A concretização da vontade - que a psicologia associa à
motivação - não é coisa fácil, por vezes. Ter vontade é uma dimensão mais
complexa do que parece. Filósofos como Schopenhauer, Kant e Nietzsche
dedicaram-lhe muita atenção.
No essencial, a vontade é uma energia mental direcionada
para algo. Às vezes é instintiva. Outras vezes, intencional e consciente. A
instintiva está frequentemente ligada às estratégias de sobrevivência (a
vontade de comer, por exemplo). A intencional pertence aos domínios do desejo e
da necessidade.
A vontade só se cumpre através de estratégias. Ela exige
processos cognitivos como analisar, optar e decidir. Mas isso é apenas o começo
pois a vontade pode morrer antes mesmo de se cumprir.
A pessoa pode ter "vontade de" mas falta-lhe algo
mais: podem ser recursos, falta de oportunidade e também energia emocional
suficiente para dar o passo seguinte. E as coisas também não terminam aqui pois
a vontade está relacionada com valores, hábitos, crenças, princípios e até
normas socioculturais da pessoa.
Embora a "força de vontade" tenha algo de
biopsicológico (o temperamento tem aqui uma palavra a dizer pois o temperamento
é a estrutura biológica da personalidade) e, por isso, esteja dependente da
nossa natureza emocional (o indivíduo apático, por exemplo, tem quase ausente
essa tal "força de vontade" enquanto o impulsivo perde-se com
sucessivas "vontades de" que vai abandonando por perda de motivação)
é algo que também pode ser aprendido se a desenvolvermos como um hábito.
Nos primeiros anos de educação podemos (como pais ou como
professores) ajudar as crianças a desenvolverem a capacidade de lidar com
"desejos", "motivações" e "escolhas".
As nossas crianças têm hoje em dia quase tudo aquilo que
querem. Isso é errado. Não desenvolve nelas a "vontade". Elas querem
e elas recebem. Deveriam aprender a assumir suas vontades (brincar, estudar,
etc.) e aprender a não desistir à mínima contrariedade.
Se isso não acontecer poderão tornar-se adultos sem grande
força de vontade para superarem metas e objetivos. Deixarão de desenvolver a
capacidade de iniciativa e de empreendedorismo, tão necessárias no mundo atual
e futuro.
Os pais têm, nesse capítulo, um papel decisivo. Uma vida
familiar organizada, com objetivos, uma disciplina flexível, planos e projetos
pelos quais todos lutem irmanados num espírito de entreajuda é uma forma
acessível de desenvolver a "força de vontade" e também o carácter.
Nelson S Lima
Texto do meu livro "Evolução e Mudança"