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INTELIGÊNCIA CIENTÍFICA E IMORTALIDADE

No filme "Transcendence - a nova inteligência" um cientista, tendo sido assassinado, consegue manter viva e expandir a sua mente através de um artifício que muitos cientistas não dizem ser de todo impossível de vir a acontecer no futuro.

Antes de morrer, devido aos ferimentos de um atentado contra si, os colegas (neurocientistas) ligam o seu cérebro a um potente computador e retiram toda a informação guardada na sua memória, não apenas conhecimentos mas também tudo a respeito do seu passado, da sua vida e de si mesmo (a sua autoconsciência). E, assim, embora o corpo tivesse morrido, a mente manteve-se viva no mundo da realidade virtual.

Embora esta seja mais uma história de ficção científica, um pouco semelhante a outras do género, uma nova geração de neurocientistas, matemáticos, engenheiros, biólogos e físicos que têm vindo a dedicar-se à chamada inteligência artificial e ao estudo e desenvolvimento das novas tecnologias da computação acredita que, mais cedo ou mais tarde, tal artifício - guardar os nossos dados e atividades mentais num sistema informático de alta capacidade - será uma realidade, tornando-nos, de certa forma, imortais. Se isso acontecer estaremos diante de uma nova e derradeira fase da humanidade.

A verdade é que as nossas palavras e imagens pessoais já estão espalhadas pelo mundo através da internet. Estão guardadas no que se designou chamar "a núvem" ("núvem de informação" onde eu e você estamos) e que nos liga a todos através de sistemas que já fazem parte do nosso quotidiano como a internet (através da qual estamos agora aqui no "facebook" e não só).

Imagine você, antes de seu corpo falecer, decidir manter sua mente viva dentro de um computador. Mais: imagine que sua mente - que é você, com todas suas capacidades de memória, pensamento, inteligência e conhecimentos - aproveita a computação para continuar a viver e a desenvolver-se, interagindo com a família, os amigos e até trabalhando em algum tipo de teletrabalho. Você se torna numa espécie de "software" potentíssimo, vivendo num mundo artificial feito de silício (componente usado no fabrico de computadores e outros aparelhos eletrónicos).

Do filme: TRANSCENDENCE - A NOVA INTELIGÊNCIA
No filme "Transcendence" o protagonista aparece nos monitores usando a figura animada do seu rosto como se estivesse usando o "Skype" e fala com quem está à sua frente (veja foto). A coisa torna-se complicada quando a mente dele adquire um poder extraordinário. Ele "viaja" por todo o mundo digital usando as redes da internet.

Segundo os cientistas, isto pode acontecer em pouco menos de 50 a 100 anos se não se estabelecerem regras que impeçam a inteligência científica de ir além do que a ética e a moral considerem aceitável para proteção da própria humanidade.

Imagine podermos continuar vivos transferindo a nossa mente para dentro de computadores especiais. Andaríamos por aqui, eternamente (ou temporariamente), num mundo real mas de outra natureza, aquela a que chamamos "virtual" mas que terá, qualquer dia, uma outra designação.

Verdade seja dita. Já estivemos mais longe desta ficção. A mente é energia e informação fornecidas pelo cérebro/corpo. É por isso que, atualmente, já é possível escrever num computador apenas usando o pensamento. Mais: também se consegue fazer mover um corpo artificial introduzindo uma pessoa tetraplégica dentro de uma espécie de "armadura" permitindo que ela se erga e se movimente de pé.

É por isso que o neurocientista Miguel Nicolelis, que escreveu um livro sobre as suas experiências nesta área, escolheu para título esta espécie de aviso: "Muito Além do Nosso Eu". É isso mesmo, o título diz tudo.
Com tais possibilidades em aberto estamos pois no limiar de um novo mundo com espantosas e inacreditáveis possibilidades.

Mesmo receando falar-se em "imortalidade" é de tal matéria que se trata. Só que esta será uma imortalidade diferente de qualquer outra até aqui imaginada. É uma imortalidade mental e espiritual efetiva, visível, pois usaremos um imenso cérebro artificial para continuarmos vivos e participando na vida (lembremo-nos que a medicina apenas garante que uma pessoa está morta quando o seu cérebro deixa de trabalhar). Como será depois se o que está no cérebro biológico passar para um cérebro tecnológico? E, mais arrojado ainda, e se se conseguir criar cérebros biológicos a partir de moderna tecnologia dando nova vida a um cérebro doente ou envelhecido?

Os mais céticos que se recordem que a maioria dos objetos eletrónicos atuais (como os computadores que participam nos comandos dos grandes aviões e "dão vida" a muitos outros aparelhos, incluindo próteses) seriam considerados pura e louca ficção científica há apenas algumas décadas. Hoje, essa tecnologia está entre nós e já não prescindimos dela. Mais: ela continua a evoluir e rapidamente.

Veja só: em 2011, cientistas da Universidade Wake Forest e da Universidade do Sul da Califórnia conseguiram captar e gravar uma memória de um rato e guardá-la digitalmente num computador. Uma data histórica das neurociências!