Lembro-me de, quando era criança, acreditar que iria viver
muitos anos porque achava a vida um processo muito interessante, merecedor de
tempo suficiente para ser apreciado. Penso que essa minha esperança se devia ao
facto de sempre ter vivido com meus avós e ainda por constar na família que uma
minha trisavó teria chegado aos 120 anos de idade.
Talvez por isso eu viria a interessar-me por todas as
ciências que direta ou indiretamente estudam o processo do envelhecimento e da
longevidade - temas que abordo com alguma frequência no facebook
(nelson.s.lima).
TEMPO DE VIVER MAIS
Com a melhoria geral da qualidade de vida nos últimos 100
anos, a esperança de vida humana subiu para valores nunca antes conhecidos. O
número de idosos centenários e até supercentenários (mais de 110 anos) está
também a aumentar em alguns países.
Esta capacidade de se poder viver mais tempo ainda é um dado
frágil se bem que também o número de idosos ativos e saudáveis esteja a
crescer. Os "truques" são simples e não passam de 3 ou 4 os
fatores-chave que podem ser controlados, sendo um deles uma alimentação
adequada.
Mas os cientistas já não se contentam com isso e muitos
biólogos procuram entender os mecanismos do envelhecimento estudando não apenas
os idosos excepcionais mas os animais que praticamente são imortais ou quase
(pelo menos quando comparados connosco).
Atualmente são conhecidos alguns que vivem imensos anos, por
vezes sem mostrarem sinais de envelhecimento, o que não deixa de surpreender.
O cardiologista e nutricionista francês Frédéric Saldmann,
autor de vários livros sobre o assunto, revela alguns pequenos animais que se
destacam pela sua resistência ao envelhecimento ou pela capacidade de viverem
centenas de anos (existem outros animais, como algumas espécies de tartarugas,
mas aqui são apenas considerados os “excecpionais”, uma classe à parte como
poderão constatar).
São eles:
- o rato-toupeira africano que consegue viver 30 anos
(o que equivale a 600 anos de vida humana) e que resiste a tumores malignos e a
doenças cardíacas;
- a rã "sylvatica" do extremo-norte do Canadá que é
capaz de sobreviver completamente congelada por longos períodos (o seu corpo
cria um tipo de gel natural que a protege);
- alguns tipos de medusas que
conseguem o extraordinário feito de rejuvenescer após cada reprodução
mantendo-se imortais;
- o molusco "arctica islandica" (foi encontrado
um exemplar com 405 anos de idade) e, por fim...
- o minúsculo "urso de
água" que consegue resistir a temperaturas extremas como 250 graus
negativos ou 150 graus positivos e mesmo a fortes radiações (crê-se que este
animal terá chegado à Terra num meteorito, o que abriu já uma nova linha de
investigação sobre vida extraterrestre).
TEMPO DE VIVER MELHOR
O animal mais interessante para a compreensão do processo da
longevidade e da imortalidade é o das medusas da espécie “turritopsis
nutrícula” originárias dos mares das Caraíbas e que retomam a juventude após se
reproduzirem. O que se passa com esse animal é ainda um mistério para a
ciência. Como é que ele recupera de forma rápida a sua anterior juventude e
assim se mantém imortal colonizando as águas profundas de todos os oceanos?
Existem várias teorias para além da curiosidade natural que
este caso suscita. É óbvio que este molusco e os outros animais nada têm de
semelhança com o ser humano e nada permite que da sua longa resistência e
longevidade se possam tirar “lições” para o nosso próprio processo de
envelhecimento. Seja como for, estes autênticos “fenómenos da natureza” abrem
as portas para o estudo do envelhecimento, da longevidade e da imortalidade a
vários níveis.
Relatos histórico-religiosos, embora não consistentes devido
à falta de dados seguros, falam de alguns seres humanos que terão vivido
centenas de anos. Abraão é um deles. Estaremos a entrar no campo da mitologia
ou da pura especulação, mas há quem, na ciência, não ponha completamente de parte
a hipótese da longevidade poder ter sido uma possibilidade em alguns redutos da
humanidade em tempos recuados. O futuro talvez nos traga as respostas que
faltam, incluindo a sua negação.
O médico Frédéric Saldmann que, como digo acima, faz
investigação nesta área (e chamo a atenção que não é único) lembra, num artigo
do número especial da Sciences et Avenir (Janeiro 2016), que em 1932, os mais
respeitáveis cientistas garantiam que o homem nunca conseguiria chegar à Lua
devido à força de gravidade da Terra. Todos sabemos como estavam longe da
verdade.
NUNCA SE DIGA NUNCA
Ciência e descoberta andam de mãos dadas. A curiosidade e a
motivação sempre foram os motores do desenvolvimento humano. E também se
aplicam à longevidade.
As pessoas curiosas de saber e que perseguem propósitos bem
definidos costumam envelhecer mais lentamente e com mais saúde, vencendo
doenças e fragilidades que normalmente surgem com o avançar dos anos.
Há quem consiga, sem sombra de dúvida, retardar o processo
do envelhecimento. Isso é um facto indesmentível pois os exemplos abundam e
cada vez em maior número. Assim sendo, é lógico que se continue a investigar
não apenas o envelhecimento humano como aquilo que se passa com outros seres
vivos, incluindo aqueles que guardam o segredo da longa vida e até da
imortalidade.
Nelson S. Lima