Na
última década, a nossa atenção tem-se focalizado bastante na importância das
emoções na nossa vida. Aprendemos a reconhecer que existem emoções primitivas e
instintivas como o medo e a ira e emoções sociais como a vergonha ou o
desprezo. Percebemos também que as emoções podem ser simples ou, então,
combinadas, o que nos oferece um cardápio extraordinariamente variado que
vivemos conforme as diferentes situações da vida. Soubémos também que as
emoções geram-se a partir do corpo e exprimem-se também no corpo. Elas são, de
facto, muito físicas e reactivas, mais do que os sentimentos que são mais
psíquicos e duradouros, como o amor. E também descobrimos que as emoções
interferem na nossa percepção sobre a vida.
Foi
o filósofo existencialista Sartre quem, em meados do século XX, disse que as
emoções mudam a qualidade com que vivemos e transformam o nosso olhar sobre a
existência. Se estivermos tristes veremos o mundo sob um manto mais cinzento do
que se estivermos alegres. São, pois, cruciais para a experiência do viver, em
especial nas relações com os outros. Por isso, ensinaram-nos a desenvolver a
inteligência emocional para nos conhecermos melhor e adoptarmos atitudes e
comportamentos que nos garantam mais sucesso na interacção com os outros
Ultimamente
tenho reflectido sobre uma outra importante capacidade que é decisiva na nossa
relação com o mundo e que influencia a gestação das emoções e dos sentimentos.
É a percepção.
Há
muito estudada, a percepção permite-nos, através dos sentidos, captar e depois
interpretar o mundo. Mas o processo é mais complexo pois é através da percepção
que nós também tomamos decisões e fazemos escolhas, incluindo estilos de vida.
A percepção leva-nos, através da aprendizagem, a estabelecer visões do mundo
próprias de cada cultura, de cada comunidade e de cada família.
Por exemplo, na
cultura japonesa mais tradicional, o amor traduz um sentimento ligeiramente
diferente do que sentimos no Ocidente. Ele é interpretado como um sentimento
que pertence a duas pessoas; na verdade, a verdadeira união em que o amor de um
é o amor do outro (o meu amor por ti é também o teu amor por mim). No Japão
tradicional, não há o amor de um só sentido como nas culturas ocidentais em que
pode não haver reciprocidade (eu sinto amor por ti e, espero, tu sentes amor
por mim).
Vem
tudo isto a propósito da cultura em que estamos mergulhados e que nos adaptou
às suas regras, crenças, dogmas, conceitos, etc. Ficamos, de facto,
prisioneiros da cultura que recebemos, incluindo a educação. Isto é
especialmente marcante nos primeiros seis anos de vida em que somos como
esponjas que absorvem tudo, de bom e de menos bom, e que vai constituir a nossa
personalidade e marcar os nossos comportamentos.
Já
adultos, mesmo na idade da sabedoria, continuamos de certa forma presos a
convenções, ideias e convicções que adoptámos durante a vida, muitas vezes sem
um mínimo de espíríto crítico que nos ajudasse a ser mais afirmativos e
independentes. Muitos nos nossos actos foram aprendidos inconscientemente e
reagimos da mesma forma: automaticamente.
Há
nisto um certo tipo de prisão e de obediência, mesmo julgando-nos livres para
afirmar que tudo não passa de escolhas pensadas. Sim, pensadas, mas resultantes
de respostas que ficaram para sempre condicionadas por aquilo que nos
ensinaram. Lembremo-nos que, durante milhões de anos, as pessoas pensavam que o
Sol andava a volta da Terra, todos os dias. Isso influenciava a forma como elas
viviam.
Ainda
há muitas percepções erradas como esta e que condicionam a nossa vida. Se
quizermos continuar a evoluir, teremos de ser mais críticos.