Mais do que nunca, vivemos tempos conturbados e cheios
de surpresas. O ambiente da nossa vida tornou-se ambíguo e indeterminado, e o
futuro passou a fazer parte das nossas preocupações de uma forma mais intensa.
Deparamo-nos cada vez mais com o factor
"incerteza". E, mais ainda, os "acasos" - eventos
imprevisíveis e até improváveis - assumiram proporções nunca antes alcançadas.
Para piorar o cenário os estudiosos afirmam que a sociedade humana tende para uma complexidade
cada vez maior.
O ritmo e a variedade da vida estão intrinsecamente ligados
ao conceito de transitoriedade, que neste contexto quer dizer rotatividade
entre as relações que estabelecemos na vida, um rompimento ao apego das
conexões do passado e a efemeridade das situações emergentes. Um número
considerável de antigas "certezas" da vida passaram a ser passageiras
e efémeras.
Temos então uma sociedade marcada pela transitoriedade, pela
diversidade e pelas novidade.
O caos de adaptabilidade ocorre quando esses fatores
convergem criando uma ambiência tão efémera, tão estranha e tão complexa que
passou a ameaçar milhões de seres humanos com uma sensação de "fracasso de
adaptação".
COMO VIVER NA MUDANÇA
A resposta ao "choque do futuro" não é a
não-mudança das coisas, mas uma diferente espécie de mudança. Deve-se, por conseguinte,
experimentar uma série nova de medidas reguladoras de mudanças, inventando e
abandonando esses meios, à medida que avançamos no nosso projeto de vida.
Problemas novos exigem soluções novas.
Uma das consequências mais sérias das mudanças que o mundo
tem vivido é o bombardeamento dos nossos sentidos, o excesso de estimulação. Se
a sobrestimulação sensorial aumentar deformamos a nossa perceção da realidade.
A sobrestimulação cognitiva interfere com a nossa capacidade de pensar e de
sentir. E tomamos más decisões.
Quando as pessoas são lançadas em situações que mudam
depressa e irregularmente ou vivem num contexto rico de novidades, surpresas e
acasos, o comportamento racional pode ficar perturbado por desgaste emocional e
sensorial. É o que está a acontecer a milhões de pessoas em todo o mundo.
O que o futuro também traz de novo é a "aceleração da
mudança". No turbilhão dos acontecimentos que nos cercam resta o nosso
espaço de manobra que deverá focalizar-se mais no traçar objetivos do que
confiarmos em previsões e em planos a longo prazo.
Para melhor nos defendermos dos eventos aleatórios marcados
pela ambiguidade e a indeterminação do amanhã resta-nos a preparação e a
adaptação constante. Neste capítulo a aprendizagem de novos saberes e a aquisição
(ou a melhoria) de novas competências é fundamental.
A grande vantagem desta sociedade "radical" é que
ela também está cheia de possibilidades em aberto que deveremos procurar
insistentemente quando queremos mudanças
efetivas na nossa vida.
O viver, ao contrário do que alguns autores querem fazer
crer, não é uma ciência, e nem sempre está de acordo com a lógica. É mais um
saber criativo, uma arte das mais exigentes, sempre em mudança - ela própria!
Veja-se como cada vez mais as pessoas se socorrem de
astrólogos, magos e oráculos tentando encontrar respostas para as suas dúvidas,
incertezas e desconhecimentos. Não é de estranhar que até muitos líderes se
façam acompanhar de videntes lembrando tempos muito recuados quando faltava
informação que servisse de apoio à tomada de decisões.
O ACASO NA NOSSA VIDA
Muitos acontecimentos da vida (desde o Universo ao ser mais
simples que nele habite) são simplesmente obra do acaso, totalmente
imprevisíveis e inesperados. Não significa que cada "acaso" não tenha
uma causa. Nada aparece sem ter uma origem e esta mesmo resulta de uma sucessão
de acasos.
Com o aumento da complexidade da vida humana também aumenta
o número de acasos, em muitos dos quais nem reparamos e nem lhes damos
importância pois já intuímos que o "acaso" faz parte da vida.
