A intuição é uma faculdade que está presente em quase todas as tomadas
de decisão, mesmo nas mais complexas. A sua importância é tal, que um dos seus
estudiosos recebeu um prémio Nobel pelo trabalho sobre a intuição nas tomadas
de decisão (Herbert A. Simon, Nobel de Economia em 1978).
Há autores que nos aconselham a seguir mais as intuições do que a
lógica dos raciocínios ponderados. Mas não será arriscado confiar assim tanto
na intuição dada a sua natureza subjetiva? Talvez. Mas depende de cada caso e depende das
pessoas, já que a natureza e a segurança da intuição variam de pessoa para
pessoa. De facto, há pessoas bastante intuitivas, enquanto outras são um
desastre (as suas intuições não são de confiar).
Reconsideremos a definição. Segundo as últimas propostas dos
investigadores, a intuição é um processo que assenta em mecanismos mentais
inconscientes ligados à percepção, à aprendizagem e à memorização em si mesma.
Tudo reunido chega-se à conclusão que a intuição pode
também ser entendida como uma forma de «conhecimento implícito», ou seja, um
conjunto de informações que guiam as pessoas nas tomadas de decisão e nas ações
sem que elas tenham consciência da sua proveniência.
O segredo reside no facto de captarmos muita informação e aprendermos
muitas coisas sem que tenhamos consciência disso. A nossa mente consciente tem uma capacidade limitada de gerir a informação
mas a um outro nível e através das várias portas sensoriais (os sentidos) há
mais informação que é assimilada.
RESSONÂNCIA EMOCIONAL
O psicólogo canadiano Eric Berne, o pai da «análise transacional»,
referiu que o «conhecimento intuitivo» é construído a partir de elementos
sensoriais discretos (ou subliminares) em que a percepção e a síntese ocorrem
abaixo do nível da consciência. Na verdade, o pensamento, a memória e o
comportamento funcionam de forma permanente sob um duplo nível: consciente e deliberado por um lado e não‑consciente e automático por outro.
O cérebro tem como uma das suas principais responsabilidades a chamada regulação vital. Capta a todo o instante os sinais
(informações e estímulos) vindos do exterior e
do interior do corpo e toda essa informação
que chega de forma ininterrupta contribui para o estabelecimento das atividades mentais, em especial das vivências emocionais.
Talvez todo este trabalho de cartografia sensorial possa colaborar na
formação da intuição. A intuição alimenta-se das experiências e informações acumuladas ao longo do tempo. Será pois uma espécie de arquivo
inteligente guardado na memória implícita.
Todd Lubart, da Universidade Paris V, elaborou uma teoria a que chamou de «ressonância emocional» que também ajuda a explicar
a intuição. Através desse processo, cada
elemento que se apresente na nossa
memória é associado a traços emocionais, correspondentes a experiências vividas anteriormente.
Cada vez que nos confrontamos com as várias situações da vida, o
cérebro estabelece umaligação com os conhecimentos armazenados levando a uma
associação criativa de conceitos na nossa mente (isso ajuda‑nos a manter‑nos conhecedores
do mundo que nos rodeia e a entender o que se passa). É um trabalho contínuo de
reconhecimento da realidade e que nos permite cartografar mentalmente o que se
passa remetendo todo o material novo para a memória, associando ao que já lá
existe armazenado.
Se a inteligência é o resultado de uma série de conjugações e de
fatores, podemos admitir que a intuição não lhe é estranha. O indivíduo inteligente
é alguém que sabe usar a sua intuição. Ele aprende a ler nas subtilezas dos
eventos, nos pormenores que escapam à maioria. E faz outra coisa deveras
importante: reúne muita informação. Não se satisfaz apenas com o que sabe, é um
curioso e gosta de saber mais e mais, indo além da sua especialização. A sua
intuição é assim o resultado de saberes e experiências acumuladas.
Se é verdade que tomar uma decisão consiste numa análise da tarefa, na
planificação, na decomposição e na seleção de uma estratégia especial de
execução, não é menos verdade que a informação, a emoção e a intuição são três
forças que não podem ser ignoradas.
Razão versus emoção é a equação das decisões inteligentes (prudentes, ajuizadas,
críticas). A intuição fornece impressões que partem de um outro nível, menos
precisa na sua definição mas amplamente usada pelas pessoas inteligentes. É um
saber que não se sabe de onde vem (estará espalhada por diferentes regiões do cérebro) mas que está lá
na hora das decisões, pronto a ser usado.
A elaboração mental de uma escolha deve pois juntar a razão, a emoção, a
memória e a intuição. É certo que nada fica garantido quanto ao sucesso de uma
decisão, pois muitos outros fatores nos escapam. Mas isso trata‑se de um risco que sempre corremos e do qual é difícil fugirmos.
Diz‑se também que a intuição é uma forma de inteligência muito
antiga, que ainda possuimos. Em épocas primitivas, em que o saber era muito
reduzido e pouco se conhecia do mundo, a mente humana desenvolveu um sentido de
sobrevivência baseado em impressões e emoções primordiais que ajudaram a
desenvolver a intuição. Esta explicação agrada-me.
Nelson S. Lima