Chama-se "túnel" ao processo de adesão
incondicional a uma causa de tal forma que passamos a fazer parte de um mundo
fechado e por vezes isolado com as suas regras, princípios, normas e obrigações
e com as quais nos identificamos.
A entrada num desses "túneis" obriga-nos a despir
o nosso ego e até perder um pouco da nossa identidade. Passamos a ter um
número, uma alcunha ou qualquer outra identificação e a fazer parte de um
grupo, uma seita, uma elite ou algo parecido. Entramos numa missão e
tornamos-nos numa simples célula de um tecido maior onde as leis são muito
próprias e inquestionáveis para manter a coesão do "grupo".
Nesta fase, entram em cena os rituais, hinos, cânticos,
bandeiras e outros símbolos, obrigações e muito especialmente uma dedicação
leal, indiscutível e insuspeita à causa. O transe hipnótico está muitas vezes
presente.
A característica central do efeito de "túnel" é
que ele separa os seus membros do mundo "exterior", libertando-os das
amarras sociais em que estavam inseridos (familiares, amigos, etc.) e
colocando-os numa posição de abnegação e subserviência aos ideais do grupo. As
"deserções" são muitas vezes punidas, nos casos de grupos
extremistas, com a morte.
Ao longo da história humana sempre existiu este efeito de
"túnel" porque desde cedo se formaram organizações em torno das mais
diversas causas. Esse tipo de organizações continua a proliferar, por vezes de
forma secreta. O recrutamento faz-se hoje de forma mais direta e a internet é,
por exemplo, um meio de captação. Muitos jovens aderem a "grupos" sem
saberem que aquilo que buscam vai empurrá-los para um "túnel" que os
engolirá como um "buraco negro".
Se há pessoas que sabem perfeitamente a que grupo ou causa
estão a aderir, muitas outras, à procura de um abrigo para as suas carências e
o seu isolamento social, acabam por ser apanhadas na rede como peixe indefeso.
Entrarão no "túnel" e lá ficarão por tempo indeterminado. Uns
sentir-se-ão felizes e integrados na disciplina e no espírito de missão a que
aderiram. Outros talvez descubram, tarde demais, que o "túnel" é
escorregadio e não permite voltar atrás. E que estavam (ou foram) enganados!
Nelson S Lima