistas estimam que, em breve, será possível
rastrear regiões genómicas em quantidade suficiente para conseguir mais do que
pistas sobre a influência dos genes no comportamento. Graças à associação da
psicologia e da genética, está aberto o caminho para elucidar a anatomia da
personalidade.
EM CONCLUSÃO
Todos os nossos comportamentos são pois ditados por diversos fatores, desde os biológicos aos sociais. O social é um fator a considerar. Praticamente tudo o que somos, fazemos e como fazemos acontece no que se designa "campo social". Vivemos numa densa rede de influências e, como refere o filósofo espanhol J.A Marina, assim como as recebemos, também nós exercemos "influências educativas, boas ou más, por ação ou por omissão". Um velho provérbio africano diz isso mesmo: "Para educar uma criança é preciso a tribo inteira".
Tudo isso resulta na "personalidade aprendida" onde se incluem os traços mais estáveis e duradouros, e que se adquirem mais fortemente até ao fim da adolescência.
Por fim, genes e aprendizagens, contribuindo para a personalidade, deixam ainda espaço para o que Marina designa por "personalidade escolhida" - aquilo que, juntando hábitos, carácter e comportamento, desenha o nosso perfil final (mas não finito nem inflexível pois estaremos sempre mudando ao longo da vida tendo como base ou ponto de partida as nossas estruturas biológicas e genéticas).
Nelson S Lima
in "Evolução e Mudança", de Nelson S Lima, Ed. Ômega, Lisboa, 2016
EM CONCLUSÃO
Todos os nossos comportamentos são pois ditados por diversos fatores, desde os biológicos aos sociais. O social é um fator a considerar. Praticamente tudo o que somos, fazemos e como fazemos acontece no que se designa "campo social". Vivemos numa densa rede de influências e, como refere o filósofo espanhol J.A Marina, assim como as recebemos, também nós exercemos "influências educativas, boas ou más, por ação ou por omissão". Um velho provérbio africano diz isso mesmo: "Para educar uma criança é preciso a tribo inteira".
Tudo isso resulta na "personalidade aprendida" onde se incluem os traços mais estáveis e duradouros, e que se adquirem mais fortemente até ao fim da adolescência.
Por fim, genes e aprendizagens, contribuindo para a personalidade, deixam ainda espaço para o que Marina designa por "personalidade escolhida" - aquilo que, juntando hábitos, carácter e comportamento, desenha o nosso perfil final (mas não finito nem inflexível pois estaremos sempre mudando ao longo da vida tendo como base ou ponto de partida as nossas estruturas biológicas e genéticas).
Nelson S Lima
in "Evolução e Mudança", de Nelson S Lima, Ed. Ômega, Lisboa, 2016
"EVOLUÇÃO E MUDANÇA" (meu novo livro)
Foi lançado em Junho de 2016, meu novo livro. Seu título é "EVOLUÇÃO E MUDANÇA", da Editora Ômega, Lisboa.
Este livro reúne, em 300 páginas, 60 artigos escritos em diversos suportes (blogues, revistas, jornais, etc.) nos últimos três anos e pretende ser o ponto de partida para meu PROJECTO EVOLUÇÃO E MUDANÇA: actividades de autoconhecimento e promoção do desenvolvimento pessoal que se concretizará através de workshops, palestras motivacionais e outros meios, especialmente no Brasil, aproveitando minha ligação à Unifuturo - Faculdade de Ensino Superior do Nordeste (Paraíba).
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