Relações humanas, entre o real e o virtual |
A conhecida escritora Inês Pedrosa, numa recente entrevista
à "Visão", disse que a "amizade virtual vale zero". E sobre
isso nada mais acrescentou. Eu também já tive a mesma opinião sobre as amizades
que aqui se fazem mas depois fui mudando e percebendo que também há amizades
verdadeiras mesmo que, tecnicamente falando, possamos consentir chamá-las de
"virtuais" (o que não significa que sejam "falsas" ou
"inexistentes").
Nas relações humanas, aquilo que é "virtual" é
entendido como algo que não é formalmente verdadeiro (mas que também não é
falso) e aciona o nosso cérebro para lhe dar algum "corpo", o que nos
ajuda a aceitá-la como estando próximo da realidade conforme nossos sentidos
nos dão a perceber.
A "realidade virtual" é, com efeito, uma realidade
feita de outros elementos mas onde o principal ponto é que não se pode tocar,
cheirar e "sentir" a presença de alguém (e não nos iludamos: esses
sentidos são deveras importantes nos animais sociais).
Conheci pessoas e realizei amizades neste mundo virtual,
feito de imagens e sons, mas sem o toque nem o cheiro. Não obstante, algumas
tornaram-se fortes e viçosas. Outras distinguem-se pela sua presença constante
e leal. E outros relacionamentos, tal como na vida "real", ficaram
perdidos na distância e no silêncio.
Há um estudo que diz que, acima de 150 pessoas, é difícil
mantermos contactos regulares com todas elas. E isso eu constato. Tendo mais de
4.600 pessoas registadas na minha página do Facebook é-me completamente
impossível, por exemplo, acompanhar o que todos escrevem e comunicam.
A maioria mantém-se, outros afastam-se por algum motivo (e
pode haver muitos motivos perfeitamente honestos e compreensíveis) e não sei
mais deles. Perderam-se na "núvem" - este universo de conexões
imensas que assenta na internet (e que eu gosto de chamar
"sociosfera").
QUANTO VALEM AS AMIZADES VIRTUAIS?
Vem tudo isto a propósito do valor da "amizade
virtual". Se para a escritora Inês Pedrosa "vale zero" (opinião
que respeito) para mim a "amizade virtual" valerá mais ou menos
conforme nós a cultivarmos e investirmos nela. Pode então haver belas amizades
"virtuais", melhores, mais honestas e íntegras do que muitas e
hipotéticas amizades "reais" que qualquer um de nós terá.
As regras da "amizade virtual" são simples. Não
diferem da "amizade real". O que torna qualquer uma delas importante
é o que elas significam para nós. Tenho "amigos virtuais"
de que não prescindo. E isso quer dizer que eu estou nos dois mundos (se bem
que o filósofo Pierre Lévy tenha declarado que ambos são reais, distinguindo-se
apenas na forma como estamos em cada um deles).
Sejam pois bem-vindos os "virtuais" tanto como os
"reais". A amizade será o que quisermos que ela seja. E isso é da
responsabilidade de cada um de nós.
Nelson S Lima