Aprendi a ler na escola do Estado Novo (anos 50 e 60),
acompanhei a escola de meus filhos mais velhos (anos 70 e 80), observei a
escola de meus filhos mais novos (de 1997 até ao momento) e estive em mais 200
escolas onde dirigi workshops, seminários e sessões de esclarecimento para
professores do ensino público e privado (a partir de 2002 e até muito
recentemente).
Não vou criticar nada neste breve trecho. Venho aqui apenas
defender uma educação para a Sociedade do Conhecimento, esta em que vivemos e
que é dominada pelo "ciberespaço" de que faz parte a World Wide Web,
essa imensa teia de ligações executadas na internet - o maior conglomerado de
redes de comunicações à escala mundial. Ciberespaço significa o espaço virtual
para a comunicação por meio de tecnologias de informação.
Temos pois o espaço físico onde nos movimentamos (o mundo
das pessoas, dos objetos, das ruas, das cidades e das nações) e o espaço
virtual (feito de vivências e comunicações não presenciais e não tácteis como
acontece na internet).
Nós já estamos (agora mesmo aqui na internet) nesse mundo de
transição mas as crianças e os adolescentes de hoje vão ter de viver num
universo muito mais multidisciplinar, multifocal, de intensas e constantes
comunicações, em que as ligações virtuais ocuparão um lugar de destaque.
Aliás,
este é um dos motivos porque o mercado de trabalho está também em ruptura com o
passado e gera desemprego. Os computadores estão por todo o lado, incluindo nos
nossos carros; há profissões em queda irreversível e há novos modos de produzir
como acontece com o teletrabalho (é o meu caso).
Numa sociedade que tende para a diversidade (e não para a
uniformização como muitos acusam) e a complexidade levanta-se uma pergunta: COMO
DEVE SER A EDUCAÇÃO perante estes novos cenários de mundivivências?
Não me digam que aquilo que é preciso é "saber vários
idiomas" pois não é por aí que se resolve a educação. O mundo é agora
feito de outros problemas que a globalização criou (globalização que começou há
muitos milhares de anos).
Depois da invenção do fogo, dos transportes, da escrita, da
revolução industrial e do computador (que representaram outras tantas mudanças
de paradigma) eis-nos perante novos desafios intelectuais, sociais, económicos,
antropológicos, filosóficos e psicológicos.
A sociedade está finalmente unida em torno de um elo comum e
que começa a fazer sentido: o factor "humanidade global", feita de
gente planetária (como diz o filósofo P. Lévy), independentemente das linguas
faladas e das grandes diferenças culturais e que cada vez mais está à distância
do teclado de um computador ou de um telemóvel (celular) para se comunicar e
trocar ideias, saberes e afetos.
PRECISAMOS de uma educação que compreenda que a sociedade,
nesse capítulo, está mais adiantada do que nos parece. E a educação - cujos
efeitos se fazem sentir anos depois e não tanto no imediato - deverá SER
REVISTA para revelar aos nossos filhos o futuro (que já está aqui) e as suas
múltiplas possibilidades.
Mantê-los aprisionados num sistema que tem mais de
tradicional e conservador do que futurista é condená-los ao atraso face a
outras sociedades onde os alunos têm do mundo uma visão mais completa e
realista.
O assunto fica em aberto....
Nelson S Lima