É durante a infância que nos livramos de muitas doenças na vida adulta! |
Com o desenvolvimento da sociedade industrial e a ampliação do
tempo de atividade, os seres humanos passaram a andar, em geral, descoordenados
do seu relógio biológico. E então temos atualmente uma sociedade ensonada e
cansada na maior parte dos dias.
Viajamos de noite, divertimo-nos de noite, dormimos de
dia, trocamos as horas de comer e sofremos de "jet-lag" (que
significa uma descompensação horária originando uma extrema fadiga decorrente de
alterações no ritmo circadiano). Com isto estamos, muitas vezes, a submeter o
nosso organismo a um stress tal que pode fazer perigar a nossa vida.
Como já vimos, cada sistema do nosso
organismo tem o seu ritmo biológico. Num organismo saudável o conjunto de
ritmos estão coordenados, o que permite que o corpo responda com eficácia a
todas as variações ambientais. Uma boa noite de sono é reparadora e permite um
dia em que o desempenho é mais elevado do que num dia em que dormimos pouco.
Mesmo dormindo de dia a recuperação nunca é total porque o sono diurno é
diferente do sono noturno.
Os efeitos cognitivos do ritmo biológico são
também notáveis. Por exemplo, a eficácia da concentração e da memória não
dependem apenas da motivação e do empenho mas também das horas do dia. É depois das 10 da manhã que a aprendizagem é
mais fácil. À tarde funciona melhor a memória de longo prazo. Em alguns
sujeitos é por volta das 20 horas que o estudar é mais produtivo.
De facto, a concentração aumenta lentamente
ao longo do dia e diminui depois das 21 horas atingindo o seu ponto mais baixo
entre as 3 e as 5 horas da manhã - precisamente o período em que, comparativamente
ao que se passa de dia, há maior probabilidade de acidentes rodoviários.
Também sabemos que a concentração no
sangue de várias hormonas como o
cortisol, a testosterona, a adrenalina e a noradrenalina é menor precisamente
nos picos de fadiga.
Por sua vez, a ingestão de tranquilizantes ou
de estimulantes conforme a hora do dia vai também alterar o ritmo biológico do
cérebro e os efeitos dos químicos ingeridos. Há situações em que ficamos
próximos da toxidade máxima correndo perigo de vida sem darmos conta. Será
necessária uma educação médica sobre a matéria para que se consiga obter a
melhor conjugação entre a ingestão de alimentos e medicamentos e as horas de
receptividade ideal do organismo.
Concluindo, a toda a hora o nosso metabolismo
apresenta uma dinâmica de acordo com o relógio da vida. Não há ainda aparelhos
que permitam dizer-nos com exatidão quais as horas do dia, do mês e do ano em
que estamos mais aptos a lidar com os diferentes componentes da vida. Embora
saibamos que o Inverno "mata" mais do que o Verão ou que o álcool de
manhã é mais tóxico para o organismo do que de madrugada (embora de noite tenha
um efeito mais perigoso no cérebro reduzindo a capacidade de reflexos) o resto
é ainda uma grande incógnita tanto mais que cada pessoa tem caraterísticas
individuais únicas.
A minha sugestão é que adotemos tanto quanto
possível um estilo de vida que nos aproximem dos ritmos e dos ambientes
naturais. Somos seres vivos e não máquinas. Estamos sujeitos às leis da vida e
não às da morte mas frequentemente estamos mais perto da condenação à finitude
do que da energia que nos fornece vitalidade. Neste capítulo, o
auto-conhecimento é de uma importância vital!
Nelson
S Lima