Em boa verdade, não. Por isso é que há muitos idosos com uma
mente inegavelmente jovem e muita gente nova mentalmente envelhecida. Pode
parecer um exagero, até mesmo uma impossibilidade, mas não é. Mais: não se
trata de uma fantasia mas de uma constatação que os estudos científicos têm
vindo a confirmar sucessivamente.
Isto é muito interessante porque a mente deve ser daquelas
poucas coisas do Universo que, com o avançar do tempo, em vez de envelhecer
revela capacidade para se manter jovem, parecendo contrariar as leis da
Natureza e da Vida.
Sabemos que, com o avançar dos anos, o corpo – onde se
inclui o cérebro – vai sentindo os efeitos da chamada entropia (uma importante
lei da Física que tem a ver com o desgaste e a perda de energia causada pelo
tempo e por outros fatores nocivos como certos estilos de vida). É o que
acontece aos diferentes órgãos do nosso corpo que, cada um no seu ritmo e ao
seu jeito, vão perdendo o vigor da juventude e envelhecendo. Aliás, é um
processo que começa bem cedo na vida mas de que as pessoas só tomam consciência
sobretudo a partir da meia-idade.
Voltando ao assunto da mente. Quer se queira quer não - e
por muito que se pretenda acreditar que o cérebro e a mente são domínios
distintos de uma mesma realidade - uma coisa é um neurónio ou uma rede de
neurónios (observáveis, mensuráveis, etc.) e outra coisa, bem diferente, é um
pensamento, uma ideia ou uma recordação. Os neurónios são células e fazem parte
do cérebro; os pensamentos, as ideias e as recordações são já do domínio da
psique, ainda que esta apenas seja possível graças à atividade do cérebro. O
cérebro é um órgão mas a psique (ou mente) é um campo de energia e informação
(produzido por aquele).
Aqui chegados já começamos a vislumbrar a natureza da mente.
Esta é estruturada e dinamizada pela experiência, os estímulos e as
aprendizagens obtidas em cada instante da vida. Assim, quanto mais anos de vida
tiver a nossa mente, mais experiência e mais informações podemos acolher, gerir
e acumular mesmo que o cérebro vá perdendo neurónios que não escapam à tal
entropia (a qual conduz à chamada morte neuronal, ou seja, a morte gradual dos
neurónios que pode atingir 10% dos 100 mil milhões que formam os cérebros
adultos).
Levar uma vida saudável (ativa, estimulante e criativa)
revigora a mente, abre as portas a novos saberes e garante a agilidade do
pensamento. Mesmo que o cérebro tenha 70, 80 ou 90 anos de idade, a mente da
pessoa idosa não tem que ficar prisioneira do calendário. Ela pode sempre
escapar à perda de vitalidade orgânica através do aprofundamento da sabedoria e
da utilização das diferentes aptidões e capacidades (novas aprendizagens,
saudáveis relações sociais, novas paixões e interesses, atividades produtivas,
etc.). É assim que se constrói o chamado “envelhecimento ótimo”.
As mais recentes investigações científicas garantem que uma
vida ativa e mentalmente produtiva também aumenta a longevidade. E isso
acontece porque o que fizermos com as nossas faculdades mentais tem influência
direta no estado do organismo. É por isso que a idade cronológica (aquela que
celebramos em cada aniversário) não tem de forçosamente corresponder à idade
mental.
Nelson S Lima