Bem-vindo ao blogue do meu PROGRAMA EVOLUÇÃO E MUDANÇA

SIGA-ME NO FACEBOOK

Conheça também o meu face "Mais Saúde e Longevidade"

ESTAR OU SER CONSCIENTE DE SI?

EU sou EU? Descobri esta pergunta num texto de Nicholas Humphrey, psicólogo, doutorado em Fisiologia, autor de vários livros sendo um deles "A História da Mente" (1992) a quem o conhecido e controverso filósofo Daniel C. Dennett "acusa" de ser um "cientista romântico".

Voltemos ao tema da pergunta desta nota. E regressamos com outra pergunta de Nicholas: "Como podem um corpo e um cérebro humanos serem também uma mente humana?".

Para dar uma resposta convincente, Nicholas estudou vários anos. Repito: estudou vários anos. Estas coisas que nos parecem do senso comum são, porém, bastantes complexas e não podem ser resolvidas com uma resposta intuitiva que nada diz sob o ponto de vista da verdadeira Ciência.

A pergunta poderia ser respondida por filósofos, especialmente os que se dedicam ao estudo da mente. Mas, Nicholas é psicólogo e investigador. Desenvolveu uma teoria que chamou de "consciência reflexiva". Quando escreveu os livros Consciousness Regained (1983) e The Inner Eye (1986) o famoso biólogo evolucionista Richard Dawkins declarou, entusiasmado: "Acho que ele acertou em cheio! Temos por fim a resposta para uma grande questão: como evoluiu a consciência humana!".

Afinal, o próprio Nicholas verificou que estava ainda tudo por resolver. Diz ele que a consciência pode existir a níveis muito baixos, sem existir reflexão, como uma experiência do ser em bruto, a sensação do tempo presente e sensações primitivas como as proporcionadas pelos sentidos. Ou seja, pode-se ser consciente com um mínimo de informações sensoriais. Ele chama a isso o "momento espesso" da consciência. É o que acontece quando uma pessoa se sente viva e viva no momento presente sentindo o mundo à sua volta.

A questão que ele levanta é o da qualidade das sensações recebidas. São essas que permitem a sensação consciente. O seu trabalho em laboratório deu-lhe pistas. Estudou a preferência estética dos animais. Descobriu, por exemplo, que os macacos gostam do azul/verde forte, não apreciam o amarelo, o laranja e o vermelho e o azul acalma-os. Percebeu que os macacos são muito mais sensíeis às cores do que os seres humanos e que, por outro lado, são insensíveis aos sons musicais preferindo o silêncio.

Mais tarde propôs que os constituintes básicos da consciência são os sentimentos e as sensações em bruto (aproximando-se do que António Damásio defende). Para Nicholas a consciência é "a reação imediata do corpo aos estímulos". Já para o seu colega Daniel Dennett esses constituintes são as ideias, os juizos e as predisposições pelo que a consciência só ocorre depois da mente ter construído uma história e "ter feito um relatório".

Diz Nicholas: "Eis o meu modelo de realidade: eu sou eu. Estou a viver uma existência corporizada, no momento espesso do presente consciente" e cita um poema de E.E.Cummings:

"Como o sentir está primeiro
quem presta atenção
à sintaxe das coisas
nunca beijará inteiramente".

O biólogo Francisco Varela (já falecido) não achou a explicação de Nicholas muito convincente. Mas concordou que a ideia de usar a experiência direta - as sensações - para descrever os processos cerebrais da consciência foi muito esclarecedora. Para Varela o "sentido do Eu existe porque nos dá uma interface com o mundo". Embora a consciência do EU não exista como substância, ele acontece como resultado das permanentes interações com o mundo.

Quando perdemos a consciência o que acontece? Deixamos de interagir com o mundo. Quando esta interação reaparece, a consciência apodera-se de nós. Voltamos a estar conscientes. Tal como aconteceria com qualquer outro animal. Só que nós vamos mais longe do que os outros seres vivos: como temos uma autoconsciência (que Augusto Ciury chama de "consciência existencial") sabemos quem somos.

Mas ainda subsistem muitas dúvidas nesta matéria. Sabemos o que é a consciência e o que é a autoconsciência. Não temos, porém, ainda respostas para perguntas como as que o professor de biologia cognitiva e comportamental Christof Koch, do California Institute of Technology, lançou recentemente na revista Scientific American.

Diz ele que, apesar dos cientistas estarem a revelar a base material da mente consciente (usando recursos como a ciência da informação e a matemática!) falta ter certezas sobre questões como:

- um paciente gravemente doente pode estar consciente?
- um feto não tem ainda consciência?
- quando é que um recém-nascido adquire consciência?
- um cachorro tem autoconsciência como "ser pensante"?
- e quanto à internet, com seus milhões de milhões (bilhões) de computadores conetados, poderá um dia adquirir consciência?

Um dos atrativos da Ciência é levantar questões e lançar dúvidas mesmo sobre matérias dadas como adquiridas. As respostas sucedem-se umas às outras. Quanto mais forem, mais próximos ficamos da verdade. Mesmo sabendo que, pelo caminho, se cometem muitos erros. Mas vale mais isso do que mantermo-nos na ignorância, defendendo, por vezes, ideias absurdas e obscuras.

Nelson S Lima