Tive sempre uma relação afectiva com a natureza, em especial
com os grandes espaços como o céu, as pradarias, os desertos, os grandes deltas
e o mar.
Já sobrevoei oceanos e já neles naveguei. Já atravessei o
Atlântico Norte num navio cargueiro entre Funchal-Nova Iorque e Nova
Iorque-Bilbao (Espanha) num total de 23 dias.
Tenho doces recordações de quando ainda muito jovem me
sentava na praia a olhar o mar imaginando os mundos que ficariam para lá do
horizonte.Foi nesses momentos - e tantos foram - que me punha a fazer planos
para a vida.
Perante aquela imensidão de água e sobretudo quando os meus
pensamentos se alargavam até à linha indefinida que, lá bem distante, separava
o mar do céu azul, eu idealizava aquilo que esperava da vida e pelo qual estava
disposto a lutar.
Lembro-me que, quando tinha uns 14 ou 15 anos (não tinha
mais), adquiri um livro bastante completo sobre a história do mar. Nunca li
livros infantis mas aventurei-me sempre por leituras "impróprias"
para a minha idade - era o que os professores me diziam, ao ponto de me
alcunharem de "o poeta", "o cientista" da mesma forma que
os meus vizinhos me chamavam "o psicólogo".
E, assim, acontece que tenho necessidade de viver em cidades
junto ao mar. Nas terras do interior, por muito bonitas que sejam, sinto-me
fora do meu meio.
Eu preciso do mar. Da mesma forma que preciso, nas noites
de verão, de contemplar a vastidão do céu pontilhado de "estrelas" e de
mundos eternos....para neles ir buscar outras ideias.
O mar em Dorset, no sul da Inglaterra, onde resido. Canal da Mancha, já perto do Atlàntico. |