Existem muitas coisas na vida que, já estando registadas no
cérebro, não devemos interferir pois acabaremos por sabotá-las. Muitas outras
merecem que façamos uma reavaliação sob pena de nos deixarmos ultrapassar por
acontecimentos novos e, num instante, ficarmos confrontados com mais problemas.
Existem "forças" no cérebro que estão em
permanente confronto. As mais resistentes são as antigas, têm centenas de
milhões de anos de evolução e estão na base do cérebro (os instintos são um bom
exemplo). As mais frágeis estão no topo do cérebro, têm apenas algumas centenas
de milhares de anos, no máximo um milhão de anos, quando surgiram os primeiros
hominídeos de quem descendemos.
Quando enfrentamos problemas novos a razão (resultante do
cérebro superior) pode ditar-nos uma decisão mas os registos antigos (inscritos
nas zonas baixas do cérebro) podem tentar contrariar-nos. É por isso que a
publicidade é direcionada para as zonas antigas e inconscientes do cérebro pois
é mais suscetível de nos influenciar do que o pensamento crítico e racional. É
assim que acontecem as compras e as decisões impensadas, feitas por impulsos
inconscientes e destituídas do filtro da razão. Depois do neuromarketing surgiu agora o paleomarketing que ensina os vendedores a conhecerem os nossos desejos instintivos!
Se o cérebro trabalha assim, devemos então aprender a
desenvolver o juizo crítico, o pensamento elevado e a atenção concentrada. Mas
- e nestas coisas há sempre um "mas" - devemos ter também em
consideração os limites da nossa própria consciência. É que a consciência nem sempre
nos revela a realidade total mas apenas fragmentos ou, pior ainda, ilusões
cognitivas e erros de percepção (veja-se como os bons ilusionistas nos
conseguem "enganar").
Viver em sociedades complexas como as nossas está a exigir
cada vez mais capacidades das pessoas mas parece que estamos a claudicar, a
sermos incapazes de manter o equilíbrio ideal (vejam-se os comportamentos das
pessoas, cada vez mais stressadas, ansiosas, aceleradas, inseguras, viciadas
num série crescente de defesas).
Quem disse que a vida é fácil, enganou-se. Não é fácil. É um
permanente desafio à nossa resistência (física, emocional e cognitiva).
Nelson S Lima