Tive sempre uma relação afectiva com a natureza, em especial
com os grandes espaços como o céu, as pradarias, os desertos, os grandes deltas
e o mar.
Já sobrevoei oceanos e já neles naveguei. Já atravessei o
Atlântico Norte de barco entre Funchal-Nova Iorque e Nova Iorque-Bilbao
(Espanha) num total de 23 dias.
Tenho doces recordações de quando ainda muito jovem me
sentava na praia a olhar o mar imaginando os mundos que ficariam para lá do
horizonte.... Foi nesses momentos - e tantos foram - que me punha a fazer
planos para a vida.
Perante aquela imensidão de água e sobretudo quando os meus
pensamentos se alargavam até à linha indefinida que, lá bem distante, separava
o mar do céu azul, eu idealizava aquilo que esperava da vida e pelo qual estava
disposto a lutar.
Ainda ontem fui à beira-mar, a uma praia onde me sentei num
bar. E voltou a acontecer. A minha mente como que se desprendeu de mim e de um
momento para o outro pus-me a pensar no futuro. E reencontei-me com os meus
desejos antigos.
A maioria têm-se cumprido e já passaram muitos anos desde
que faço esse exercício. E a vida que levo, agora aos 67 anos, está condizente
com o que eu queria e com o que sempre sonhei. Daí este meu fascínio pelo mar.
Lembro-me que quando tinha uns 14 ou 15 anos (não tinha
mais) adquiri um livro bastante completo sobre a história do mar (nunca li
livros infantis mas aventurei-me sempre por leituras "impróprias" da
minha idade - era o que os professores me diziam, ao ponto de me alcunharem de
"o poeta", "o cientista" da mesma forma que os meus
vizinhos me chamavam "o psicólogo"). Enfim....podia ser pior.
E, assim, acontece que tenho necessidade de viver em cidades
junto ao mar. Nas terras do interior, por muito bonitas que sejam, sinto-me
fora do meu meio. Eu preciso do mar. Da mesma forma que preciso de, nas noites
de verão, contemplar a vastidão do céu pontilhado de "estrelas" e de
mundos eternos....para nele ir buscar outras ideias.