Num mundo cada vez mais accionado pelos interesses materiais
e económicos é importante não esquecermos a natureza humana e espiritual de que
também somos feitos. Todos somos um EU, uma pessoa completa e diferente de
qualquer outra. Todos temos um cérebro, tantas vezes demasiado racional e
objectivo, que contem igualmente células carregadas de energia espiritual e não
apenas psíquica. É essa natureza espiritual e humana que devemos cultivar,
partilhar e difundir.
Espiritualidade que não é sinónimo de religiosidade. Eu, por
exemplo, sendo um ser também espiritual não sou, todavia, religioso. Na
verdade, confesso, as religiões nem sempre são boas conselheiras pois muitas
vezes cometem tremendas injustiças, são dominadoras, manipuladoras da mente e
das emoções, conduzindo ao fanatismo, à fé cega e desprovida de sentido
crítico.
A espiritualidade tem mais a ver com o mundo dos
sentimentos, das profundidades do nosso ser, com a intimidade humana da alma.
Se acreditamos num Deus ou não isso para mim não é importante pois, como disse,
a espiritualidade não obriga a que sejamos seguidores de uma religião ou de um
credo.
Ser espiritual é colocar ao nível da inteligência do nosso
quotidiano atitudes, comportamentos e práticas dotadas de valores, princípios e
normas que reforcem o nosso carácter e a capacidade de tomarmo decisões justas e
honestas. Ser espiritual é, na verdade, ser inteligentemente humano.
Finalmente, agora que todos os dias e a todas as horas nos
anunciam um ano muito problemático, é importante que os decisores políticos e
os detentores do capital levem em conta que não somos apenas consumidores,
pagadores de impostos, gente anónima e sem poder algum nas mudanças que
transformam o mundo. Cada pessoa encerra em si um capital intelectual,
emocional e espiritual que não pode ser ignorado nem desprezado por ninguém,
muito menos pelos senhores do mundo.
Cultivemos pois a nossa inteligência não apenas através da
valorização do nosso conhecimento mas também através da harmonia e da paz que
têm como fonte de inspiração a nossa espiritualidade. E saibamos ser
saudavelmente críticos e auto-críticos para gozarmos a plenitude dos nossos
recursos e talentos. Por isso, usemos também o direito à indignação e ao
protesto. Sem medos, nem inibições.