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QUEM SOU. A minha insatisfação permanente.

Recentemente, uma jornalista de conhecida revista, pediu-me para responder a algumas questões de forma sintética visando incluí-la num livro cujo título ainda não está decidido. Com a sua autorização, transcrevo aqui algumas das perguntas. E as respostas para vos ajudar a conhecerem-me melhor. As minhas respostas foram dadas pensando o menos tempo possível para que saíssem em bruto, o mais fiel possível, sem auto-censura.


- COMO SE AUTO-DEFINE?
- Um homem com algumas certezas sobre a permanência da incerteza. Um homem que viveu e sofreu metamorfoses várias, e que se sente em nova fase de transformação. Tendo quase 68 anos continuo cada vez mais diferente dos da minha idade, como se eu estivesse a desacelerar a entropia (o que leva ao envelhecimento) ou então a seguir por outros caminhos que não sei onde vão dar. Já me questionei se, caso fosse avaliado por um psiquiatra, ele não estaria tentado a atribuir-me um transtorno qualquer (um sujeito "anormal" como eu, tem, por detrás, uma doença de foro mental a justificar os comportamentos desajustados da sua idade). Vivo numa insatisfação permanente porque preciso de viver mais - mais amplamente - para poder saber mais e descobrir mais. 

- O QUE O FASCINA?
- O desconhecido. Até mesmo aquilo que desconheço de mim mesmo seduz-me e empurra-me para a auto-descoberta. É um processo que se renova a todo o momento mas que deixa as pessoas, por vezes, confusas. Fascina-me aquilo que entendemos por Sabedoria e Maturidade e que inclui a Reflexão, o Senso Crítico e as diferentes "visões do mundo". Atrai-me o futuro e o muito que ele nos vai trazer de transformações radicais nos próximos tempos. Tenho pena que as pessoas não se preocupem com isso e depois se queixem por o mundo ter mudado. Admiro as mentes brilhantes que têm feito do mundo um lugar melhor do que alguma vez foi.

- O QUE DETESTA?
- A alienação em que as pessoas vivem e sobretudo aquela que transmitem aos mais novos, muitos deles já alienados por modas, marcas, ídolos, necessidade compulsiva de projeção e de fama. Não compreendo como crianças de 14 e 15 anos podem estar 3 dias ao frio e à chuva na rua só para garantirem um bom lugar num concerto de um cantor da moda. E questiono-me sobre o tipo de pais é que permitem isso e porque os filhos faltam às aulas para poderem fazer aquilo tipo de disparates. Detesto também a mesmice, o seguidismo, a politiquice e o conservadorismo das instituições como os Estados, os Governos e os Partidos, sejam de Esquerda ou de Direita (aliás, esta distinção está mais do que ultrapassada).

- E EMOCIONALMENTE, COMO É?
- Ansioso e muito psicossomático. Sou um sentimental pragmático. Criativo e prático. Adoro a gentileza e a simpatia verdadeiras. Apaixono-me por muitos projetos mas que abandono sem problemas quando sinto que não têm futuro. Amo o conhecimento e por isso devoro livros e revistas de muitas matérias. Gosto de partilhar o que aprendo. Não gosto de ser um professor convencional mas sim ser um desafiador do pensamento daqueles que podem aprender comigo (a quem chamamos alunos).

- VIVÊNCIAS INESQUECÍVEIS?

- Davam um livro. Adoro a aventura e tive muitas experiências formidáveis. A minha infância foi intensa. Era um líder nato. Adorei também a forma como arranjei o meu primeiro emprego com 6 empresas interessadas em mim, e a quem desafiei a convencerem-me que eram as que eu merecia. Outro momento inesquecível foi ter conhecido uma Miss Finlândia tinha eu 17 anos e entrevistá-la para a Rádio Renascença. O ter sido chamado à Embaixada da Finlândia para receber um presente do Presidente da República daquele país por ter criado a Associação Juvenil Luso-Finlandesa e divulgado o seu país em Portugal (nos anos 60). Foi o atravessar o Atlântico (para lá e para cá, num cargueiro), ter visto peixes-voadores e deslumbrar-me com Nova Iorque, de noite, quando o barco lentamente se aproximou da costa americana. O ter sido piloto de automóveis. O ter criado uma revista de desportos radicais quando ninguém sabia o que isso era (e como consequência a revista faliu por falta de leitores). Ora bem, ainda estou a falar de coisas que aconteceram antes de chegar aos 35 anos de idade. Fica a amostra.