A complexidade do mundo actual e as profundas mudanças que
se observam, permitem concluir que o futuro trará exigências cada vez maiores
para as organizações humanas e as pessoas em geral.
Em poucos anos passámos de um mundo baseado na indústria e
transporte para outro com base no conhecimento, na informação e na
inteligência.
Como alertou o professor Keith Devlin, autor de Goodbye
Descartes, "essa pesada dependência do conhecimento e da informação
aumentará nos próximos anos". E chama a atenção para o facto de, na nossa
Era, nenhum cidadão conseguir funcionar devidamente sem uma compreensão básica
da informação e avaliação do que é necessário para tornar esta última em
conhecimento. Como veremos, isto exigirá uma nova política de Educação e novos
modelos de Ensino.
Thomas Stewart acentua a importância das novas ferramentas
da sociedade. "O conhecimento - diz - tem muito mais valor e é mais
poderoso do que os recursos naturais, as grandes fábricas ou as chorudas contas
bancárias". Nasceu, por conseguinte, um novo "capital": o
capital intelectual. Este é constituído por material intelectual: conhecimento,
informação, ideias, propriedade intelectual, processos, especialização,
tecnologia e experiência. Na nova sociedade, estes materiais geram riqueza. São
uma espécie de matéria-prima da economia.
Qual o impacto que isto tem, por exemplo, nas empresas (a
mais representativa e mais comum das organizações humanas)? Tremendo. Peguemos
num exemplo: a Nike, um dos maiores e mais famosos fabricantes de calçado
desportivo. Na realidade, a Nike não fabrica nada. Se você é um operário da
indústria de calçado escusa de escrever-lhe a candidatar-se para um lugar na
linha de fabrico. A Nike não precisa de operários para nada. O trabalho central
da empresa é investigação e desenvolvimento de novos modelos de calçado
desportivo, design, marketing e distribuição. Quem então fabrica os produtos da
marca Nike? Outras empresas com quem a Nike estabelece contratos de produção.
Como a Nike muitas outras empresas seguem este estilo de gestão. Um outro caso
exemplar é a dos modernos aviões comerciais. São totalmente projectados em
computador sem desenhos nem maquetes feitas manualmente e são pilotados por
computadores a maior parte do tempo de cada viagem. O combustível é gasolina
mas o avião voa e depende de informação. Finalmente, vejamos o caso dos
automóveis actuais. Eles têm mais microchips do que quaisquer outras peças e a
sua electrónica custa mais do que o aço que os compõem. Os microchips, que hoje
estão em todos os aparelhos electrónicos, não mais são do que armazéns de
informação útil.
Como refere o professor T. Stewart, "a força muscular,
o trabalho das máquinas, o próprio trabalho produzido pela energia eléctrica
estão a ser contínua e progressivamente substituídos pela inteligência".
Podemos dizer que vivemos uma revolução à escala planetária
só que muito mais rápida, mais ampla e mais demolidora do que a Revolução
Industrial do século XIX. As novas "ferramentas" estão a crescer
exponencialmente mais depressa e a tornar-se mais baratas e mais poderosas do
que alguma vez aconteceu na história humana.
O investigador James Canton, presidente do Institute for
Global Futures, diz que os novos "tijolos" da economia são quatro:
bites, átomos, genes e neurónios! "Eles representam - escreve Canton - o
afastamento do aço e do petróleo do passado e apontam-nos uma remodelação
radical na economia e do poder das novas ideias".
Uma revolução inimaginável
Numerosos estudos sustentam que o futuro próximo e a médio
prazo (10 a 15 anos) será moldado por 8 inovações determinantes: a biomimética
(fabrico de produtos a partir da imitação dos mecanismos na Natureza), a
fotónica (utilização da luz para criar produtos), a nanobiotecnologia
(combinação de nanotecnologia com a biologia), a genómica orientada (utilização
da informação genética para produzir fármacos e alimentos), a biodetecção
(utilização da informação biológica para detectar riscos), os neurodispositivos
(micromáquinas para reparar funções cerebrais), nanoenergia (para a criação de
combustíveis renováveis) e encriptação quântica (para protecção de informação,
produtos e pessoas).
Para quem não esteja a par desta terminologia técnica pode
pensar que estamos a descrever um mundo de ficção. Olhando à nossa volta parece
que vivemos ainda num mundo simples e acessível ao nosso entendimento. Mas a
verdade é que há grandes vagas de mudança a ocorrerem longe dos nossos olhos.
De facto, como refere James Canton, muitas das inovações que vão mudar o nosso
mundo ainda não foram captadas pelo "radar das empresas e dos
países", e muito menos pelo cidadão comum. Também aconteceu o mesmo nas
primeiras décadas da Revolução Industrial. E depois, quase de um dia para o
outro, a vida das pessoas mudou, os transportes sofreram um forte impulso,
surgiram milhares de fábricas e novos produtos, criaram-se novos empregos e
escolas para um mundo novo e quase desconhecido. Nós estamos num estádio
similar. Só que agora podemos ter a certeza de que as mudanças vão ser muito
maiores.
E isto faz-nos regressar ao tema inicial: a informação, o
conhecimento e a inteligência, isto é, o capital intelectual; algo que cada um
de nós possui e que pode (e deve), obviamente, aumentar. A nova sociedade (da
Informação, do Conhecimento, da Inteligência) exige capital humano talentoso e
especializado, gente com "cabeça", inovadora e autónoma. É que no
futuro próximo os empregos exigirão capacidades ainda mais avançadas, mais
instrução e formação mais sofisticada.
Segundo o governo norte-americano mais de 75% dos actuais
empregados dos Estados Unidos vão necessitar de receber nova formação para
poderem manter os seus empregos. Estima-se que, dentro de 8 anos, cerca de 80%
de todos os empregos exigirão algum tipo de formação superior. Problema (para
os americanos e não só): as escolas não estão a preparar adequadamente a futura
força laboral para competir na economia global. Este é o maior desafio do
ensino nos próximos tempos. Nos Estados Unidos e não só, obviamente.
Bibliografia:
Canton, J. The Extreme Future, IGF, 2006
Devlin, K. Info-Senso, Livros do Brasil, 1999
DeMarco, T.
Human Capital, Unmasked, NYT, 1996
Stewart, T.A., Capital Intelectual, Sílabo,1999