Estou um bocado farto das receitas de gurus que nos prometem códigos como "Os 7 princípios da
realização pessoal", "Os 10 passos para a felicidade",
"Como emagrecer em 30 dias" ou "Os 50 conhecimentos cruciais para
viver melhor". Assemelham-se aos livros de dietas, que estão agora na moda.
É óbvio que muitas destas enumerações são produto de uma
estratégia editorial. O cérebro humano gosta de certezas para acreditar. E não
há nada melhor do que quantificar. Dá-nos uma ilusória perceção do mundo mas
também gera uma grande confusão nas mentes menos habilitadas a jogar com
números e cálculos.
Assim, a "qualidade de vida" parece depender do
cumprimento do número exato de "leis", "regras" e
"códigos". Isso empurra muitas pessoas para a necessidade de se
preocuparem com o acessório esquecendo ou secundarizando o essencial. Esta
situação conduz-nos a viver com aparências e a lidar com enganos.
É ERRADO QUANTIFICAR A VIDA
Imagine que você quer uma ajuda para ser feliz. Ora bem. Um
grande número de pessoas preferirá um livro que lhes garanta, por exemplo, 20
pistas e em pouco tempo (há autores que já garantem mudanças revolucionárias em
10 minutos!!!). Não escolherá tão facilmente um título vago mesmo que este lhe
prometa alguma coisa.
Vejam este exemplo: uma revista brasileira colocou na capa o
seguinte título "Tudo o que sabemos sobre FELICIDADE está errado!".
Tive a curiosidade de saber onde eu também, supostamente, estaria enganado.
Procurei o artigo e eis que, no interior, tinha o título "A felicidade
existe" e apresenta-o usando 9 dicas para lá chegarmos. Ou seja, aquelas dicas é que estariam certas e todas as outras erradas.
Pois eu não tenho assim tantas certezas quanto ao número de métodos, estratégias e dicas que me podem garantir mais saúde ou ser mais feliz.
É que nas questões da vida e do bem viver os números não são assim tão
decisivos.
Se formos contar os fatores que nos podem fazer felizes
poderemos perder-nos pois é tudo muito complexo e feito de conexões impossíveis
de enumerar. E aquilo que nos faz feliz é muito personalizado. O que faz feliz uma pessoa pode não satisfazer quaisquer outras. Até porque é também um assunto cultural. E então são inumeráveis as coisas que podem fazer as pessoas felizes. E mais ainda, quando analizamos este tipo de matérias, temos de levar em consideração os critérios que aplicamos. E isso pode fazer toda a diferença.
Sermos felizes ou elevarmos a qualidade de vida depende, em
boa medida, da nossa atitude, das nossas possibilidades, das nossas
oportunidades e até um pouco da nossa inteligência. Mas não me perguntem qual é
- tudo somado - o número fantástico, milagroso e atrativo que isso daria (se eu
lhe dissesse que para se ser feliz talvez precisaremos de contar mais de 100
fatores você muito provavelmente desistiria de continuar!). A tarefa parecer-lhe-ia
muito trabalhosa. E seria mesmo.
E, para finalizar, cito o notável pensador francês Edgar Morin: "a felicidade é algo que depende de uma multiplicidade de condições e (...) o que causa a felicidade é frágil".
E, para finalizar, cito o notável pensador francês Edgar Morin: "a felicidade é algo que depende de uma multiplicidade de condições e (...) o que causa a felicidade é frágil".
Nelson S Lima