O meu trabalho de pesquisa sobre Biologia Evolutiva, visando
uma nova pós-graduação, centra-se no impacto da evolução da cultura (desde há
10.000 ou 12.000 anos) no estado de saúde do homem atual e, obviamente, o que
aconteceu até aqui.
Leia sempre os rótulos e tenha cuidado com o excesso de açúcar, sal, leite, gordura trans, trigo e amido que quase todos os alimentos industrializados contêm. E não se esqueça também que a fruta que hoje ingerimos é manipulada industrialmente.
É surpreendente como, a partir de uma certa época (a
invenção da agricultura) houve uma transformação radical nas condições de vida
dos humanos não para melhor como seria de esperar mas para pior. Nesse
capítulo, como não houve tempo para evolução biológica (é muito mais lenta), a
evolução cultural (que alterou hábitos, modos de vida, transformação de
alimentos e até condições higiénicas) passou a ter um papel crucial na saúde
dos humanos.
A evolução cultural trouxe o sedentarismo, as grandes
crenças e religiões organizadas, a aquisição e transmissão de novos estilos de
vida, mudanças profundas na dieta alimentar e novas doenças. Para muitos poderá
ser surpresa que os achados arqueológicos mostrem que os nómadas (quer eram
caçadores-recoletores) tinham melhor saúde do que os que viviam em comunidades
e dependentes da transformação crescente dos alimentos.
Aos poucos o homem foi transformando plantas que antes eram
silvestres e modificou radicalmente a dieta. O sedentarismo trouxe também
doenças devido às más condições higiénicas com que se vivia nos grandes
aglomerados. Ratos e parasitas passaram a fazer parte do "habitat"
humano enquanto a sujidade aumentava de forma assustadores dando origem a
grandes pragas frequentes.
Ainda estamos nesse ciclo que foi amplificado pela revolução
industrial. Se é um facto que ela trouxe benefícios de origem tecnológica e
mais conforto também temos de dizer que as condições de vida pioraram em
cidades que já albergavam milhões de habitantes pobres nos finais do século 19.
Ao contrário de há 20 ou 30 mil anos, em que tudo o que
alimentava o homem era produto da natureza (desde a caça à fruta e outros
vegetais silvestres), atualmente é raro aquilo que comemos oriundo de produtos
naturais, mesmo aqueles que chamamos de biológicos (agricultura biológica).
A introdução do açúcar, do sal e do amido em grandes
quantidades na nossa alimentação deve-se à indústria alimentar. E, como todos
sabemos (ou devíamos saber) esses alimentos (incluindo os lácteos) estão hoje
comprovadamente classificados como causadores de uma série de patologias (onde
destaco a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e outras) que eram
desconhecidas nos tempos antigos.
Produtos refinados e processados de mil maneiras enchem hoje
as nossas dispensas e é ali que vamos buscar os nossos alimentos. Uma crescente
percentagem de pessoas vive 80 ou mais anos mas à custa da medicina e de
fármacos que procuram tratar sintomas, mantendo-as com uma série de doenças
crónicas.
Leia sempre os rótulos e tenha cuidado com o excesso de açúcar, sal, leite, gordura trans, trigo e amido que quase todos os alimentos industrializados contêm. E não se esqueça também que a fruta que hoje ingerimos é manipulada industrialmente.
Nelson S Lima
Colaborador da Stop Cancer Portugal