O problema maior da medicina é, em meu humilde entendimento,
o de não dar a devida atenção ao doente e à capacidade de auto-cura do seu
organismo.
Quando falo em "doente" quero com isso dizer tudo
o que ele é: uma personalidade única (não há dois doentes iguais), com
capacidades únicas, incluindo tudo o que se refere à sua saúde em particular.
Muitas pessoas têm mal-estares e doenças cuja resolução não
passa pela imediata receita de algum complexo químico (como são todos os
medicamentos) mas antes pela pesquisa do que pode estar a originar as suas
queixas. O diagnóstico é a etapa mais decisiva no processo da cura.
Os médicos queixam-se que não têm tempo (para nos atender e
entender) e culpam os sistemas de saúde (com a sua organização geralmente mal
construída). Mas muitos deles também não sabem fazer um diagnóstico apesar de
seguirem certos protocolos, infelizmente incompletos e que ignoram os doentes
como pessoas (com sua psicologia, suas crenças, suas ideias, seus estilos de
vida, sua visão do mundo e até seu entendimento do que significa a saúde).
A medicina é uma atividade multidisciplinar. A doença não é
apenas "a doença". Ela "é" o doente, o seu portador. E o
doente, se "quiser" ou até sem querer, pode sabotar completamente a
atividade médica ao não ser honesto consigo mesmo e com o médico. É que os
doentes também mentem e enganam (ou por medo, ou por qualquer outro motivo)
deixando a medicina incapaz de o ajudar.
O EXCESSO DE MEDICAÇÃO
Mas não será tudo isso consequência de uma medicina que está
mal estruturada, muito focalizada na cura e não tanto na prevenção e na
auto-cura? Não será porque a medicina confia demasiado em medicamentos que têm,
na generalidade, efeitos contrários aos desejados e que o paciente não sabe?
Muitos medicamentos são, eles próprios, os causadores de
doenças, alergias, agravamentos (por vezes fatais) e incompatibilidades (até
mesmo com a natureza psicossomática do doente) impedindo que o corpo se
auto-regenere. Muitos medicamentos fazem precisamente o contrário ao impedirem
o sistema imunitário e a inteligência do organismo de agirem com todo o seu
vigor. O nosso organismo, convém lembrar, é fruto de milhões de anos de
evolução e em geral é de muito boa qualidade (pelo menos no momento de nascer).
Mas damos-lhe muitos maus tratos (nós, a medicina, a educação, a sociedade em
geral).
A nossa saúde parece então estar cada vez mais dependente da
medicina e não tanto do nosso estilo de vida, de nossa psique, de nossa
alimentação, de nossa forma de estar na vida.
Continua a ser estranho para mim que haja tantas pessoas
doentes, sobretudo neste mundo dito civilizado onde a qualidade de vida e as
condições de higiene melhoraram consideravelmente.
Penso que a medicina (e nós próprios relativamente à nossa
saúde) necessita de uma mudança qualquer que a torne mais eficiente e com menos
custos para todos. Tal e qual como na educação.
Infelizmente, nestas coisas, que são fundamentais, somos
excessivamente lentos a mudar. O pensamento conservador ainda predomina.
Quando é que ousamos mudar de comportamento? Porque temos
nós tanto medo (por vezes, inconsciente) de mudar o que inevitavelmente tem de
ser mudado?