Para muitas pessoas, o fator sorte tem um grande peso na
saúde. Ou seja, para elas esta depende muito de circunstâncias que escapam ao
seu controlo. E daí a sua influência por vezes dramática nos diferentes
domínios da vida.
Acontecimentos casuais, aleatórios, acasos impensáveis e
outros elementos que, se revelados, se mostrariam absurdos e inacessíveis à
compreensão, fazem parte da nossa vida. Todos os dias somos surpreendidos por
ocorrências imprevisíveis, geralmente de pouca importância e às quais nem
prestamos atenção. Mas a nossa vida também está cheia de surpresas, nem sempre
boas.
E, assim sendo, desde sempre o ser humano considerou a sorte
um fator muito importante, pelo que foi criando ao longo de milénios diferentes
estratégias para o alcançarem. Os antigos gregos, por exemplo, confiavam as
suas vidas a Moros, o seu deus da sorte e do destino.
Mesmo agora no imaginário popular, a sorte é algo
indeterminado que depende de forças estranhas e ocultas pelo que as pessoas
depositam a sua confiança na intervenção de energias superiores, nomeadamente
entidades divinas ou, mais vulgarmente, em pessoas que se anunciam dotadas de
poderes mágicos para manipularem a sorte (e o destino) dos seus clientes.
No que toca à saúde, a sorte também aparece como um fator
decisivo. As pessoas esperam que, com alguma sorte, se mantenham saudáveis. É
por isso que, muitas vezes, certos sinais de alerta do organismo são ignorados
ou desvalorizados porque se espera que a sorte cumpra a sua função e o
problema, se resolva.
ABUSAR DA SORTE
O assunto agrava-se quando, confiando na sorte, as pessoas
desafiam as leis da vida e arriscam para além dos limites daquilo que chamamos
“bom senso” (a que não é estranha a “prudência”). Nessas alturas, elas abrem as
portas ao perigo, confrontando o destino e comportando-se como jogadores.
Muitas vezes, não se trata de audácia (“a sorte protege os
audazes” – dizem) mas de pura negligência. E aí, sim, a saúde e a própria vida,
podem ficar excessivamente nas mãos da sorte e do acaso.
De facto, o comportamento negligente, muito visto em pessoas
que geralmente se consideram com sorte, é um dos principais causadores de
acidentes, doenças e outros infortúnios.
Como diz o povo, “abusar da sorte” não é uma boa forma de se
estar na vida. Aliás, pode ser uma aventura perigosa desafiar o desconhecido,
isto é, aquilo que resulta como consequência de atitudes, decisões, escolhas e
condutas impensadas e estúpidas.
Concluo dizendo que, na saúde, não devemos confiar apenas na
sorte para ela nos proteger dos problemas ou ajudar a resolvê-los. É necessário
que estejamos preparados para nos envolvermos no governo do nosso bem-estar,
atuando preventivamente e ajudando também o organismo a recuperar dos problemas
quando eles ousam dominar-nos.
A sorte, da mesma forma que a esperança, não são dons com
que nascemos. São fatores que podem jogar a nosso favor se não deixarmos tudo
nas mãos do acaso. Essa mudança de atitude pode, em muitas circunstâncias,
salvar-nos a vida.
Nelson S Lima
Colaborador da STOP CANCER PORTUGAL