Há quem prefira chamar-lhe "sorte" ou até
"destino". Esses termos não estão corretos pois trata-se de coisas
diferentes. A sorte pode ter vários significados e quanto ao destino faz pensar
que a vida está pré-determinada. Mas não é assim, embora muita gente acredite
nisso.
O "acaso" resulta da arbitrariedade. Um
acontecimento algures no passado e num qualquer local determina um ou mais
acontecimentos no presente e no futuro, e que influenciarão o percurso da nossa
vida. Entramos no campo do imprevisível.
O mais perigoso disto tudo é que, como o cérebro humano não
está preparado para lidar com a incerteza (ele procura sempre que acreditemos
na racionalidade e na lógica dos acontecimentos para nos sentirmos em
segurança), nós acabamos por correr demasiados riscos ao longo da vida. E só
com alguma sorte pelo meio escapamos até da autodestruição.
Mas uma nova visão está em curso: o acaso, a que nunca
poderemos fugir, pode ser nosso aliado. Pelo menos de forma mais segura do que
o habitual (em que simplesmente vivemos como que dependentes do acaso mesmo
quando tomamos decisões com base em muitas previsões e planos matematicamente
construídos). Nisso, verdade seja dita, somos muito irresponsáveis pois
confiamos em demasia naquilo em que acreditamos e esquecemo-nos que, à medida
que a vida vai seguindo o seu curso, vão ocorrer mudanças provocadas pelo
acaso.
ESTRATÉGIAS PARA VENCER A INCERTEZA
Gosto muito da palavra inglesa "chance", a qual
significa não apenas "sorte" e "acaso" como também
"oportunidade".
Tirar partido dos "acasos" da vida é uma boa
estratégia para vivermos. E isso exige uma certa ciência. Ou, se quisermos ser
mais rigorosos, uma boa dose de inteligência e perspicácia. Além, obviamente,
de uma mente aberta para as possibilidades e as oportunidades da vida.
Disse o grande sociólogo Edgar Morin que "o maior
contributo de conhecimento do século XX foi o "o conhecimento dos limites
do nosso conhecimento", o que - digo eu agora - nos faz viver ainda mais
nos territórios da incerteza.
Cerca de 70% dos estudantes universitários, sobretudo dos
cursos de humanidades, desistem ou mudam de curso por terem feito escolhas com
poucas certezas relativamente ao que os esperava. Ou seja, praticamente
escolhem ao "acaso" deixando que o futuro lhes troque as voltas.
Num mundo de futuro incerto temos ao nosso dispor duas
estratégias que se têm mostrado serem as melhores para a tomada de decisões. A
primeira é fazer "pequenos planos" em vez de grandes projetos tendo
em vista os objetivos a atingir. Quando
fazemos pequenos planos de cada vez, os riscos que corremos são muito menores
quando algo corre mal (é o que faz a Natureza: ela evolui lentamente). Sonhar
"alto", acreditar no futuro e dar grandes passos empurraram milhões
de pessoas para situações financeiras catastróficas porque estavam confiantes
em cenários onde não vislumbraram problemas.
A segunda estratégia é diversificar, isto é, apostar em mais
do que uma resposta. Se alguma escolha falhar restam outras. E se aplicarmos
simultaneamente a estratégia dos "pequenos passos" conseguimos
avançar com mais confiança mesmo que os inevitáveis acasos da vida nos tragam
surpresas desagradáveis.
Esta sabedoria milenar é atualmente de uma pertinência
inquestionável. Podemos, enfim, avançar na vida traçando objetivos e fazendo
pequenas conquistas de cada vez ao contrário de nos aventurarmos com grandes
planos, projetos e investimentos que, devido ao imprevisível, podem fazer desmoronar tudo aquilo que construímos e em
que acreditámos.
Se soubermos conviver com a possibilidade das incertezas e
dos acasos da vida acabamos por ser premiados bem mais vezes do que
esperávamos.