Desde há uns vinte anos que leio livros relativos à
educação, sobretudo dedicados à sua reforma e, muito em especial, obras que
apontem para a inovação e a modernização inteligente no ensino escolar.
Ora bem, passaram-se todos esses anos e continua-se a
escrever sobre o tema. Percebe-se. É como a saúde. Quer um, quer outro são
matérias da máxima importância social, pelo que, como tal, são temas
recorrentes.
Só que, pelo menos no que à educação diz respeito, não tem
havido grandes ideias e, por isso, não se verificam inovações, as tais que o
setor carece cada vez mais e à medida que o mundo do conhecimento (e o mundo em
geral) se vai transformando rapidamente.
Um grande pensador americano, Peter Drucker, afirmou um dia
que "a educação é o setor da sociedade que mais lentamente evolui"
sendo preciso esperar décadas para que uma qualquer boa ideia - chamemos-lhe
criação - se reflita integralmente no sistema.
O que retenho de mais curioso dessa reflexão de Drucker é a
lista de culpados (sim, fica melhor do que dizer simplesmente
"responsáveis") da situação pelo atraso em que o ensino se encontra
em muitos países (nomeadamente países chamados "ocidentais"). Ora
vejam só:
- os pais dos alunos
(geralmente, no que se refere à educação dos filhos, eles não simpatizam com
mudanças que ponham em causa o seu próprio entendimento do que deve ser a
educação);
- os alunos (eles aceitam algumas mudanças desde que estas
não lhes exijam mais esforço ou que sejam muito diferentes do que entendem ser
a escola, a não ser que lhes retirassem disciplinas que muitos abominam tais
como a matemática, a história, a filosofia, etc.);
- os professores (com a devida licença, deixem-me dizer que
os professores também não se mostram muito colaborativos em mudanças de
formato, de conteúdos e outras "revoluções" mais sérias ao estilo de
Edgar Morin - ler "Os 7 Saberes da Educação", uma verdadeira bíblia
para quem ensina); e, finalmente,
- o Estado (geralmente representado pelos Ministérios da
Educação que, vivendo já atolados em burocracias e em constantes
(des)arrumações na máquina administrativa e nos recursos humanos, em especial
os professores, não têm "cabeça" nem competência para pensar em mudar
aquilo que se ensina e como se ensina).
Ora bem, isto dava "pano para mangas" mas não é
aqui o lugar ideal para o fazer.
LIBERDADE PARA INOVAR
Em muitos países que eu conheço o problema não é assim tão
grave pois vivendo neles povos por natureza organizados já resolveram a maioria
dos problemas burocráticos dos respetivos ministérios da educação e, por isso,
têm mais tempo e calma (e até liberdade) para pensarem na inovação no ensino.
Entretanto, continuam a escrever-se os tais livros sobre
educação, cada autor propondo ideias, pistas e até interessantes soluções para
um melhor ensino só que, com raras exceções, estão a perder tempo (a não ser dando
o seu contributo científico, filosófico ou moralista) pois ninguém lhes liga
(raro é, se é que já aconteceu, um livro sobre educação tornar-se num
"best-seller").
Houve em tempos uma conhecida editora que me convidou a
escrever um livro sobre "educação". Pensei no assunto e disse dá para
os meus botões "eu tenho algumas ideias, que até podem ser consideradas
anormais mas acredito nelas". Mas não vou escrever o livro. Não. E jamais
o farei.
Ia arranjar muitos inimigos e meter-me em sarilhos (bastou-me
um dia ter dado uma entrevista sobre a "reforma da educação" a um
conhecido jornal e meia dúzia de supostos professores, a coberto do anonimato -
isto do anonimato dá muito jeito nestas coisas - desancaram na minha pessoa que
até fiquei atordoado com a falta de caráter demonstrada. Curiosamente, essa
mesma entrevista levou a que outros professores, mais alinhados com as minhas
ideias, me tivessem convidado a proferir uma série de palestras sobre o tema, o
que fiz com todo o agrado e sem que alguém me tivesse adomestado).
Continuaremos a ouvir a palavra "educação" no rol
daquelas que são centrais para a modernização de uma sociedade, tal como
acontece com a "saúde", a "justiça", etc., e que estão
sempre na boca dos políticos e depois refletidas nos jornais e nos tais livros.
Acontece que atualmente já não iremos com reformas
educativas (remendos) mas com uma revolução de alto a baixo. Mas quem é o
ministro (ou o Governo) que tem coragem para mexer nos interesses (e
comodismos) instalados, nomeadamente nos sindicatos (extremamente conservadores
para o meu gosto), nos pais igualmente conservadores nos seus padrões mentais,
nos alunos e nos professores (aqueles que teriam de aceitar uma reciclagem da
sua própria formação)? Provavelmente, como acontece noutras coisas humanas, vai
ser tudo feito à pressa e por força de circunstâncias para já imprevisíveis.
E aqui nada mais tenho a dizer nem a acrescentar (embora a
lista de erros colossais que a educação tem vindo a acumular comece a ser muito
preocupante para o futuro dos jovens estudantes que vão encontrar uma sociedade
para a qual estão cada vez menos preparados).
Nelson S Lima
Nelson S Lima