Com muita frequência ouvimos dizer que é melhor não
arriscarmos demais, num mundo que se mostra cada vez mais complexo, incerto e
inseguro. A alternativa é a estabilidade, o deixar as coisas correrem sem
fazermos muitas "ondas", mantendo-nos agarrados à nossa zona de
conforto.
Não é um mau conselho. Sim, é uma forma possível de se levar
a vida evitando tanto quanto possível surpresas por nos arriscarmos demais,
nomeadamente no mundo dos negócios, na vida profissional, nas carreiras
independentes, etc.
Mas tenho visto que muitas pessoas, sozinhas ou associadas
com outras, têm decidido mesmo arriscar, algumas deixando o emprego para trás e
para encetar um novo rumo às suas vidas.
Ora esta é uma regra de ouro, hoje em dia: a de arriscarmos,
ponderando todos os prós e contras, mas não desistindo só porque isso significa
mudar, e por vezes mudar muita coisa.
Mudar faz parte da evolução e aplica-se a muitas outras
áreas da vida humana quando sentimos que estamos a ficar saturados ou a
precisar de enfrentar novos desafios.
Seth Godin, considerado uma das mentes mais brilhantes da
área dos negócios e do marketing (áreas que exigem muita ação, ideias e
espírito empreendedor), deixou confusas algumas pessoas quando afirmou que
"a vida inteira mentiram-nos porque não há risco maior do que não correr risco
nenhum" (veja o site do autor em www.sethgodin.com).
Ele é um dos inconformistas mais destemidos que conheci na
minha vida profissional e um exemplo de criatividade, tendo uma visão do mundo
que deixa muitas pessoas estupefactas, incrédulas.
Caterina Fake, fundadora do Flickr (o conhecido site de
hospedagem e partilha de imagens fotográficas - ver www.flickr.com - não lhe
fica atrás e aborda o tema dos vírus mentais que nos contaminam. Disse ela:
"hoje em dia toda a gente procura a ATENÇÃO dos outros; o problema é que
isso tornou-se na mais irresistível das drogas". Mas é uma droga boa? Não
quando ela ofusca "qualquer outro tipo de recurso que podemos ter para dar
aos outros e ao mundo".
Vemos hoje uma sociedade carente de atenção. Escrevem-se
livros sobre isso pois é cada maior o número de pessoas que dela carecem.
Vejam-se as televisões e esse mundo cada vez mais alargado de gente famosa. De
que vivem elas? De atenção. Não são lá muito originais no processo mas fazem o
que podem para estar nas bocas do mundo.
Não são o melhor exemplo de inconformistas pois a maior
parte dos "famosos" que conhecemos - especialmente do mundo do
espectáculo - são personalidades frágeis e facilmente descartáveis. Podem ter
muito talento mas o mundo procura novidade e há cada vez mais novos talentos.
E, assim, a reciclagem humana está na ordem do dia, até nos empregos.
De nada serve reclamarmos contra os poderes instalados e o
sistema. A sociedade evoluiu assim desde há muitos milhares de anos. Então, o
que temos de fazer é elevarmo-nos como pessoas, puxarmos pelas nossas
capacidades e saberes, e arriscarmo-nos a mudar. Mudar é pois a palavra-chave,
por muito batida que ela esteja.
Eu sou de opinião que não é o mundo que tem de mudar, mas
nós próprios, cada um com o seu próprio esforço, servindo de exemplo aos outros
que, embora reclamando e protestando, pouco mais fazem (e alguns até
conseguiriam mais do que fazem). E se todos o fizermos, então o mundo mudará.